No Parque Estadual da Lapa Grande Paulinho Ribeiro, Danilo Furtado acompanha o filho Gustavo, de 11 anos, em sua primeira jornada como observador de aves: “oportunidade de frisar a importância da contemplação da natureza como reflexo da beleza de Deus” (Fotos: Eduardo Gomes e Manoel de Freitas)
*Por Manoel Freitas
Escola de observadores – Um oásis a apenas 13 quilômetros do Centro de Montes Claros, o Parque Estadual da Lapa Grande Paulinho Ribeiro (Pelgpr), com 15.360 hectares, é uma das maiores unidades de conservação urbanas de proteção integral do Brasil. Criado em janeiro de 2006, recebe grande número de turistas em função da riqueza da avifauna.
São 232 espécies em bioma predominantemente de Cerrado, muitas delas raras, atraídas também pela abundância de água, pois a área possui mananciais que abastecem mais de 35% da população do município.
A riqueza da avifauna, considerada referência nacional, tornou o parque palco de um evento que reúne apaixonados por fotografar os animais. No último sábado (7), o Lapa Grande organizou “A Passarinhada” para contemplação de espécies em seu habitat natural.
A atividade, diz a gerente do parque, Aneliza Miranda, “é voltada não apenas aos fotógrafos profissionais, gestores ambientais e pesquisadores, mas principalmente a iniciantes, para estimular a observação de vida silvestre, registros científicos e a visitação pública consciente”.
O evento ocorre dentro da programação do Global Big Day 2022, que acontece em todo o mundo sempre em maio, quando observadores de aves se esforçam para registrar o maior número de espécies possível em 24 horas.
A iniciativa, acompanhada pelo jornal O NORTE, ocorre no momento em que o parque se consolida como referência nacional em observação de aves, estimulando o ecoturismo no Norte de Minas.
Para se ter uma ideia, de acordo com a gestora da unidade, as trilhas já foram percorridas por mais de 200 profissionais de várias partes do mundo.
Aliás, os números falam por si. Das 357 espécies catalogadas cientificamente em Montes Claros, nada menos do que 65% são encontradas nas matas do Parque Estadual da Lapa Grande Paulinho Ribeiro, “dados que o colocam entre os mais ricos em espécie no Brasil”.
Isso, de um total de 2.921 fotografias e cem sons, com destaque para algumas aves, entre as quais o Gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus), Tico-tico-do-são-francisco (Arremon franciscanus), Arapaçu-de-wagler (Lepidocolaptes wagleri), Picapauzinho-pintado (Picumnus pygmaeus), Arapaçu-beija-flor (Picumnus pygmaeus), Choca-barrada-do-nordeste (Thamnophilus capistratus), Arapaçu-beija-flor (Campylorhamphus trochilirostris), Pica-pau-dourado-escuro (Piculus chrysochloros), Estrelinha-preta (Synallaxis scutata), Bandoleta (Cypsnagra hirundinacea), Maria-preta-do-nordeste (Knipolegus franciscanus) e Piolhinho-do-grotão (Phyllomyias reiseri).
Para todas as idades
Nessa primeira edição da passarinhada, o jovem Gustavo Furtado, de 11 anos, também fez sua estreia. Ele era só alegria quando uma nova espécie era avistada. “Valeu muito a pena”, afirmou ao final da aventura, contando que gostou mais do Picapauzinho-pequeno, Pica-pau-de-Topete-vermelho, Pula-Pula e Choró-boi.
Gustavo estava acompanhado do pai, o analista ambiental do Ibama Danilo Furtado, já acostumado às belezas naturais da região. “Mas foi do meu filho a ideia de observar as aves”, explica ele, que há 15 anos trabalha no escritório regional do órgão com sede em Montes Claros, atuando na fiscalização do tráfico e criação de animais silvestres. “É uma satisfação muito grande acompanhar o Gustavo, porque ele está estudando isso, tanto em Geografia como em Ciência, a importância da contemplação da natureza como reflexo da beleza de Deus. Então, eu avalio como de grande importância seu primeiro contato com a mata, especialmente com as aves”, destaca o pai. A atividade, de acordo com a gerente do parque, Aneliza Miranda, é voltada para todas as idades.
