Vejam vocês que ironia. Não tivesse havido golpe, estaríamos agora entrando em uma eleição limpa, tranquila e muito provavelmente, com a saída democrática de 16 anos de governos do PT.

Porque, se Dilma prosseguisse, o PT não despontaria como o favorito de agora. Seria dificílimo, quase impossível, encaixar mais uma vitória.

Estaríamos vivendo, neste momento, um cenário de consolidação da democracia. Teríamos várias forças políticas ascendendo e participando do pleito de maneira soberana.

Teríamos debate, autoestima e um pouco mais de clareza diante da economia e dos avanços sociais. Teríamos espaço para projetos novos de gestão, para sínteses dos legados deixados pelo PT e mesmo pelo PSDB.

Possivelmente, não teríamos a gasolina nesse preço exorbitante, muito menos o gás de cozinha. Não teríamos massacres em presídios, genocídio de índios, escalada de feminicídios, escalada de violência e essa enxurrada de casos de racismo.

Estaríamos discutindo mais investimento no programa Ciência Sem Fronteiras (que saudade), a ampliação do Prouni, do Fies, a consolidação dos 6 novos campi universitários gigantescos recém construídos e espalhados pelos país.

Não houvesse o golpe, estaríamos mais felizes, mais tranquilos, com o emprego em níveis muito mais razoáveis e com a sensação de bem estar social assegurada para o habitual espetáculo de logística eleitoral que o Brasil sempre deu ao mundo, com apurações rápidas e comparecimento massivo.

Óbvio que fica a pergunta: e o congresso? E a imprensa? A resposta é uma pergunta: eles ficaram relativamente controlados durante 13 anos, porque não poderiam ficar por mais três?

Outra resposta para isso também é pública e notória: Dilma Rousseff cortou a movimentação abusiva de propinas nas estatais administradas pela coalizão governista. Cunha, Aécio, Jucá, Geddel, Padilha e Temer começaram a ter vida muito difícil com aquela mulher honesta cafungando no cangote.

Mas, a página virou. Estamos aqui na iminência de um novo colapso social com o julgamento abusivo do maior presidente da nossa história (quem diz isso são as pesquisas, embora eu prefira olhar nos olhos de cada cidadão do povo e ter essa certeza).

Estamos com o tecido social e político completamente esgarçado, destruído, dizimado. Não há discurso, não há partidos, não há projetos. Não há, sequer, cobertura da imprensa – que se limita a produzir seus press releases mecânicos e repetitivos.

Diante de terra tão devastada, a única força política que se manteve operante – e, mais que isso, até cresceu – foi Lula e o PT. Fácil de explicar: é a única força política genuína de fato, não um aglomerado de interesses difusos, erráticos e oportunistas, como sói acontecer em todos os outros partidos, com exceções aqui e ali – e de pessoas, não de programas.

Resumo da ópera: deu tudo errado para o golpe. Por mais que seja possível a inabilitação de Lula, seria só uma inabilitação eleitoral. A força política e simbólica dele está onde jamais esteve. É o momento mais impressionante de toda a carreira política de Lula. Ele dá todas as cartas, é dono do baralho e ainda tem a antológica sorte de sempre. O sujeito é pé quente.

Resta lamentar esta situação estrutural por um lado, celebrar o fracasso dos maus perdedores por outro e, finalmente, cerrar os dentes e os punhos para garantir que as eleições se deem em um processo minimamente democrático e soberano. Essa é missão histórica que foi imposta ao povo brasilerio neste exato momento: garantir a democracia, custe o que custar.

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* Gustavo Conde é músico, linguista e professor. Lida com teorias do humor e com os processos de produção do sentido político. É autor do Blog do Conde, espaço de discussão de temas políticos, acadêmicos e literários 

Não esqueçam dos golpistas de Minas Gerais

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