Renovação da matrícula escolar na rede estadual de ensino começa nesta terça

Começa nesta terça-feira (5) o período para a renovação da matrícula dos alunos da rede estadual de ensino de Minas que pretendem continuar na mesma escola em 2022. O prazo vai até o dia 22 e a renovação pode ser feita pelo próprio aluno com 18 anos ou mais ou pelos pais e/ou responsáveis pelo aluno menor de idade. O processo que garante a vaga do estudante para o próximo ano na mesma unidade de ensino em que ele já estuda deve ser realizado on-line, pelo site renovacao.educacao.mg.gov.br. As famílias que não têm acesso à internet devem procurar a escola estadual onde o estudante se encontra matriculado este ano para realizar a renovação da matrícula para o ano letivo de 2022, com adoção de todas as medidas de segurança sanitária estabelecidas pela Secretaria de Estado de Saúde. Já para quem pretende mudar de escola ou vir de outra rede de ensino (escola municipal, federal ou privada) para a rede pública estadual, será necessário aguardar o momento do cadastramento escolar pelo Sistema Único de Cadastro e Encaminhamento para a Matrícula (Sucem), que será informado posteriormente. Para realizar a renovação da matrícula, os pais/responsáveis, ou o aluno maior de 18 anos, deverão acessar o site renovacao.educacao.mg.gov.br, entre os dias 5 e 22/10. Será necessário inserir o número da matrícula no campo destinado ao login, e a data de nascimento com dia, mês e ano com os quatro dígitos (sem barras), no espaço destinado à senha. Caso o estudante não tenha o número da matrícula, basta clicar na opção “recuperar número de matrícula do aluno”. Ao selecionar essa opção, o sistema solicitará a identificação da escola onde o aluno está matriculado, seu nome completo, data de nascimento e o nome de um dos seus responsáveis. Ao concluir o procedimento de renovação da matrícula, será disponibilizado aos pais/responsáveis ou ao próprio aluno, quando maior de idade, o comprovante de renovação que poderá ser impresso ou salvo em formato PDF. Com Agência Minas
Crianças ricas têm mais de 7 mil horas de aprendizado a mais do que as pobres

Mesmo na educação formal, o acesso à aprendizagem é 17% menor para as crianças de famílias mais vulneráveis Estudo inédito confirma disparidade entre estudantes das redes privada e pública Enquanto estudantes do Ensino Fundamental de escolas particulares conciliam aulas de inglês, natação, música e outras tantas atividades extracurriculares com o ensino regular, quem estuda na rede pública tem uma realidade bem diferente, especialmente na pandemia. Com o ensino remoto, muitos sequer tiveram acesso à internet para aprender o básico. O estudo inédito “Cada Hora Importa”, realizado pelo Itaú Social, demonstra que ao final do 9º ano do Ensino Fundamental, com famílias de baixa renda, recebem 7.124 horas de aprendizado a menos do que meninas e meninos da rede privada, que têm famílias mais abastadas. Esse período equivale a 7,9 anos de uma escola regular. O estudo, com apoio do Plano CDE, foi baseado no parâmetro internacional “Every Hour Counts”, que defende o aprendizado fundamentado no pensamento crítico, resolução de problemas, eficiência na comunicação e conhecimentos gerais. A iniciativa tem como objetivo promover a educação integral, que considera as diferentes dimensões do sujeito, criando oportunidades que contemplem suas necessidades cognitivas, mas também físicas, sociais e emocionais. Os pesquisadores usaram como base de cálculo cinco levantamentos com abrangência nacional para estimar as horas de aprendizado: PNAD 2019 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios); POF 2017-2018 (Pesquisa de Orçamentos Familiares); Censo Escolar 2019; o estudo Primeiríssima Infância – Interações 2020 (Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal) e TIC Domicílios 2018. “O estudo dá forma e quantifica a enorme desigualdade educacional no Brasil. As estimativas revelam um volume impressionante de horas adicionais de exposição a oportunidades de aprendizagem para crianças de famílias com mais recursos, em comparação às crianças de famílias de baixa renda”, aponta a superintendente do Itaú Social, Angela