Na sexta passada, dia 18.10.2024, às 16 horas, ocorreu um grande evento na cidade de Bocaiuva e dentro da área do Hospital Municipal Dr. Gil Alves. O acontecimento cerimonioso teve como objetivo, entronizar o busto daquele que cuidou da saúde de Bocaiuva, por longos 60 anos.

Os seus familiares de várias cidades de Minas e de outros estados do Brasil marcaram presenças, como as filhas, Gilca ,Gilva, Gilce, a irmã do homenageado, Lysia Alves Simões, e outros tantos e tantos parentes.

O cerimonial sob a excepcional batuta de Sônia Gontijo, teve início sob o som suave e harmonioso do grupo musical do Conservatório Lourenzo Fernandes. Primeiramente, com as palavras elogiosas e católicas, através do padre Antônio Oliveira Maia. Em seguida vieram as orações cristãs do pastor Jamildo Ferreira Leite. Falaram depois o prefeito Roberto Torres e o governador do Rotary Nelson Fonseca Leite. Por fim, a ilustre e premiada filha, do homenageado, a senhora Gilca Alves Wainstein.

Ela, mesmo com o coração transbordando de emoção, manteve-se na mesma loquacidade conhecida e brilhante. Terminou agradecendo a todos pelas suas honrosas presenças!

À noite houve jantar para todos parentes e alguns amigos no Salão do Rotary Clube de Bocaiuva, onde foram recebidos pela presidente Maria de Fátima Caldeira Valle.

Registra-se que tal ocorrência festiva e merecida, do agrado geral dos bocaiuvenses, foi de total responsabilidade da família do saudoso Dr. Gil Alves. Desde a execução do projeto do busto, sua colocação no lugar apropriado, o jantar, e outras obrigações, sempre estiveram por conta da família do homenageado. A Prefeitura apoiou e prestigiou o nobre desejo da família de Dr. Gil Alves, sem qualquer ônus ou encargo. E o Rotáry Clube de Bocaiuva participou com a sua conhecida e necessária ação de apoio.

Assim, para se reafirmar que centenas de bocaiuvenses e visitantes aprovaram a merecida e oportuna homenagem.

Dr. Gil Alves nasceu na histórica cidade de Sabará, Minas Gerais, em 30 de julho 1906 e era filho de João Alves Júnior e Filomena da Silva Alves.

Foram padrinhos de batismo os seus avós paternos, João Alves e Flausina Alves.

Teve instrução primária ministrada pela educadora mineira, dona Augusta Azeredo. O seu curso ginasial foi feito no antigo Ginásio Mineiro, em Belo Horizonte. Nessa época residia na cidade de Raposos, de onde vinha e voltava no trem suburbano da antiga Central do Brasil.
Rapaz cheio de entusiasmo e vigor, ele se tornou excelente atleta, despontando como verdadeiro craque de futebol, quando defendeu as cores do time Alves Nogueira Futebol Clube, de Sabará. Abandonou o futebol ao fraturar o braço e depois uma perna.

Entrou para a Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais em 1929. E, para custear os seus estudos, em 1930 trabalhou como praticante na Secretaria das Finanças.
Colou grau em medicina em 12 de dezembro de 1933, quando seus colegas da Secretaria das Finanças o presentearam com um anel simbólico que ele conservaria para sempre.

Antes de findar o seu curso de medicina, veio conhecer a tão longínqua e sertaneja Bocaiuva, em companhia do Cel. Pedro Caldeira Brant – o lendário Pepedro. E mudou-se, definitivamente, para o Norte de Minas, em 8 de janeiro de 1934. No entanto, duvidoso e receoso com as agruras do Sertão, tinha comprado a passagem de trem – ida e volta. Guardou-a de souvenir por muitos anos no cofre de seu consultório, na então Praça Benedicto Valladares, hoje Praça Wan-Dyck Dumont. Observa-se, também, que o então renomado Cel Pepedro tem, uma praça consagrando à sua memória. Ora ela é conhecida por Praça dos Coqueiros.

Em 31 de julho de 1935, Dr. Gil trouxe também a esposa dona Carmélia Alves, com a qual se tinha casado um dia antes, lá na sua querida Sabará.

Em 7 de junho de 1936, era eleito vereador à Câmara Municipal de Bocaiuva. Foi empossado em 09 de agosto do mesmo ano.

Estava no mesmo partido do protetor e amigo, o Cel. Pedro Caldeira Brant (Pepedro) e por sete votos foi eleito Secretário da Câmara.

Do seu casamento com dona Carmélia nasceram os filhos Gilca, Gilson (falecido), Gil-Gilzinho- (falecido), Gilvan (falecido), Gilse, Gilsa, Gilva e Gilma.

Ainda teve uma filha fora do casamento e de nome de Telma. Esta faleceu ainda jovem, vítima de acidente. Telma era casada com o advogado e político, Evani Pereira sendo que o casal residia em Montes Claros. O Evani também é falecido.

Além da profissão de médico, que exerceu com dignidade e méritos, por infindos anos, o Dr. Gil foi uma presença indispensável ao desenvolvimento da cidade de Bocaiuva.

Foi de fundamental importância na criação do Bocaiuva Clube, tornando-se o seu patrono. Assim também, indispensável na formação de alguns times de futebol na cidade, como o Cruzeiro Esporte Clube, Juventus Futebol Clube e o glorioso Time Vera Cruz. Presença ativa, na instituição da Associação Beneficente Operária, da Fundação Graciema e pessoa manifesta e essencial na criação do primeiro Rotary Clube de Bocaiuva – Distrito 458, no final dos anos cinquenta, assim como está historicamente lavrado: “aos quinze (15) dias do mês de março de 1957, reuniu-se o Rotary Club de Bocaiuva em sua primeira reunião ordinária após eleita sua diretoria provisória e a quarta reunião desde o início dos entendimentos para sua fundação e legalização.

O companheiro Vivaldo deu início aos trabalhos, empossando a diretoria que havia sido eleita na reunião próxima passada e que foi a seguinte: Presidente – Gil Alves, Vice-presidente – Raimundo Geraldo Dias, 1º Secretário – Sebastião Caldeira Brant, 2º Secretário – Paulo Pinheiro Borges Diniz, 1º Tesoureiro – Afrânio Caldeira Brant, 2º Tesoureiro – José Augusto Figueiredo, Diretor de Protocolo – Vivaldo do Rosário Santos Macêdo, Diretores – Odilon Loures, Hélio Alves Carneiro e Romeu Barcelos Costa. O presidente Gil Alves, empossado, iniciou os trabalhos sob sua presidência com uma salva de palmas acompanhado dos demais, em homenagem ao Pavilhão Nacional. O presidente Gil Alves, empossado, iniciou os trabalhos sob sua presidência com uma salva de palmas acompanhado dos demais, em homenagem ao Pavilhão Nacional. Usou ainda da palavra o Dr. Gil Alves, que após uma prolongada preliminar sobre sua sempre boa vontade e empenho em participar de tudo que vem para o bem de Bocaiuva e seu povo, entrou no conteúdo de seu valioso discurso e que, por ser escrito, ficará arquivado neste livro. Ao findar foi acaloradamente aplaudido.
É bom se referir que o seu prestígio fora indispensável, quando da criação da Companhia Telefônica de Bocaiuva (COTEBO). Além e principalmente, de sua consagrada gestão, com demais cidadãos bocaiuvenses, na criação do Ginásio Senhor do Bom Fim de Bocaiuva e ocorrido, também, ao final da década de 1950.

Assim, a história lavrou para a posteridade: o Ginásio Senhor do Bom Fim foi fundado em 1957, através de (abnegados homens públicos de Bocaiuva como: Doutor Gil Alves Presidente do Rotary Club de Bocaiuva, nº.458, José Brandão Filho, (Presidente da Câmara Municipal de Bocaiuva), Vivaldo do Rosário Santos de Macêdo, (Gerente do Banco Mineiro da Produção em Bocaiuva), Gentil Ribeiro da Silva Presidente da Fundação Graciema em Bocaiuva, José Alves Carneiro (comerciante nesta cidade), Dr.Paulo Pinheiro Borges, dentista e o Sr. João Luiz de Almeida, professor em Montes Claros, Geraldo Versiani e outros tantos ilustres cidadãos.
Enfim, o Doutor Gil envolveu-se, em todos os movimentos que trariam melhoramento e desenvoltura para Bocaiuva, considerada a sua segunda terra. A ele, em determinada época e por louvado merecimento, foi lhe outorgado o Título de Cidadão Bocaiuvense. Embora muito prestigiado, sua incursão na área política fora fugaz. Não quis se aprofundar nessa época espinhosa, principalmente em cidade do interior.

