Polícia Federal investiga suposta cobrança de propina na CPI das Bets
Lobista é acusado de extorsão a empresários do setor de apostas esportivas online A Polícia Federal (PF) abriu uma investigação para apurar denúncias de supostos pedidos de propina feitos por Silvio Barbosa de Assis, conhecido lobista em Brasília, a empresários do setor de apostas esportivas online. Segundo apuração da Folha de S. Paulo, uma das vítimas é ligada ao cantor Gusttavo Lima. A CPI das Bets foi instalada no Senado em novembro para investigar a influência das apostas no orçamento das famílias e possíveis práticas de lavagem de dinheiro. De acordo com a reportagem, Silvio Assis já foi preso pela Polícia Federal em 2018 e responde a processo no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) por cobrança de propina em registros de sindicatos junto ao Ministério do Trabalho. Desta vez, é acusado de tentar extorquir R$ 50 milhões de um empresário para evitar sua convocação e possível indiciamento na CPI das Bets. Uma das vítimas, que preferiu não se identificar, relatou que foi procurada por Silvio no final de novembro em seu escritório, em Brasília. De acordo com essa fonte, o lobista teria afirmado possuir influência sobre senadores da comissão. Em resposta, Silvio negou as acusações, alegando estar trabalhando em um documentário sobre o setor de apostas. As denúncias também expuseram conexões políticas delicadas. A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), relatora da CPI das Bets, confirmou conhecer Silvio Assis há quatro anos e admitiu ter contratado sua irmã e seu genro para seu gabinete. “Dizer que meu nome tem sido usado para pedir propina a empresários é uma acusação muito séria e grave. Quem afirma isso tem o dever de apresentar provas”, disse a parlamentar, de acordo com a reportagem. A senadora afirmou ainda que comunicou o caso ao diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, e autorizou a quebra de seus sigilos fiscal, bancário e telemático. “Pedi também a realização de uma acareação entre os citados para esclarecer os fatos”, completou. As suspeitas geraram forte reação no Senado e ao menos quatro senadores teriam relatado o caso ao presidente da Casa Legislativa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Preocupado com a gravidade das denúncias, Pacheco solicitou agilidade nas investigações. “Uma denúncia dessa natureza compromete a imagem da instituição e de todos os parlamentares”, afirmou. O vice-presidente da CPI das Bets, senador Alessandro Vieira (MDB-SE), enviou um pedido formal à Procuradoria-Geral da República (PGR) para que o caso seja investigado. “Os potenciais fatos relatados merecem uma investigação imediata para que os responsáveis —públicos e privados— sejam responsabilizados”, declarou. A CPI das Bets foi aberta em 12 de novembro para investigar o impacto das apostas esportivas no orçamento das famílias brasileiras e possíveis esquemas de lavagem de dinheiro. Em pouco mais de um mês, a comissão realizou seis sessões, ouvindo três empresários do setor, delegados que conduzem investigações e representantes do governo federal, incluindo o presidente da Loterj, Hazenclever Lopes Cançado
Governo teve apoio do PL e dissidência do PT na PEC do corte de gasto
Em uma das votações mais desafiadoras de seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu aprovar, nesta quinta-feira (19), o texto-base da PEC do corte de gastos na Câmara dos Deputados. O placar, que registrou 344 votos favoráveis – acima dos 308 necessários –, incluiu o apoio de 18 deputados do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas revelou dissidências dentro do próprio PT, com três parlamentares votando contra a proposta. Entre os petistas contrários ao projeto, destacaram-se Rui Falcão, Natália Bonavides (RN) e Marcon (RS). Falcão já havia sinalizado previamente sua posição, tornando pública sua oposição ao texto. A PEC enfrentava resistência dentro da base governista, com partidos como União Brasil e PSD demonstrando insatisfação, além de um cenário político marcado por negociações intensas nos bastidores. A votação da PEC chegou a ser adiada devido ao risco de derrota, levando o governo a intensificar as negociações, incluindo a liberação de até R$ 5 milhões em emendas parlamentares. No centro das articulações estavam os partidos do centrão, União Brasil e PSD, vistos como determinantes para o avanço da proposta. Apesar de contar com três ministérios na Esplanada – Comunicações, Turismo e Integração e Desenvolvimento Regional –, o União Brasil demonstrou fraturas internas. Dos 59 deputados da sigla, 23 votaram contra a PEC, refletindo disputas internas e insatisfações com o governo. O líder do partido na Câmara, Elmar Nascimento (BA), enfrenta críticas dentro da bancada, especialmente após ser preterido na sucessão de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Casa. O PSD, por outro lado, mostrou maior alinhamento, com 34 de seus 44 deputados apoiando o texto. O líder do partido, Antônio Brito (BA), mobilizou a bancada e esteve no plenário pedindo votos favoráveis. Contudo, a sigla também expressou descontentamento, alegando falta de reconhecimento por parte do governo. A insatisfação está ligada ao histórico de apoio consistente do PSD a pautas do Executivo, incluindo cerca de 40 votos favoráveis em questões importantes até o momento. Embora o governo tenha conseguido superar os desafios e aprovar o texto-base da PEC, o resultado expôs fragilidades na articulação política do Planalto. Um líder do centrão avaliou que o desfecho só foi possível graças ao esforço das lideranças partidárias, afirmando que o Congresso “fez o trabalho de articulação que o governo não faz”. Além das disputas internas nos partidos da base, a votação revelou resistência de figuras como a deputada Duda Salabert (PDT-MG), vice-líder do governo, que votou contra a proposta. Para o PT e aliados, o apoio de parte do PL foi considerado uma vitória simbólica, já que o partido é tradicionalmente alinhado à oposição bolsonarista. No entanto, as dissidências internas no PT e em outros partidos da base destacaram os desafios que Lula enfrentará em futuras votações, especialmente em pautas de grande impacto econômico e político. Com a aprovação em primeiro turno, a PEC do corte de gastos avança, mas o cenário político aponta para negociações contínuas e ajustes na relação do Executivo com os partidos aliados, que já se articulam pensando nas próximas legislaturas e na composição da Câmara em 2025. A necessidade de um diálogo mais consistente com legendas como o PSD e o União Brasil será fundamental para garantir a estabilidade política e a implementação das políticas propostas pelo governo