Dannemann. “Os dados comprovam a importância das escolas em tempo integral e do trabalho das organizações da sociedade civil, que oferecem atividades em contraturno escolar, para ampliar o acesso à arte, à cultura, aos esportes e tantos outros elementos que permitem o desenvolvimento integral e plural das crianças e adolescentes, que irão lhe conferir o exercício pleno da cidadania”, explica. O estudo analisou os perfis de crianças de 0 a 14 anos, com famílias em extremos de renda per capita no Brasil. A amostra foi dividida em dois grupos: os que integram os 10% com menor renda (média per capita de R$ 145) e os 10% que estão entre os de maior renda (média per capita de R$ 6.929). As oportunidades de aprendizado foram separadas em cinco categorias: aprendizado em família, aprendizado via internet, educação formal, atividades extracurriculares e oportunidades nas férias. Aprendizado em família Considerando a pesquisa “Primeiríssima Infância”, o estudo fez uma estimativa de horas usando como base a frequência de leitura e brincadeira com crianças em dias por semana. As famílias mais ricas leem duas vezes mais para suas crianças do que as mais pobres (quatro horas semanais contra duas horas). Já a diferença de horas quando falamos de brincadeiras em família é menor (seis contra cinco horas). Porém, ao somar o número de horas das duas atividades em um ano, as crianças de famílias com maior renda abrem uma frente de 43% em relação às de menor renda. Aprendizado via internet O estudo considerou a pesquisa “TIC Domicílios”, que investiga o acesso e os hábitos dos brasileiros em relação ao uso da internet, para verificar a quantidade de horas que as crianças realizam atividades, pesquisas escolares e/ou estudam por conta própria. As famílias com rendas menores têm, num período de 5 anos, apenas 560 horas de aprendizado na internet, contra 1.390 horas daquelas com maior renda, o que equivale a uma diferença de 148%. Educação formal Com os dados do PNAD e do Censo Escolar, o estudo analisou o acesso e a carga horária de escolas e creches públicas (para famílias com menor renda) e particulares (para famílias com maior renda) para calcular a média de horas de aprendizado em educação formal. Crianças mais pobres, principalmente quando estão em creches e na pré-escola, têm menos acesso ao aprendizado do que as mais ricas. Em um total de 14 anos (duração da educação infantil até a conclusão do ensino fundamental), a diferença de horas é de 11.719 versus 13.713 horas, o que corresponde a uma diferença de 17% a mais para crianças de maior renda. Atividades Extracurriculares A partir dos dados da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), os pesquisadores verificaram os gastos extracurriculares como cursos de idiomas, artes e esportes. Considerou-se que a carga horária padrão para cada curso é de duas a seis horas por semana. As informações do POF também permitiram identificar os gastos individuais das famílias com itens de diversão fora de casa, coletando dados sobre gastos com cinema, museu e teatro. Considerando 11 anos de atividades extracurriculares, enquanto famílias mais ricas têm uma carga média de horas em aulas de idiomas de 236 horas, as mais vulneráveis têm apenas 11 horas. Também existe um abismo na exposição às atividades relacionadas às artes. Crianças de famílias de baixa renda têm apenas 12 horas de acesso contra 287 horas para as do grupo de alta renda. As horas no cinema são bem inferiores (168 horas para famílias ricas e 66 horas para famílias pobres), assistir a uma peça teatral ou visitar um museu são atividades que não ocorrem, pelo menos de forma paga, para crianças pobres. Ao todo, as horas de aprendizado a partir das atividades extracurriculares chegam a uma diferença de 1.038% Oportunidades nas férias O estudo considerou ainda as atividades estruturadas nas férias escolares, como programações em clubes, colônias de férias, excursões ou outras atividades e cursos pagos nas próprias escolas. Famílias mais ricas proporcionariam 2.232 horas a mais de aprendizado para suas crianças no acumulado de nove anos, enquanto as mais pobres não promoveram nenhuma atividade nos intervalos dos anos letivos.