Preservação e renda com a passarinhada
A exemplo do que ocorre em outras unidades de conservação, a atividade de observação de aves tem papel importante como forma de conscientização ambiental e como fonte de renda para guias, muitos dos quais são ex-guardas de parques, como é o caso de Warley Miranda, de 48 anos.
Depois de atuar como brigadista por quase uma década, ele é responsável por mostrar aos observadores o habitat das principais espécies que vivem no Parque Estadual da Lapa Grande Paulinho Ribeiro.
“De tanto percorrer o parque, aprendi a observar aves, sempre incentivado pelos gestores, ambientalistas e pesquisadores”, diz. A O NORTE, o guia fez uma observação importante: “comecei a guiar depois da criação da Reserva Natural Rolinha do Planalto, em Botumirim, porque os observadores que desembarcavam em Montes Claros tinham em nossa unidade de conservação muitas espécies, até então, com registros mais expressivos no Nordeste do Brasil”.
Uma curiosidade, aponta, é que, apesar de não falar inglês, “conhecer a localização e as características das espécies facilita guiar estrangeiros, especialmente europeus, responsáveis por número cada vez maior de agendamentos junto ao Instituto Estadual de Florestas (IEF)”.
O empresário e turismólogo Fabiano Mata Machado Alkimim, de 59 anos, ficou impressionado com a riqueza de aves do parque e vê na atividade de observação também grande potencial a ser explorado no Norte de Minas.
“Eu sempre morei em roça, tenho propriedade na Serra do Cipó, ou seja, gosto de estar próximo à natureza, então, aceitei o convite para observar aves pela primeira vez com a certeza de que me apaixonaria, e não deu outra”, disse em tom de contentamento. Ele afirma que a riqueza do patrimônio natural do Parque Estadual da Lapa Grande superou suas expectativas.
Ele disse ter ficado impressionado como os guias, ambientalistas e pesquisadores guardam tantas informações de cada uma das espécies. “Vejo um grande potencial a ser explorado no Norte de Minas com relação à observação de aves, tanto é verdade que estou aqui hoje”.
SERVIÇO
O Parque Estadual da Lapa Grande possui centro de visitantes e área de convivência e trilhas estruturadas e sinalizadas em português.
A visitação acontece de terça a sexta-feira, das 8h às 16h, realizada com agendamento prévio para instituições de ensino, associações e ONGs. Para observação de vida silvestre, é aberto também aos sábados, domingos e feriados.
O valor da entrada é R$ 5 e o estacionamento é gratuito. Mais informações e agendamento pelo e-mail pelapagrande@meioambiente.mg.gov.br ou aneliza.melo@meioambiente.mg.gov.br ou pelo telefone (38) 2101-6850/99869-3468.
Paixão pelas aves
Tanto no entorno da sede do IEF, onde os passarinheiros foram recepcionados, como nas trilhas, coube ao fotógrafo Fausto Rocha Araújo, de 45 anos, chamar atenção para o canto e as características das espécies. Ele tem registrado na plataforma Wikiaves mais de 30% das espécies brasileiras. Antes da jornada, para explicar o sentimento que as aves despertam, explicou em tom de humor: “sou passarinheiro e cirurgião dentista nas horas vagas”.
Brincadeiras à parte, logo no início do evento pôde mostrar cinco das dez espécies mais procuradas pelos observadores do Brasil e de várias partes do mundo. Sócio-fundador do Clube de Observadores do Norte de Minas, Fausto lembrou que a parceria com o parque administrado pelo IEF tem sido importantíssimo no surgimento de novos observadores.
* Jornalista