Fosse esse o seu desejo, na certa teria governado Bocaiuva por diversas vezes. Mas, preferiu somente ajudá-la a romper sua morosidade, própria das pequenas cidades do interior do Norte de Minas. Foi autor de belos discursos escritos, em variadas ocasiões e eventos na cidade. Verdadeiras preciosidades que, se guardadas, mereceriam uma excelente publicação.

Tendo sido fazendeiro próspero, de muitas terras e muito gado, quando a velhice se lhe anunciou e, ainda gozando de muita saúde, preferiu dividir os seus bens com os filhos e genros.
Em 1959, quando completou 25 anos de profissão, exercendo a medicina nesse município e região, o Dr. Gil foi alvo de manifestações por todas as camadas sociais da cidade. Todos compartilharam da justa homenagem.

Nos seus festivos 80 anos, ocorreram ao final de julho de 1986, e se presenciaram muitas comemorações. Uma delas teve como palco o britânico e requintado Bocaiuva Club. A Casa esteve lotada com as presenças de parentes e amigos do Dr. Gil Alves.

“Toda família do homenageado, composta da esposa, filhos, irmão, cunhados, genros, sobrinhos, neto, etc. esteve reunida com amigos de Bocaiuva e procedente de Belo Horizonte, Montes Claros, Sabará e outras localidades.

A festa transcorreu em ambiente de muita cordialidade, onde, todos se sentiram felizes ao cumprimentar o aniversariante. Diversos oradores se fizeram ouvir fazendo saudações ao Dr. Gil.
Inicialmente, o Prefeito Wan-Dyck Dumont, em nome da municipalidade, lembrou os destacados serviços prestados a Bocaiuva pelo homenageado. A seguir, falou Romeu Barcelos Costa, Dr. Noraldino Silveira, Dr. João do Valle Mauricio, Dr. Francisco de Alencar Carneiro (seu Gote) e outros. Todos eles enaltecendo as incontestáveis qualidades do nosso prezado amigo Dr. Gil Alves. Por último, falou a Dra. Gilca Alves Wainstein que, num belo improviso, agradeceu, em nome da família, às demonstrações de carinho tributadas ao seu pai.

Devemos acrescentar que o Dr. Gil, durante longo período, foi o único médico deste município, atendendo não só a cidade, mas, também à zona rural, a qualquer hora, sempre com a mesma dedicação. Muitas vidas foram salvas, graças ao seu devotado desempenho.

O Dr. Gil se fez muito querido e conquistou a admiração dos bocaiuvenses, tomando parte ativa nas promoções sociais e nas que contribuíram para o desenvolvimento de nossa comunidade.

O Bocaiuva Club, por exemplo, onde foi realizada a sua festa, teve na sua pessoa um dos mais entusiastas e efetivos fundadores. Sendo ele o seu patrono.

Chegou à cidade de Bocaiuva logo após a sua formatura e aqui permanece por infindáveis anos, ou seja, 60 anos!

O título de Cidadão Honorário Bocaiuvense, que recebeu da Câmara Municipal foi um dos mais justos e merecidos que tem sido outorgado. Não somente pelos relevantes serviços prestados à nossa comunidade, mas porque temos absoluta convicção de que ele é bocaiuvense de coração.
Na ocasião do relevante evento foi servido farto almoço, assim como muitas bebidas. – Jornal A Voz de Bocaiuva – julho de 1986)”.

Já viúvo, idoso, ainda muito lúcido, depois de ter morado por 60 anos em Bocaiuva, ele se transferiu para Montes Claros, onde passou a viver com a sua companheira de nome Telma, o mesmo nome de uma sua filha fora do casamento.

Vinha a Bocaiuva todos os meses, para resolver pequenos negócios e cortar o cabelo com João Maia, filho de Dilo Maia, seu barbeiro de muitos anos. Nessas ocasiões, não negava um dedo de prosa com os inúmeros amigos que aqui ficaram, na verdade a cidade inteira, porque também os mais jovens aprenderam admirá-lo.

A sua morte ocorreu aos 90 anos de idade, em 19 de outubro de 1996. Assim, veio à baila o término do ciclo histórico de uma improvisada e quase artesanal medicina em Bocaiuva. Encerrou-se o exercício de uma ciência cujo objetivo, conforme ensina os compêndios, é manter a saúde e curar doenças. Uma área, magistralmente executada por Doutor Gil Alves. E, com todas as carências e dificuldades que o passado impunha ao chamado médico de família, que tratou e curou uma infinidade de gente.