Programa Novos Caminhos – Unimontes abre pré-matrículas para 450 vagas em 10 cidades

A partir desta terça-feira (21/9), a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) estará com inscrições abertas para pré-matrículas em sete cursos técnicos gratuitos, ofertados por meio do Programa Novos Caminhos, do Governo Federal. São 450 vagas para turmas em 10 municípios do Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha. O prazo vai até o próximo dia 27 e as atividades são coordenadas pela Escola Técnica de Saúde, vinculada ao Centro de Educação Profissional e Tecnológica (CEPT/ Unimontes). Conforme as diretrizes do Programa Novos Caminhos, cada aluno terá ajuda de custo de até R$ 250,00 mensais, como auxílio para transporte e alimentação. A prématrícula é gratuita e pode ser feita pelo endereço eletrônico www.cept.unimontes.br. O candidato deve também encaminhar toda a documentação para o endereço de correio eletrônico novoscaminhos.cept@unimontes.br. Serão 30 alunos por turmas. As vagas são para cursos técnicos de Administração (Capelinha, Grão Mogol, Guaraciama e Joaíma), Apicultura (Bocaiuva), Comércio (Almenara, Manga e São Francisco), Desenvolvimento de Sistemas (Bocaiuva, Montes Claros e Salinas), Rede de Computadores (Montes Claros), Saúde Bucal (Montes Claros), Sistemas de Energia Renovável (Montes Claros) e Vendas (Montes Claros). As aulas serão ministradas no período noturno, com exceção do curso técnico de Desenvolvimento de Sistemas para a cidade de Montes Claros (matutino) e os cursos técnicos de Comércio (Manga) e Sistemas de Energia Renovável e Vendas (Montes Claros), com atividades vespertinas. Podem concorrer às vagas somente alunos matriculados no 2º ou 3º ano do Ensino Médio. A classificação dos candidatos se dará primeiro a alunos matriculados na rede pública de ensino, que também sejam portadores de alguma deficiência e inscritos em programas federais de transferência de renda, como, por exemplo, o Bolsa Família, e que tenham feito a inscrição eletrônica primeiro. Em seguida, serão classificados os candidatos matriculados na rede de ensino pública, portadores de deficiência e que tenham feito inscrição primeiro. A 3ª ordem de classificação se dará aos candidatos matriculados na rede pública de ensino, titular ou dependente dos programas federais de transferência de renda e que tenham feito a inscrição primeiro. Se ainda restarem vagas, poderão ser classificados, dentro do limite de vagas, candidatos matriculados na rede de ensino pública, que tenham feito inscrição primeiro. Após a prioridade dos alunos da rede de ensino pública, serão classificados os candidatos matriculados na rede de ensino privada, tendo prioridade, os portadores de deficiência ou inscritos em programas federais de transferência de renda, que tenham feito inscrição primeiro, e, caso ainda restem vagas, os candidatos apenas matriculados na rede de ensino privada poderão ser contemplados com vagas. É importante destacar que na maioria das situações, os candidatos inscritos primeiro terão mais chances de classificação dentro do limite de vagas. O diretor do CEPT, professor Márcio Antônio Alves Veloso, ressalta que os cursos foram pensados de forma estratégica para atender às necessidades de cada município. “São cursos de alta empregabilidade e podem contribuir muito para a melhoria de vida dos alunos contemplados”. Ela lembra que o Programa Novos Caminhos é uma iniciativa do Ministério da Educação e pretende expandir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de Educação Profissional Técnica de Nível Médio e de cursos e programas de Formação Inicial e Continuada ou Qualificação Profissional.
Centenário de Paulo Freire: por que celebrar o legado do educador?

Paulo Freire deu uma grande contribuição à educação para a justiça social e à concepção dialética da educação. (Arte: Instituto Paulo Freire) As ideias de Paulo Freire continuam válidas não só porque precisamos ainda de mais democracia, mas porque os sistemas educacionais encontram-se frente a novos e grandes desafios Por Moacir Gadotti* Desde o ano passado, celebrações em torno dos cem anos de Paulo Freire estão sendo realizadas em diferentes partes do mundo. Alguns poderiam perguntar: por que celebrar o centenário de Paulo Freire? A pergunta procede, pois ele não gostava de homenagens. Costumava dizer, quando recebia homenagens, e foram muitas, que as recebia porque tinha certeza de que elas só aconteciam em função das causas que defendia. Ele deixou marcas profundas em muitas pessoas e profissionais de diferentes áreas. Não apenas pelas suas ideias, mas, sobretudo, pelo seu compromisso ético-político. Entretanto, não deixou discípulos como seguidores de ideias. Deixou mais do que isso. Deixou um espírito. “Para me seguir não devem me seguir”, dizia ele. Pedagogia do Oprimido