O Parque Estadual da Lapa Grande Paulinho Ribeiro (PELGPR) vem realizando exposições em diversos espaços públicos do município, apresentando a biodiversidade, os recursos hídricos, espeleológicos, arqueológicos e histórico-culturais que compõem o local. A ideia é despertar o interesse da população em conhecer o parque, incentivando a consciência ambiental e a preservação do meio ambiente.

Exposição do PELGPR foi exposta nos dias  25 e 26-3-2025, no Hall de Entrada da Prefeitura Central de Montes Claros Foto Arlen Xavier

Em 16 de novembro de 2021 a Lei Estadual de Minas Gerais nº 23.978, de autoria do ex-deputado Carlos Pimenta, alterou a denominação do Parque Estadual da Lapa Grande para Parque Estadual da Lapa Grande Paulinho Ribeiro. Porém, a direção do Parque continua ignorando o nome do homenageado, o “menino de coração verde”. Prova disso é o fato de as exposições excluírem o nome de Paulinho nas divulgações em banners, informativos e vídeos. Justamente ele, principal responsável por sua criação. Ele também foi um dos maiores defensores do meio ambiente, viabilizando a criação de diversos parques, principalmente em Montes Claros – Sagarana, Canelas, Belvedere, Mangues e Jardim Olímpico. O Parque Sagarana, por exemplo, se transformou num verdadeiro museu a céu aberto, recebendo obras de arte doadas por artistas e admiradores.

Paulinho Ribeiro romando posse no Conselho Consultivo do Parque Estadual da Lapa Grande (Foto: Divulgação)

Paulinho Ribeiro teve participação importante na campanha de reconhecimento do Parque das Cavernas do Peruaçu como patrimônio cultural e natural da humanidade, pela Unesco. Foi ele o mentor da 5ª Expedição Caminhos dos Gerais, que percorreu os quatro cantos deste rincão norte mineiro, levando na garupa ambientalistas, jornalistas, professores e convidados para conhecerem, divulgarem e protegerem os recursos naturais da região.
“Menino de coração verde”, como o definiu o músico Tino Gomes, Paulinho levava o meio ambiente muito a sério. Suas realizações como gestor municipal da área mostram que é possível preservar o ambiente com medidas simples a partir das cidades.
Não foi pouca coisa o que ele fez pelo planeta. Tudo começou há 42, quando ele saiu de Montes Claros rumo ao Rio de Janeiro, para trabalhar com o tio Darcy, então vice-governador no primeiro mandato de Leonel Brizola e idealizador dos CIEPs, os revolucionários centros de educação integral. Com apenas 20 anos, Paulinho foi o catalizador da luta pelo tombamento de todas as praias do Rio de Janeiro, medida que as protegeu da especulação imobiliária, além de preservar a vegetação e os animais da Mata Atlântica.
“A extensão do tombamento vai da Praia de Grumari até Paraty e Trindade, pelo litoral sul; e por Búzios, Cabo Frio, manguezais de Campos, pelo litoral norte”, registrou Ucho Ribeiro, irmão de Paulinho.
Como secretário municipal de Meio Ambiente, Paulo Ribeiro implementou vários projetos inovadores em Montes Claros. Um deles é o “Ecocrédito”, na gestão do ex-prefeito Athos Avelino, que é uma carta de crédito concedida a pequenos proprietários rurais que cercam e protegem nascentes, cujo valor pode ser descontado no pagamento de tributos municipais e até na compra de insumos no comércio local. Transformando produtores rurais em ambientalistas, a iniciativa serviu como modelo para vários municípios brasileiros. Além dos programas “Vale verde” que garante ônibus de graça para visitar os parques; e o “Onda verde” que libera acesso gratuito à internet nas áreas verdes da cidade, na gestão do ex-prefeito Humberto Souto.

 

Abaixo, artigo da jornalista Laura Murta publicado em 13 de setembro de 2021, na Revista Verde Grande.

