NEOFASCISMO – Para agradar o eleitorado, a líder neofascista tomou um banho de marketing, mas manteve agenda anti-aborto e contrária aos direitos civis LGBT
O resultado oficial da eleição italiana confirmou a boca de urna divulgada neste domingo (26) e que dava vitória à extrema direita: a coligação liderada por Giorgia Meloni, do Partido Irmãos da Itália, obteve 43% dos votos. Além da legenda de Meloni, também vão compor o novo governo o partido de Silvio Berlusconi, o Força Itália, e A Liga, de Matteo Salvini.
Em seu primeiro discurso, Giorgia Meloni declarou que vai trabalhar para unificar a Itália. “Se fomos escolhidos para governar este país, nós o faremos por todos os italianos, com a vontade de unir o povo e de no concentrarmos naquilo que nos une, e não naquilo que nos divide. Chegou a hora da responsabilidade”, declarou a líder da extrema direita italiana.
A esquerda italiana, representada pelo Partido Democrático (PD) foi atropelada pelos neofascistas e obtiveram apenas 19% dos votos.
Deus, Pátria e Família
A vitória de Giorgia Meloni traz muitas dúvidas e ceticismo entre os países da União Europeia, pois, mesmo que tenha estrategicamente suavizado o seu discurso durante a campanha, a líder da extrema direita não esconde o seu apreço por Benito Mussolini, líder fascista que governou a Itália de 1922 a 1943.
Giorgia Meloni nasceu em 15 de janeiro de 1997, na cidade de Roma. De família pobre, teve o seu primeiro contato com a política ainda na adolescência quando, aos 15 anos de idade, foi morar com a sua mãe em Garbatella, distrito considerado uma área da classe trabalhadora localizado ao sul de Roma.
Aos 15 anos, Giorgie Meloni ingressou nas fileiras da Frente Jovem do Movimento Social Italiano (MSI), que foi fundado por órfãos do fascismo após a queda de Mussolini.
Desde sempre, Meloni foi contrária à comemoração do Dia da Libertação do nazifascismo, pois, para a futura primeira-ministra da Itália, Mussolini “era um bom político. Tudo o que ele fez, ele fez pela Itália”.
Nos anos 1990, especificamente em 1996, Giorgia Meloni se tornou a líder nacional da Ação Estudantil, fração do movimento jovem da Aliança Nacional, a nova face do MSI. Por conta do seu estilo direito e com boa retórica, Meloni foi eleita vereadora na província de Roma.
A trajetória de Giorgia Meloni era acompanhada pela imprensa italiana que a classifica como uma “ascensão meteórica” ao deixar para trás antigas lideranças masculinas e, aos 29 anos, ser eleita à Câmara dos Deputados, da qual foi vice-presidente até 2008, quando foi nomeada Ministra da Juventude pelo então primeiro-ministro Silvio Berlusconi, que hoje compõe a coligação de Meloni.
Pandemia e ascensão política
Assim como outros líderes da extrema direita, Giorgia Meloni se aproveitou da pandemia e das políticas sanitárias de lockdown para ganhar popularidade.
Fez dura oposição ao governo de Mario Draghi, o qual classificou como “incompetente” no contorno aos danos causados pela crise sanitária.
Assim como o presidente do Brasil, Meloni também nutre admiração pelo governo de extrema direita de Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, e pelos ultradireitas espanhóis do Vox.
Em defesa da família e contrária aos direitos civis LGBT
Além do negacionismo, Meloni possui outras agendas em comum com a extrema direita ocidental: extinção dos partidos de esquerda, antiaborto, discurso pró-família e pela revogação dos direitos civis LGBT.
Por mais de uma vez, Meloni declarou que os seus inimigos são os “burocratas de Bruxelas, o coletivo LGBT e o salão de festas da esquerda”.
O jornal argentino Página 12 resgatou o trecho de um discurso de Giorgia Meloni durante um ato do Vox, na Espanha, que dá sinais do que pode ser o seu governo:
“Não há mediações possíveis, sim ou não é dito. Sim para a família natural, não para o lobby LGBT; sim à identidade sexual, não à ideologia de gênero; sim para a cultura da vida, não ao abismo da morte; sim à universalidade da cruz, não à violência islâmica. sim para proteger fronteiras, não à imigração em massa”.
Também chamou atenção durante a campanha uma proposta obscura de Giorgia Meloni de incentivo à procriação que beira o eugenismo mais obscurantista.
Com o triunfo na eleição nacional, Giorgia Meloni deve se tornar a primeira-ministra de extrema direita a governar a Itália desde Benito Mussolini.