teve grande repercussão porque expressava o que muita gente já tinha em mente em seus sonhos e utopias, um mundo de iguais e diferentes, e ressoou nos mais diversos ambientes. Sua filosofia educacional cruzou as fronteiras das disciplinas, das ciências e das artes para além da América Latina, criando raízes nos mais variados solos. Confira: Por que a extrema direita brasileira elegeu Paulo Freire seu inimigo Para nós, do Instituto Paulo Freire, ele continua sendo a grande referência de uma educação como prática da liberdade e de uma educação popular. Muitas das mensagens recebidas no Instituto Paulo Freire, em São Paulo, logo depois do dia 2 de maio de 1997, data de seu falecimento, dizem textualmente: “Minha vida não seria a mesma se eu não tivesse lido a obra de Paulo Freire”; “O que ele escreveu ficará no meu coração e na minha mente”. Essas mensagens revelaram o impacto na vida de tantas pessoas de muitas partes do mundo. Não há dúvida de que Paulo Freire deu uma grande contribuição à educação para a justiça social e à concepção dialética da educação. A pedagogia autoritária e seus teóricos combatem suas ideias justamente pelo seu caráter emancipatório e dialético. Seja como for, aceitemos ou não as suas contribuições pedagógicas, ele constitui um marco decisivo na história do pensamento pedagógico mundial. As ideias de Paulo Freire continuam válidas não só porque precisamos ainda de mais democracia, mais cidadania e de mais justiça social, mas porque a escola e os sistemas educacionais encontram-se, hoje, frente a novos e grandes desafios. E ele tem muito a contribuir para a reinvenção da educação atual. Essa reinvenção da educação passa pela recuperação dos educadores como agentes e sujeitos do processo de ensino-aprendizagem e da prática educativa. A reinvenção da educação só pode ser obra de um esforço coletivo, colaborativo, plural, não sectário, pensando numa transição gradual para outras formas de conceber os sistemas educacionais, seu planejamento, sua gestão e monitoramento, seus parâmetros curriculares, se quisermos dar uma contribuição significativa para a construção de novas políticas públicas de educação. Paulo Freire defendia o saber científico sem desprezar a validade do saber popular, do saber primeiro. Dizia que não podemos mudar a história sem conhecimentos, mas que tínhamos que educar o conhecimento para colocá-lo a serviço da transformação social. Educar o conhecimento pelo entendimento da politicidade do conhecimento; entender o sentido histórico e político do conhecimento. A utopia é uma categoria central do pensamento de Paulo Freire. Por isso, ele se opôs diametralmente à educação neoliberal, pois o neoliberalismo “recusa o sonho e a utopia”, como afirma na sua Pedagogia da Autonomia. O neoliberalismo não só recusa o sonho e a utopia. Ele também recusa o saber dos docentes, reduzindo-os a meros repassadores de informações como máquinas de reprodução social, excluindo-os de qualquer participação no debate sobre os fins da educação. A educação neoliberal não se pergunta sobre as finalidades da educação, investindo toda a energia nos meios e, particularmente, na eficácia e na rentabilidade, quantificadas milimetricamente por um certo tipo de avaliação. Sabemos avaliar com perfeição, sem nos perguntar sobre o que estamos avaliando. Para essa concepção de educação, os docentes não têm conhecimento científico; seu saber é inútil. Por isso, não precisam ser consultados. Eles só precisam conhecer receitas sem se perguntar por que ensinam isto e não aquilo. Eles só servem para aplicar novas tecnologias: a sala de aula perde sua centralidade e a relação professor-aluno entra em declínio em favor da relação aluno-computador. Portanto, há razões para celebrar o centenário de Paulo Freire. E, como nossa celebração não é uma pura homenagem, nossa proposta de celebração do centenário de Paulo Freire é, também, um convite para um compromisso com uma causa. Nossas celebrações têm um sentido estruturante, um sentido propositivo e prospectivo. Para nós, celebrar não é esperar que o amanhã chegue a nós. É fazer, desde já, o amanhã que desejamos ver realizado. Não é pura espera. É esperançar. Entendemos o centenário de Paulo Freire como um espaço-tempo de articulações, como um processo formativo e de mobilização com vistas à transformação da realidade. A práxis de Paulo Freire opôs-se ao neoliberalismo e hoje, ao celebrar o centenário, estamos também nos contrapondo à ofensiva ideológica neoconservadora e fortalecendo o pensamento crítico freireano, promovendo ações e projetos alternativos à mercantilização da educação. Para nós, celebrar Paulo Freire é lutar para democratizar a escola e educar para e pela cidadania. Trata-se, portanto, de lutar por uma escola que forme o povo soberano, o povo que pode mudar o rumo da história, uma escola transformadora, uma escola que emancipa. Paulo Freire nos dizia que essa escola, a escola cidadã, era uma escola de companheiro, de comunidade, que vive a experiência tensa da democracia. Por isso, saudamos com muito entusiasmo essas celebrações em torno do centenário de Freire. O que se destaca nelas é a defesa da educação pública e popular e a luta contra o neoliberalismo e a mercantilização da educação. Em tempos como o que estamos