PAULO RIBEIRO: UM CAVALEIRO DA UTOPIA

Por Laura Murta
Paulo Ribeiro foi sociólogo e Secretário Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, cargo que ocupou entre os anos de 2005 a 2008 e depois entre os anos de 2017 e 2021, quando faleceu; Foi presidente da Fundação Darcy Ribeiro, no período de 2008 e 2016 e manteve-se membro do Conselho Curador da instituição desde a sua criação, em 1997 até o fim da sua vida. Foi assessor do político e escritor Darcy Ribeiro na Secretaria Extraordinária de Ciência e Cultura do Estado do Rio de Janeiro; na Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais e no Senado Federal.
Presidiu: a Fundação Roquette Pinto, administradora da TVE Brasil e da Rádio MEC, vinculada à Secretaria Nacional de Comunicação da Presidência da República; a Rede Minas de Televisão; a Companhia de Habitação de Minas Gerais – Cohab.
Paulinho, como sempre foi chamado, não era e nunca foi sintético. Abundante, inquieto, dado a rompantes, inteligente, irreverente, despudoradamente corajoso, sempre foi um apaixonado pela vida, por sua cidade, por sua gente, sua história. Vocacionado para o fazer coletivo, um eterno menino do dedo verde!
Paulo Ribeiro, sexto filho de Mário e Jacy Ribeiro, sobrinho predileto de Darcy Ribeiro. Quando menino sonhava ser escoteiro ou Papa. Na medida em que cresceu, cresceram os sonhos e Paulinho ganhou novos rumos, ampliou os horizontes, saiu de Montes Claros, sem deixar que a cidade saísse dele. Foi estudar ciências sociais na Universidade Federal Fluminense, viver o Rio de Janeiro no auge dos anos 1980. Despudorado, livre, criativo, Paulinho cresceu cercado de privilégios, como bem reconhecia, mas foi exatamente por isso que se impôs uma tarefa de fazer pelo outro aquilo que a vida se encarregara de fazer por ele.
Com a mãe, Dona Jacy, Paulinho dizia ter aprendido sobre a beleza e o bem viver como um direito a ser legitimado para todos. Mãe jardineira, poetisa, apaixonada pelo sertão, por Montes Claros, por sua gente, Paulinho a “culpava” por tê-lo feito crescer com esse sentimento, essa obrigação.
No emaranhado de gentes que formaram o homem Paulo Ribeiro é que se percebe a sua habilidade em fazer caber nos seus passos, passos de tantos outros. Do pai, Mário Ribeiro, admirava a genuína astúcia de um ser político. Do tio Darcy Ribeiro, tornou-se um discípulo, herdou a audácia, a capacidade de sonhar grande para realizar grande também. Paulinho gostava de gente, e de gente com boas ideias, a ponto de incorporá-las e concretizá-las. Conhecedor dos estudos de Simeão Ribeiro, um grande pesquisador e defensor das nossas riquezas, Paulinho passou a sonhar e lutar pela criação do Parque Estadual da Lapa Grande. Com o avô Pacífico aprendeu ainda menino que gente sem verde não segue em frente. Foi ouvinte e aprendiz de Ivo das Chagas, José Gonçalves Ulhôa, Célio Valle, Apolo Lisboa, ouviu Irineus, Tonhos, Necretos, Josés, Geraldos, Marias, Aritana, vida a fora.
Como secretário Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, pasta que ajudou a implementar no período de 2005 a 2007, procurou construir de forma regimental políticas públicas permanentes e irreversíveis para a conservação de áreas verdes no município e a consolidação do processo de educação ambiental. Em sua primeira gestão criou um amplo programa de arborização urbana, com o plantio e a distribuição de mudas em toda a cidade, contribuindo para uma Montes Claros mais bonita, arborizada, colorida e com muito mais verde em todos os bairros, praças e jardins. Paulinho tinha orgulho de ser autor da Lei Municipal do Ecocrédito, primeira lei brasileira que previa o pagamento aos produtores rurais pela preservação ambiental, sobretudo, em áreas de recarga e nascentes. Primeira lei de proteção ambiental que estabelece com o pequeno produtor rural uma relação de parceria e corresponsabilidades.
