Em uma das votações mais desafiadoras de seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu aprovar, nesta quinta-feira (19), o texto-base da PEC do corte de gastos na Câmara dos Deputados. O placar, que registrou 344 votos favoráveis – acima dos 308 necessários –, incluiu o apoio de 18 deputados do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas revelou dissidências dentro do próprio PT, com três parlamentares votando contra a proposta.

Entre os petistas contrários ao projeto, destacaram-se Rui Falcão, Natália Bonavides (RN) e Marcon (RS). Falcão já havia sinalizado previamente sua posição, tornando pública sua oposição ao texto. A PEC enfrentava resistência dentro da base governista, com partidos como União Brasil e PSD demonstrando insatisfação, além de um cenário político marcado por negociações intensas nos bastidores.

A votação da PEC chegou a ser adiada devido ao risco de derrota, levando o governo a intensificar as negociações, incluindo a liberação de até R$ 5 milhões em emendas parlamentares. No centro das articulações estavam os partidos do centrão, União Brasil e PSD, vistos como determinantes para o avanço da proposta.

Apesar de contar com três ministérios na Esplanada – Comunicações, Turismo e Integração e Desenvolvimento Regional –, o União Brasil demonstrou fraturas internas. Dos 59 deputados da sigla, 23 votaram contra a PEC, refletindo disputas internas e insatisfações com o governo. O líder do partido na Câmara, Elmar Nascimento (BA), enfrenta críticas dentro da bancada, especialmente após ser preterido na sucessão de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Casa.

O PSD, por outro lado, mostrou maior alinhamento, com 34 de seus 44 deputados apoiando o texto. O líder do partido, Antônio Brito (BA), mobilizou a bancada e esteve no plenário pedindo votos favoráveis. Contudo, a sigla também expressou descontentamento, alegando falta de reconhecimento por parte do governo. A insatisfação está ligada ao histórico de apoio consistente do PSD a pautas do Executivo, incluindo cerca de 40 votos favoráveis em questões importantes até o momento.

Embora o governo tenha conseguido superar os desafios e aprovar o texto-base da PEC, o resultado expôs fragilidades na articulação política do Planalto. Um líder do centrão avaliou que o desfecho só foi possível graças ao esforço das lideranças partidárias, afirmando que o Congresso “fez o trabalho de articulação que o governo não faz”.

Além das disputas internas nos partidos da base, a votação revelou resistência de figuras como a deputada Duda Salabert (PDT-MG), vice-líder do governo, que votou contra a proposta.

Para o PT e aliados, o apoio de parte do PL foi considerado uma vitória simbólica, já que o partido é tradicionalmente alinhado à oposição bolsonarista. No entanto, as dissidências internas no PT e em outros partidos da base destacaram os desafios que Lula enfrentará em futuras votações, especialmente em pautas de grande impacto econômico e político.

Com a aprovação em primeiro turno, a PEC do corte de gastos avança, mas o cenário político aponta para negociações contínuas e ajustes na relação do Executivo com os partidos aliados, que já se articulam pensando nas próximas legislaturas e na composição da Câmara em 2025. A necessidade de um diálogo mais consistente com legendas como o PSD e o União Brasil será fundamental para garantir a estabilidade política e a implementação das políticas propostas pelo governo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *