Fontes do Planalto dizem que o presidente pediu o cargo – General era próximo de Bolsonaro (Marcos Corrêa/PR)
O general Fernando Azevedo e Silva não é mais ministro da Defesa do governo Bolsonaro. A saída foi confirmada na tarde desta segunda-feira (29), mesmo dia em que Ernesto Araújo pediu demissão do Ministério das Relações Exteriores.
A saída ocorre dois dias antes do aniversário de 57 anos do golpe militar de 31 de março de 1964, que estabeleceu uma ditadura durante 21 anos no Brasil. Na nota, o general afirma que no período em que esteve no governo, preservou “as Forças Armadas como instituições de Estado”.
“Agradeço ao Presidente da República, a quem dediquei total lealdade ao longo desses mais de dois anos, a oportunidade de ter servido ao país, como Ministro de Estado da Defesa”, diz nota oficial encaminhada pelo Ministério da Defesa.
Fernando Azevedo e Silva teve agenda oficial com o presidente Bolsonaro (sem partido) no começo desta tarde. Fontes do Planalto dizem que o presidente pediu o cargo. Outro militar deve assumir o posto.
“O meu reconhecimento e gratidão aos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, e suas respectivas forças, que nunca mediram esforços para atender às necessidades e emergências da população brasileira. Saio na certeza da missão cumprida”, afirma.
Golpe de 64
Então presidente da República, João Goulart foi deposto no dia 31 de março de 1964. O estopim para a sua retirada foi uma revolta na Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais, que reivindicavam melhores salários. Jango anistiou líderes presos por subversão de ordem, em discurso improvisado considerado subversivo, o que não foi visto com bons olhos pelo Congresso e pelas Forças Armadas. Em matéria publicada na edição de 31 de março, o Estado apontou que “A rebelião dos marinheiros e fuzileiros positivou, com uma clareza que desafia contestação, que a técnica foi rigidamente comunista”, além da “ostensiva infiltração comunista nas Forças Armadas”.
Na madrugada de 31 de março, tropas foram mobilizadas em Minas Gerais, estado sob o governo de José de Magalhães Pinto (UDN), um dos principais articuladores da mobilização. Seguiram para o Rio de Janeiro, enquanto o governador do estado da Guanabara, Carlos Lacerda (UDN), também se preparava para batalhar contra tropas favoráveis a Jango. A disputa nunca ocorreu. Em 1.º de abril, Jango saiu de Brasília em direção a Porto Alegre, último Estado a resistir contra o golpe. Seu próximo destino foi o exílio no Uruguai. Assim, o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, assumiu a Presidência interinamente por 15 dias, antes da Junta Militar chegar ao poder.
É comum atribuir ao político gaúcho Leonel Brizola um dos motivos pela ascensão do regime militar em 1964. Brizola era cunhado de Jango, que, desde sua posse, em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros, era visto como uma “ameaça comunista” ao País. Esse argumento quase impediu que Jango, eleito vice de Jânio, assumisse o cargo, como prevê a legislação. Ele estava em viagem oficial à China em meio à renúncia de Jânio.
Brizola rompeu relações com Jango em 1963, quando tentava se candidatar para o cargo no Ministério da Economia, em meio a uma crise econômica. Ele acreditava que o governo federal deveria se alinhar somente com partidos de esquerda, a fim de evitar radicalmente a mobilização dos militares, enquanto Jango tentava articular relações menos extremistas, com partidos não alinhados completamente à pauta da esquerda.
As declarações públicas de Brizola defendendo tanto uma revolução, quanto o fechamento do Congresso Nacional menos de um mês antes da derrubada de Jango, agravaram ainda mais a situação. Nos últimos dias de seu governo, João Goulart enfrentava forte pressão popular. Ele tentava mobilizar seus apoiadores para a aprovação de reformas “na lei ou na marra”, sendo acusado de tentar criar uma “república sindicalista”, ao defender a reforma agrária.
Também não foi vista com bons olhos a ida de Mazzilli a São Paulo no dia 31 de março. A viagem, segundo matéria do Estado, indicava “duplicidade do parlamento”, medida que poderia ser estabelecida após aprovação no Plenário da Câmara e do Senado. O presidente da Câmara tentava articular resistência do Congresso distante de Brasília, enquanto lideranças parlamentares falavam em resolver a crise em poucos dias.
Via Dom Total