Por que a extrema direita brasileira elegeu Paulo Freire seu inimigo

“O objetivo da pedagogia freireana é fazer com que cada uma e cada um aprendam a dizer a própria palavra” (DW) Para especialistas, é da natureza da pedagogia freireana incomodar, justamente porque ela propõe ensino libertador e baseado na formação crítica do aluno Em dezembro de 2003, o então ministro da Educação Cristovam Buarque inaugurou, na frente da sede do Ministério, em Brasília, um monumento em homenagem ao educador Paulo Freire (1921-1997). O pedagogo era então aclamado como uma personalidade importante da história intelectual do país – nove anos mais tarde, uma lei federal o reconheceria como patrono da educação brasileira. Em 2019, Abraham Weintraub comandava o mesmo Ministério no primeiro ano da gestão do presidente Jair Bolsonaro. Diante dos maus resultados obtidos pelo país no ranking Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), ele chamou o monumento a Freire de “lápide da educação” e afirmou que o pedagogo “representa esse fracasso total e absoluto”. O próprio Bolsonaro já criticou Paulo Freire, e em mais de uma oportunidade. Numa das ocasiões, referiu-se a ele como “energúmeno”. É um discurso recorrente: nos últimos anos, a extrema direita brasileira tem usado Paulo Freire, cujo centenário de nascimento é celebrado neste 19 de setembro, como bode expiatório para a baixa qualidade do sistema educacional brasileiro. De acordo com especialistas ouvidos pela DW Brasil, o que incomoda reacionários e também alguns conservadores é o fato de a pedagogia freireana ser essencialmente política. “A essência da obra de Freire é totalmente política, no sentido nobre do termo, não no sentido da política partidária”, diz o sociólogo Abdeljalil Akkari, da Universidade de Genebra, na Suíça. “Por isso em todas as regiões do mundo, sua obra é lembrada como algo muito interessante para refletir sobre o futuro da educação contemporânea”. “O objetivo da pedagogia freireana é fazer com que cada uma e cada um aprendam a dizer a própria palavra, ou seja, tenham a capacidade de ler o mundo e se expressar diante do mundo. É a pedagogia da autonomia, da esperança: libertadora no sentido de as pessoas terem as capacidades de se libertarem das opressões que buscam calá-las”, diz o educador Daniel Cara, professor da Universidade de São Paulo e dirigente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Professor do curso de pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Ítalo Francisco Curcio acredita que parte dessa controvérsia seja por desconhecimento do que é, enfim, o método Paulo Freire. “A maior parte dos que dizem rejeitá-lo nem é especialista em educação, acaba repetindo frases apregoadas por líderes com os quais se identifica”, comenta. “Isso é muito ruim. Quem padece é a própria população, desde a criança até o adulto”. Diálogo em vez de lógica bancária Paulo Freire desenvolveu sua pedagogia no início dos anos 1960. Em 1963 ele trabalhou na alfabetização de adultos no Rio Grande do Norte – e conseguiu resultados muito eficientes com sua abordagem. Em linhas gerais, ele defendia que a educação não poderia obedecer a uma “lógica bancária”, em que o conhecimento era simplesmente depositado na cabeça dos alunos. Clamava por um ensino baseado no diálogo, em que professor e estudante constroem o conhecimento em conjunto. Por princípio, é uma pedagogia inclusiva. E saberes específicos, de acordo com contextos particulares, são valorizados. “Ele ressaltou no meio educacional, especialmente na formação de professores e gestores escolares, que é imprescindível considerar os conhecimentos e saberes que o educando já possui, ao ser recebido como aluno. É célebre sua frase: ‘Ninguém ignora tudo, ninguém sabe tudo’”, diz Curcio. “Seu método não fala em ideologias, mas em formas de ensinar e aprender. Não é um instrumento proselitista”, acrescenta. “Quem faz proselitismo é a pessoa, por meio de seus atos e discursos, e não o método. Eu posso utilizar uma faca tanto para cortar o pão ou a carne e me alimentar, quanto para matar alguém”. O educador Cara argumenta que Freire não é bem aceito pela extrema direita justamente porque sua filosofia não admite a doutrinação. “O sectarismo do autoritarismo impede o reconhecimento de uma pedagogia verdadeiramente libertadora”, afirma. “Então, Freire se tornou inimigo dos ideólogos