Outro filhote que o orgulhava era o Vale Verde, uma espécie de passe livre, com a gratuidade do transporte coletivo aos fins de semana e feriados para áreas verdes da cidade, especialmente os parques municipais. Ele também coordenou o processo de criação do Parque Estadual da Lapa Grande, com o objetivo de proteger os mananciais e grutas, além do sítio arqueológico presente na Unidade de Conservação. Foi o idealizador da Expedição Caminhos dos Geraes, criada com a tarefa de avaliar a situação do patrimônio natural da região, catalogando espécies e avaliando possíveis danos ambientais decorrente do uso inadequado dos recursos naturais por empreendimentos, como a silvicultura, a mineração e a produção de carvão na região. Além de produzir um inventário ambiental da região, a Expedição Caminhos dos Geraes tem mapeado os atrativos turísticos do Norte de Minas, rompendo com o estigma de que somos uma região pobre, desprovida de belezas e atrativos.
Paulinho foi Secretário Municipal de Comunicação e Articulação Institucional, inaugurando uma experiência de abertura do diálogo da Administração Municipal com a cidade e os seus diversos públicos.
Foi presidente do Diretório Estudantil de Montes Claros – DEMC, de 1979 a 1980. Tinha um orgulho danado por ter realizado na Praça da Catedral de Montes Claros o primeiro grande Ato Público contra a ditadura militar da cidade.
Foi presidente da Fundação Darcy Ribeiro (FUNDAR) – Instituição cultural e educacional, de pesquisa e desenvolvimento científico, criada por Darcy Ribeiro com o objetivo de manter vivos seu pensamento e ideias.
Enquanto esteve presidente da Fundar, Paulinho realizou o sonho derradeiro de Darcy: Pousar, numa espécie de oca voadora, uma mistura de casa xinguana e disco voador, o Memorial Darcy Ribeiro, o Beijódromo da UnB. Inaugurado por dois presidentes da república, Luís Inácio Lula da Silva e Pepe Mujica, à época presidente do Uruguai e ministros de estado, artistas e intelectuais. Junto com os índios que Darcy ajudou a salvar com a criação do Parque Indígena do Xingu, Paulinho celebrou o seu Kuarup. Publicou coleções, livros e tantos outros fazimentos.
Foi assessor de Darcy Ribeiro na Secretaria Extraordinária de Ciência e Cultura do Estado do Rio de Janeiro e na Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais e no Senado Federal. Presidiu: A Fundação Roquette Pinto, administradora da TVE Brasil e da Rádio MEC, vinculada à Secretaria Nacional de Comunicação da Presidência da República; A Rede Minas de Televisão; A Companhia de Habitação de Minas Gerais – Cohab. Criou e implantou em Montes Claros a TV Geraes, emissora educativa e com forte produção local.
Nos últimos três anos, como Secretário Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, criou os Parques Sagarana, Canelas, Belvedere, Mangues e Jardim Olímpio; implantou o Onda Verde, programa que leva internet de graça para os parques e praças da cidade, e o Artes nas Praças, programa que vem impactando Montes Claros, com várias esculturas espalhadas pela cidade. Paulinho conseguia enxergar longe, soluções duradoras. Foi o articulador e mediador de uma experiência de ressocialização de apenados do sistema prisional, instituindo numa parceria entre a Prefeitura e o Ministério Público o projeto Muito além das prisões, uma oportunidade de formação de mão de obra e cidadania para homens e mulheres que cumprem medidas restritivas de liberdade.
Liberdade, palavra que expressa a natureza do Paulinho. Liberdade que era condição elementar para tudo o que ele fazia ou sonhava fazer.
Nascido numa cidade já centenária e numa família que desde sempre o fez reconhecer a singularidade de ser de Montes Claros. Paulinho acreditava que ser de Montes Claros o tornava diferente de tudo. Cresceu vendo potência em tudo o que era daqui. Cresceu com orgulho por ser daqui. E foi com esse sentimento, de orgulho e de gratidão, que pautou a sua caminhada, projetando o futuro, cuidando do presente e respeitando o seu passado e a lança apontada para a lua

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