Estudo do MapBiomas aponta que equipamentos fotovoltaicos ocupam 21,8 mil hectares (62%) da Caatinga, sendo Minas Gerais o estado com maior área convertida

Por Luiz Ribeiro – Estado de Minas
Ao mesmo tempo que avança no país, a transição energética traz impactos para a vegetação nativa, com as usinas fotovoltaicas ocupando, cada vez mais, terrenos da Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro. Minas Gerais é o estado com maior aproveitamento da energia solar e também a unidade da Federação com maior área do bioma ocupada por painéis solares. É o que aponta levantamento do MapBiomas, divulgado nessa quinta-feira (18/9).
A Caatinga abriga 62% (21,8 mil hectares) do total (35,3 mil hectares) das áreas de usinas solares no Brasil. Dos 21,8 mil hectares de instalações de usinas no bioma, 26% (5,6 mil ha) estão localizados em Minas Gerais. A maior parte da área convertida para usinas fotovoltaicas (52,6%, ou 11,4 mil ha) era anteriormente formada por savanas e florestas, enquanto 35% (7,5 mil hectares) eram pastagens.
“Essa transição, embora contribua para a matriz energética limpa do país, levanta questões sobre esse uso recente da terra e a conservação da vegetação nativa na Caatinga”, comenta o professor Washington Rocha, coordenador da equipe da Caatinga do MapBiomas.
Os dados divulgados resultam de um detalhado levantamento sobre as mudanças ocorridas na cobertura e no uso da terra na Caatinga, feito a partir da Coleção 10 de mapas e dados da rede MapBiomas, cobrindo o período entre 1985 e 2024. O relatório revela que o bioma, que ocupa uma área de 86,2 milhões de hectares, ou 10,1% do território do Brasil, sofreu uma perda de 9,25 milhões de hectares de áreas naturais nos últimos 40 anos, equivalente a 14% de sua cobertura original, com a expansão da agropecuária como principal vetor de transformação.
Em 2024, quase dois terços (59%, ou 51,3 milhões de hectares) da Caatinga ainda são cobertos por vegetação nativa, predominantemente formações savânicas (55,9%). Quando contabilizados também corpos d’água, praias, dunas e areais, a área natural da Caatinga sobe para 52,9 milhões de hectares, ou 61% do bioma. Entre os tipos de áreas naturais, a formação savânica foi a mais afetada, perdendo 8,9 milhões de hectares (15,7%) no período.
A área antrópica na Caatinga aumentou 39% entre 1985 e 2024, somando 9,2 milhões de hectares de expansão. Mais de um terço (37%, ou 32,3 milhões de hectares) do bioma é ocupado por áreas de uso agropecuário. A pastagem é o principal uso antrópico, respondendo por 24,7% do total do bioma e expandindo 106% (11 milhões de hectares) desde 1985. Proporcionalmente, a agricultura foi o uso da terra que mais cresceu, com um aumento de 1.636% (1,7 milhão de hectares) no mesmo período. Entre os usos agrícolas, as lavouras temporárias predominam, com 1,4 milhão de hectares (74%), enquanto as lavouras perenes ocupam 483 mil hectares (26%).
Essa expansão se deu predominantemente sobre a formação savânica, que também é a classe de cobertura natural mais afetada por queimadas anualmente, com uma média de 78% das ocorrências. Nos últimos 40 anos, 11,4 milhões de hectares da Caatinga foram queimados, uma área maior que o território de Portugal.
Entre 1985 e 2024, a Caatinga perdeu 66 mil hectares (21%) de superfície de águas naturais. A superfície de água no bioma está concentrada, em sua maioria, em hidrelétricas, que ocupam cerca de 390 mil hectares (42%), principalmente na bacia hidrográfica do rio São Francisco, com 96% (375 mil ha). Os reservatórios correspondem a 32% da área de superfície de água no bioma (297 mil hectares).
Todos os estados do bioma registraram redução de áreas naturais nesse período, com 86% (1.042) dos municípios da Caatinga apresentando perda de vegetação nativa. Apesar disso, 55% (670) dos municípios possuem mais de 50% de vegetação nativa. Os estados com maior proporção de áreas naturais em 2024 são Piauí (82%), Ceará (68%), Pernambuco (60%), Bahia (58%) e Paraíba (56%). Já os estados com menor proporção de áreas naturais no ano passado foram Minas Gerais (50%), Rio Grande do Norte (50%), Alagoas (27%) e Sergipe (24%).
Um décimo (10%) do território da Caatinga está protegido por Unidades de Conservação (8,2 milhões de hectares), que abrigam 13% da vegetação nativa do bioma (6,8 milhões de hectares) em 2024. Três em cada quatro hectares de Unidades de Conservação (UCs) na Caatinga são de UCs de Uso Sustentável (6,1 milhões de hectares). Nelas, houve redução de 11,8% da área de vegetação nativa entre 1985 e 2024, equivalente a 563 mil hectares.