Desaparecia o velho “médico do interior” que se notabilizara pelo amor e dedicação, diante da situação precária de uma cidade interiorana e inimiga do progresso, como era Bocaiuva em priscas eras. Sem clínicas e hospitais, e com poucas farmácias. Para se atender as receitas, os remédios eram manipulados e depois, em papelotes, entregues aos pacientes.

Quando o paciente era da zona rural, sem poder se locomover mandava em seu lugar um parente para a devida consulta médica.

O referido parente detalhava ao médico, muito atento aos “incômodos” do doente e a receita era aviada e transferida ao farmacêutico, que produzia o medicamento prescrito. A coisa sempre funcionava assim e muitas vezes se lograva êxito.

As cirurgias, quando necessárias, eram um drama para o doente e sua família, pois havia necessidade de deslocamento, via-férrea, até a capital do Estado.

O nosso saudoso Dr. Gil Alves viveu muitos e quase infindáveis anos nesse dificultoso universo. Mesmo só dispondo de escassos recursos, ele efetuou algumas cirurgias – grandes e pequenas. Certo é que no mesmo ano em que aportara por aqui, teve de amputar a mão – já gangrenada – de um conhecido carroceiro de nome José Lopes Sobrinho (Juquinha), vítima de um acidente. A cirurgia salvou a vida do acidentado.

Outras pequenas operações eram feitas rotineiramente pelo Dr. Gil. Numa emergência ele fez até uma operação de amígdala no meu pai José Brandão Filho. A bem da verdade, o hospital de Bocaiuva, inaugurado pelo presidente da república, o marechal Eurico Gaspar Dutra em 18 de junho de 1950, só vindo a funcionar no ano de 1952.

Alguns anos após a sua morte, por gratidão e profundo reconhecimento do povo e dos dirigentes bocaiuvenses, o majestoso hospital municipal de Bocaiuva passou a se chamar: Hospital Municipal Doutor Gil Alves.

Respostas de 8

  1. JUCÃO:
    Como sempre uma História escrita com muita a sapiência, credibilidade e riqueza de detalhes.
    Parabéns, amigo, por mais um valioso trabalho, narrando fatos pertinentes e valorosos para nossa HISTÓRIA e valorando com Justiça os nossos importantes personagens!

  2. Parabéns aos elogios feito a esses ilustres personagens da nossa querida Bocauiva primo !!! O seu talento é excepcional….bjs

  3. Juca…. Você é o Cara… rsrsrs… muito obrigada pelas lindas palavras grande historiador e escritor… voltei ao passado e senti imensa saudade da época que morava aqui…lembrou-me muitas passagens da vida do Papai, muito amado e querido por nós…fiquei muitíssimo emocianada e lágrimas vieram aos meus olhos….abraços saudosos

  4. Parabéns, Juca! Seu texto nos emocionou e nos remeteu à nossa infância e juventude em Bocaiuva. férias na fazenda, malhação do judas, festas juninas, passeio na praça e hora dançante no clube! Lembrou de fatos e passagens incríveis de nossos saudosos e inesquecíveis papai e mamãe. Obrigada por essa preciosa homenagem! Testemunho de um amigo que conviveu conosco aquele lindo e saudoso tempo em nossa querida Bocaiuva!👏🏿👏🏾👏🏽👏🏼👏🏻

  5. Parabéns, Juca! Seu texto nos emocionou e nos remeteu à nossa infância e juventude em Bocaiuva. férias na fazenda, malhação do judas, festas juninas, passeio na praça e hora dançante no clube! Lembrou de fatos e passagens incríveis de nossos saudosos e inesquecíveis papai e mamãe. Obrigada por essa preciosa homenagem! Testemunho de um amigo que conviveu conosco aquele lindo e saudoso tempo em nossa querida Bocaiuva!👏🏿👏🏾👏🏽👏🏼👏🏻

  6. Parabens, Doutor Juca Brandão!!! Você, sempre surpreende, com sabedoria, ênfase, conhecimento e um repertório invejável, as histórias, da nossa querida cidade!!! Amo os seus depoimentos e reportagens!!! Continuem a nos enriquecer, com esse dom espontâneo, que você sempre teve!!! Marisa V. Reis.

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