de direita porque busca uma pedagogia libertadora, enquanto o modelo tradicional é uma pedagogia opressora”. “Quando a extrema direita chegou ao poder no Brasil, precisava agir no campo da educação. E a figura de Freire se mostrou fácil de ser atacada, porque era algo comum nas comunidades educacionais do Brasil”, diz Akkari. Para o professor, conservadores tendem a acreditar que os problemas educacionais podem ser corrigidos com base em aspectos instrumentais, ou seja, mais tecnologia, equipamentos e carga horária, e não com uma mudança de abordagem. Além disso, existe um tabu sobre politização e formação crítica – ele lembra o movimento Escola Sem Partido, criado nos anos 2000 e que ganhou notoriedade no país após 2015. Paulo Freire é o oposto de tudo isso: sua obra é baseada na formação crítica do aluno. “Ele é o pedagogo da politização da educação”, define Akkari. Mazelas do ensino Outro mito que os especialistas combatem é o de atribuir à Paulo Freire a culpa pelos problemas educacionais brasileiros. O principal argumento contrário, ressaltam eles, é que a pedagogia dele nunca foi implementada de modo amplo e irrestrito no Brasil. E há ainda o aspecto oposto: o método freireano é muito disseminado em países que costumam se destacar em avaliações educacionais, como a Finlândia. “Não faz o menor sentido culpar o Paulo Freire pelas mazelas educacionais brasileiras. Ele não é responsável pelo subfinanciamento da educação, pelos péssimos salários dos professores, pelo fato de que o Brasil só passou a colocar a educação como questão nacional a partir dos anos 1930. E, na prática, mesmo em governos alinhados à esquerda não se fez uma pedagogia freireana no país”, diz Cara. “Até porque é uma pedagogia que demanda investimentos sólidos em formação e um replanejamento de todo o sistema de ensino”. Akkari observa que essa negação de Paulo Freire por um viés ideológico só ocorre no Brasil. “Se você observar o resto do mundo, a obra dele é
Falta material, internet e até comida: os obstáculos para a educação na pandemia

Pelo Plano Nacional de Educação (PNE), Lei 13.005/2014, o Brasil deve zerar a taxa de analfabetismo até 2024. Com a pandemia, porém, meta deve ser impactada de forma significativa No Brasil, 11 milhões de pessoas são analfabetas. São pessoas de 15 anos ou mais que, pelos critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não são capazes de ler e escrever nem ao menos um bilhete simples. Pelo Plano Nacional de Educação (PNE), Lei 13.005/2014, que estabelece o que deve ser feito para melhorar a educação no país até 2024, desde o ensino infantil até a pós-graduação, o Brasil deve zerar a taxa de analfabetismo até 2024. No Dia Mundial da Alfabetização, celebrado no último dia 8 de setembro, a Agência Brasil conversou com professores que trabalham com a alfabetização de crianças sobre os impactos da pandemia na etapa de ensino e sobre a rotina desses profissionais. Sem tempo para cansaço O professor do terceiro ano do ensino fundamental da Escola Classe Comunidade de Aprendizagem do Paranoá, no Distrito Federal, Mateus Fernandes de Oliveira diz que ainda não conseguiu parar para sentir o cansaço que todo o período de pandemia causou até aqui. Nos últimos 18 meses, ele precisou lidar com diversas situações, incluindo famílias de estudantes com fome. Foi preciso que a escola se organizasse para distribuir cestas básicas nas casas dos alunos. “A gente estava falando de falta de alimentos em casa. Famílias passando por necessidades. Não era possível cobrar de uma família que estava preocupada com alimentação que desenvolvesse um processo de escolarização em um momento como este. A gente entendeu que a escola pública, como parte do Estado, tem responsabilidade social. O Estado deveria cuidar das necessidades básicas, mas não estava dando conta. A escola teve que se mobilizar”. Enquanto a escola esteve fechada, o professor chegou até mesmo a visitar os estudantes pessoalmente, levar para eles as atividades e verificar como estavam. A maior parte dos alunos não tinha acesso à internet e acabava não participando das aulas online. Agora a escola voltou em um modelo híbrido, intercalando ensino presencial e ensino remoto. Oliveira percebe que as desigualdades se acentuaram. Aqueles alunos que vêm de um contexto familiar em que a leitura faz parte do cotidiano, em que há livros e revistas em casa, chegam agora ao terceiro ano do fundamental sabendo ler e escrever. Aqueles que moram em casas com pouca ou nenhuma leitura, às vezes sem mães e pais alfabetizados, acabam tendo um conhecimento aquém do esperado para crianças com 8 ou 9 anos de idade. “Não dá para considerar este ano como só este ano. É pensar este ano e o seguinte como duas coisas contínuas, porque senão a gente se exaspera e atropela os processos. Atropela o tempo de entender