Eleita vice-prefeita em Engenheiro Navarro, a manicure Luciana Nazaré é exemplo de afirmação. A eleição dela e do prefeito pedreiro é uma transformação na história política do município

* Por Waldo Ferreira
No Dia Nacional da Consciência Negra a boa nova vem de Engenheiro Navarro Navarro (7,3 mil habitantes, a 76 quilômetros de Montes Claros), que elegeu a primeira vice-prefeita negra da sua história. A manicure Luciana Nazaré Alves dos Santos foi também a primeira vereadora negra a integrar a Câmara Municipal.
Às voltas com o processo de transição, que deve ter início em uma semana, Luciana falou à reportagem sobre sua ascensão e as dificuldades que enfrentou por sua condição de mulher negra, divorciada e cuidando sozinha do filho num contexto de um pequeno município do Norte de Minas.
Eleita numa chapa que chama a atenção pela origem humilde dos seus integrantes (o prefeito-eleito, Hugo Felipe/PSD, é pedreiro), ela pretende levar para a administração valores pautados pela igualdade e inclusão. Luciana, que completa 43 anos em dezembro, é nascida e criada em Engenheiro Navarro e traz em sua carga genética o sangue do pai negro e mãe mestiça com índio.
Ela estudou em escola pública até os 17 anos e depois começou a dar aulas. Em seguida foi trabalhar como manicure. A consciência de que precisava atuar na prática para se contrapor às desigualdades fez com que Luciana Nazaré se candidatasse a vereadora, em 2016. Foi eleita e 4 anos depois repetiu a dose, agora como vice-prefeita.
“Considero minha eleição uma vitória da mulher negra e uma quebra de paradigmas da estrutura machista que sempre norteou as decisões na nossa cidade”, comemora, destacando as candidaturas de muitos negros nas eleições deste ano em Navarro. Além da vice-prefeita, mais três mulheres obtiveram êxito nas urnas, sendo eleitas vereadoras, uma delas negra.
Luciana estimula que, a exemplo dela, as mulheres, especialmente negras, aproveitem as oportunidades. “Observo na nossa cidade mulheres simples, negras, com muito potencial para empreender. Mas elas podem fazer o que quiserem, em qualquer área. É preciso criar as oportunidades para empoderamento”, acredita a vice-prefeita eleita.
As raízes negras lhe conferem autoridade para falar do preconceito que sofreu quando criança e adolescente. Foi vítima de bullyng na época de escola e até hoje tem que conviver com piadinhas. “isso não mais me atinge. Compreendi que somos iguais e o que importa mesmo é nosso caráter e retidão, o que a pessoa é e como ela expressa isso perante a sociedade”, avalia.
Na administração, Luciana pretende atuar de forma a colocar Educação e Cultura no foco das políticas públicas a serem adotadas, com ênfase na cultura negra, com iniciativas como o estímulo à capoeira; além de lutar pelos empreendimentos para geração de renda. A criação de três conselhos – Inclusão e Diversidade, Ética e Desenvolvimento – vai ao encontro do perfil de igualdade e inclusão representado por ela e pelo prefeito-eleito.
Desmembrar as secretarias de Cultura e Educação é outro objetivo que consta no plano de governo da próxima nova gestão. A Cultura será fundida com o esporte, lazer e cultura.
TRANSIÇÃO E PREMONIÇÃO


“Tire uma foto de nós dois. Vai que vira chapa”, pediu ao fotógrafo o então vereador-eleito Hugo Felipe, que, ao lado da também vereadora-eleita Luciana Nazaré, participava da cerimônia de diplomação, em 2016.
Ele disse que é seu objetivo adotar mais transparência á administração. E espera que a Comissão de Transição tenha acesso a todos os dados do município, aos quais ele não teve acesso nem mesmo exercendo o cargo de vereador nos últimos 4 anos, assim como sua vice-prefeita. O desenvolvimento social e econômico e a valorização do servidor efetivo serão a base de sua gestão.

 

 

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