No Central do Brasil desta quinta (19), José Luis Oreiro explica que não há embasamento técnico na decisão do Copom
Em reunião ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) resolveu aumentar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual. O aumento acontece pela primeira vez em dois anos. Com isso, a Selic fica em 10,75% ao ano, com previsão de chegar a 11,5% até janeiro de 2025. O motivo seria uma expectativa de alta na inflação.
Em entrevista ao programa Central do Brasil desta quinta-feira (19), o economista José Luis Oreiro afirma que a medida não faz sentido no atual momento do país, levando em consideração que as expectativas dos agentes do mercado financeiro para a inflação em 2024 (4,35%) e 2025 (3,95%) estão abaixo do limite de tolerância de 4,5%, segundo a última edição do boletim Focus publicada no dia 12 de setembro de 2024.
“Eu não sei de onde estão tirando essa informação de que há um descontrole, uma desancoragem das expectativas de inflação. Pelo contrário, se a gente observar a inflação acumulada em 12 meses, ela caiu entre julho e agosto. Então, realmente não há nenhum embasamento técnico, com base no protocolo do regime de metas de inflação, que justifique um aumento de 0,25 ponto percentual na taxa Selic que vai custar aos cofres públicos R$ 13 bilhões em 12 meses”, explica Oreiro.
Para o economista, as principais motivações para elevação da taxa são políticas. “O motivo político é que se quer por uma trava na expansão do PIB brasileiro para reduzir as possibilidades de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026. Aos agentes do mercado financeiro, não interessa ter um presidente de esquerda por mais quatro anos, principalmente agora que a agenda do governo, em termos de controle fiscal, é por intermédio de aumento de impostos sobre os mais ricos. Em segundo lugar, a taxa de juros, quando aumentada, gera ganhos financeiros significativos para os rentistas – para o pessoal da Faria Lima, para os bancos, etc.”
Lula indicou Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central. O economista ainda deve passar por sabatina, mas tudo indica que ele deve assumir o comando da instituição em 2025. Apesar disso, Oreiro acredita que não ocorrerão grandes mudanças em relação à política de aumento da taxa de juros.
“Eu até teria alguma esperança de mudança na política monetária se o Galípolo tivesse mantido o discurso que ele tinha há cinco, seis meses atrás – houve uma reunião do Copom em que a divisão entre os membros da diretoria do Banco Central foram cinco diretores que votaram por uma redução de 0,25%, e quatro que votaram pela redução de 0,5%. Entre esses quatro estava o Galípolo. Então me causa espécie ver que em tão pouco tempo o Galípolo se converteu para o lado dos que defendem aumento de taxa de juros. Talvez ele veja isso como uma condição sine qua non para assumir o cargo de presidente do Banco Central. Agora, se ele acha que uma vez estando na presidência do Banco Central ele vai poder se comportar de maneira diferente do que ele está fazendo nos últimos dois meses, isso é de uma ingenuidade inacreditável”, finaliza Oreiro.