o que a gente sentiu e o que está sentindo e de perceber que caminhos pode trilhar. A gente pode acabar até gerando o contrário do que gostaria. Em princípio, é preciso ter calma e, ao mesmo tempo, saber que não temos tempo a perder”. Trabalho redobrado Em Corumbá (MS), foi com cachorrinhas que a professora da Escola Municipal Almirante Tamandaré, Sonia Bays, conquistou os alunos e conseguiu medir o que eles haviam aprendido em um ano de pandemia. Ela dá aula para o primeiro ano do ensino fundamental, estudantes de 6 anos, que estão começando a ser alfabetizados. “Queria fazer algo mais lúdico. Acredito que as crianças são penalizadas por estar longe da escola. Criança em fase de alfabetização precisa da escola”, diz. Diante das dificuldades de ensinar a distância e por meio de tecnologias, ela gravou um vídeo apresentando os próprios animais de estimação e pediu que os pais estimulassem os filhos a fazer o mesmo com seus bichinhos. “Na fase da alfabetização, a criança precisa de oralidade. Ela fala e depois transfere para o papel. É preciso estimular essa espontaneidade, essa fala das crianças”. Ao pequeno grupo que estava sendo atendido presencialmente em horários especiais na escola, ela pediu que desenhasse e, se soubesse, escrevesse os nomes dos animais. Foi assim que avaliou o que os alunos sabiam e aquilo em que tinham dificuldades. Com base nas atividades desenvolvidas com as crianças, surgiu o trabalho Alfabetização e Infância em Tempos de Pandemia, apresentado em agosto no 5º Congresso Brasileiro de Alfabetização. A maior parte dos alunos de Sonia está em situação de vulnerabilidade. Não é raro que as famílias tenham apenas um celular com acesso limitado à internet. A estratégia muitas vezes, durante mais de um ano de pandemia, era mandar vídeos por WhatsApp, para que os responsáveis baixassem usando a internet do trabalho e, depois, mostrassem para as crianças. No ano passado, ela chegou a conhecer os alunos pessoalmente, antes do fechamento das escolas por causa da pandemia. A turma desse ano, no entanto, era uma lista com 23 nomes e contatos. Sonia fez questão de entrar em contato com cada um por ligação e conversar com alunos e famílias. A logística não foi simples, alguns estudantes precisaram ir para uma área com wifi aberto, para receber a videochamada. A escola foi retomando aos poucos o ensino presencial. Primeiro, apenas uma vez por semana para atender aos alunos que não tinham acesso a aulas remotas. Agora, a escola voltou às aulas presenciais em esquema de revezamento, com turmas reduzidas. “Os professores, cada um de uma série, selecionaram os conteúdos que seriam prioritários, que seriam essenciais. Não vamos ter como dar conta de tudo. Estamos focando em leitura e escrita”, diz. E acrescenta: “Os alunos não perderam o ano, eles ganharam a vida. Se antes já tínhamos déficit de aprendizagem, agora também temos, ainda maior. Teremos que redobrar o trabalho para vencer isso”. Da sala para a tela O professor Ricardo Fernades (Michell Albuquerque/SME) Depois de oito anos nas salas de aula no Rio de Janeiro, o professor Ricardo Fernandes assumiu, em 2019, o cargo de assistente de Gerência de Alfabetização e Anos Iniciais da Secretaria Municipal de Educação. No ano passado, com a pandemia, Fernandes
Lontra ganha seu primeiro pólo universitário com dezenas de cursos de graduação

A Unopar, universidade com quase 50 anos de atuação, inaugurou no último sábado, 28 de agosto, o primeiro pólo universitário de Lontra. A unidade, que está instalada na Praça Princesa Isabel, oferece dezenas de cursos de graduação e centenas de pós-graduação. A inauguração contou com a participação da comunidade e autoridades. “O ensino superior tem um papel fundamental no desenvolvimento de uma cidade. E Lontra vive este momento importante de sua história, com a inauguração desta unidade de ensino superior, pois sabemos que o melhor caminho para um futuro mais favorável, é a educação”, comemorou o prefeito de Lontra, Dernival Mendes dos Reis . Para o diretor do polo da Unopar em Lontra, Paulo Gusmão, a implantação deste polo irá refletir no aumento das oportunidades pessoais e profissionais. “A inauguração da UNOPAR em Lontra, coloca a cidade em um novo patamar, onde todo mundo pode sonhar e crescer, fazendo sua faculdade”, comentou o empreendedor” “Já estamos com as matrículas abertas, oferecendo dezenas de cursos de graduação em quase todas as áreas do conhecimento, além de centenas de cursos de pós-graduação, informou o gestor do polo da Unopar de Lontra, Douglas Aquino Gusmão
Ministro da Educação diz que diploma de universidade não adianta porque não tem emprego

Ministro da Educação questionou busca por ‘diploma na parede’, com uso do Fies: “Que adianta você ter um diploma na parede, o menino faz inclusive o financiamento do FIES que é um instrumento útil, mas depois ele sai, termina o curso, mas fica endividado e não consegue pagar porque não tem emprego”, disse. Logo a seguir, Milton Ribeiro falou no incentivo às escolas técnicas: “No entanto, o Brasil precisa de mão de obra técnica, profissional. E aí depois o moço ou a moça, elas fazem esse curso, arrumam um emprego, e depois falam: ‘O que eu gostaria mesmo é ser um doutor. Eu fiz um curso técnico em veterinário, já tenho um emprego, mas eu quero ser um médico veterinário’”. Milton Ribeiro em evento em Nova Odessa (SP) — Foto: Helen Sacconi/EPTV. Ele foi recebido em Nova Odessa com manifestação de estudantes, que foram retirados do local pela PM. Protesto Durante o evento, um grupo de estudantes fez um protesto contra o titular da pasta e por mais acesso à educação, e foi retirado à força pela Polícia Militar do portão do local. “Nós gostaríamos muito que ele estivesse nos recebendo no prédio do Ministério da Educação para uma reunião. Somos estudantes, não somos lixo, não somos ameaça. Mas ele nega a nos receber, então nós estamos aqui pra ver se ele passa a escutar os estudantes”, afirmou Rozana Barroso, presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes). Milton Ribeiro citou a manifestação dos estudantes, que classificou como “bagunça”. “Eu tenho certeza que nenhum desses meninos barulhentos pertencem às cidades de vocês. Estão estudando. Gente que estuda não tem tempo de fazer bagunça”, disse. Ele também disse que a manifestação foi de alunos que não querem estudar. “Se eu estivesse falando que as escolas tinham que estar fechadas, talvez muita gente não viria reclamar de mim, mas eu quero as escolas abertas.” Veja o vídeo abaixo:
Ministro da Educação de Bolsonaro disse que alunos com deficiência ‘atrapalham’

Milton Ribeiro afirmou que crianças com deficiências “atrapalhavam” os demais alunos sem a mesma condição quando colocadas na mesma sala de aula Uma nova declaração polêmica do ministro da Educação Milton Ribeiro está repercutindo nas redes sociais. Em entrevista ao programa ‘Sem Censura’, da TV Brasil, na última segunda-feira (9/8), o político disse que crianças com deficiências “atrapalhavam” os demais alunos sem a mesma condição quando colocadas na mesma sala de aula. “O que é inclusivismo? A criança com deficiência é colocada dentro de uma sala de alunos sem deficiência. Ela não aprendia, ela ‘atrapalhava’ – entre aspas, essa palavra eu falo com muito cuidado – ela atrapalhava o aprendizado dos outros, porque a professora não tinha equipe, não tinha conhecimento para dar a ela atenção especial”, declarou o ministro. Outras declarações feitas por Milton Ribeiro na mesma entrevista também causaram irritação em parte da população. Entre elas, o ministro disse que a “universidade deveria, na verdade, ser para poucos, nesse sentido de ser útil à sociedade”. “Tenho muito engenheiro ou advogado dirigindo Uber porque não consegue colocação devida. Se fosse um técnico de informática, conseguiria emprego, porque tem uma demanda muito grande”, completou. Além disso, ele também afirmou que reitores das universidades federais não podem ser ‘esquerdistas, nem lulistas’. “Alguns optaram por visões de mundo socialistas. Não precisa ser bolsonarista. Mas não pode ser esquerdidas, nem lulista. Reitor tem que cuidar da educação e ponto final. E respeitar todos que pensam diferente. As universidades federais não podem se tornar comitê político, nem direita, muito menos de esquerda”, disse. Via Estado de Minas
MEIO PASSE ESTUDANTIL – Recadastramento começa nesta segunda-feira

A Prefeitura de Montes Claros anunciou o recadastramento do Meio Passe Estudantil para os alunos de baixa renda matriculados em instituições de ensino da cidade. A partir da próxima segunda-feira, 16, os interessados devem comparecer no setor de Gerência da Juventude, que fica na Praça de Esportes, das 8 às 16 horas. O prazo de recadastramento vai até o dia 30 de setembro. O período será maior justamente para evitar aglomerações. Todos os protocolos de segurança serão seguidos e não haverá contato físico entre os usuários. Os colaboradores realizarão medição de temperatura e cumprirão distanciamento e uso de máscaras para a segurança de todos. Para fazer o recadastramento, o candidato deve levar os seguintes documentos: identidades (RG) e CPFs do Estudante e do Responsável (caso o estudante seja menor de idade), declaração da instituição de ensino, comprovante de residência e Cartão Simcard do Meio Passe Estudantil. O Meio Passe é um benefício de auxílio estudantil, através do qual a Prefeitura custeia metade do valor da tarifa do transporte coletivo urbano correspondente ao percurso diário de ida e volta entre a residência e a instituição de ensino do estudante. Mais informações podem ser obtidas pelos telefones 2211-3387 e 2211-3388.