O ministro Alexandre de Moraes retirou nesta segunda-feira (15) o sigilo sobre uma gravação colhida durante a investigação de um esquema de espionagem ilegal na Abin durante a gestão Bolsonaro.
A gravação, feita clandestinamente pelo deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), revela um plano discutido entre ele, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-ministro Augusto Heleno.
De acordo com a decisão, os advogados de Richards Dyer Pozzer e Mateus de Carvalho Sposito, investigados pela Polícia Federal, solicitaram acesso aos autos do processo, e foram atendidos pelo ministro.
“Ressalto, ainda, que, a eventual divulgação parcial – ou mesmo manipulação – de trechos da Informação de Polícia Judiciária nº2404151/2024 (fls. 334-381), bem como da gravação nela referida, tem potencial de geração de inúmeras notícias incompletas ou fraudulentas em prejuízo à correta informação à sociedade”, explicou Moraes ao retirar o sigilo do material.


O relatório da Polícia Federal, base para a quarta fase da Operação Última Milha, revela que Ramagem gravou uma reunião de mais de uma hora com Bolsonaro e Heleno em que discutiam um plano para abrir procedimentos contra os auditores da Receita Federal que embasaram a investigação das rachadinhas contra o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
O caso envolvia desvios de salários de funcionários do gabinete do filho de Jair Bolsonaro quando era deputado na Assembleia Legislativa do Rio.
No áudio, segundo a PF, é possível identificar Ramagem indicando a necessidade de instauração de procedimentos administrativos contra os auditores da Receita com o objetivo de anular a investigação e retirar alguns auditores de seus cargos. A gravação corrobora a premissa investigativa de que houve irregularidades cometidas pelos auditores da Receita na confecção do Relatório de Inteligência Fiscal que deu origem à investigação.
A gravação também revelou que Marcelo Araújo Bormevet, policial federal, e Giancarlo Gomes Rodrigues, subtenente do Exército, participaram de ações ilegais para “achar podres e relações políticas” dos auditores da Receita que confeccionaram o relatório. Os auditores mirados eram Christiano José Paes Leme Botelho, Cleber Homem da Silva e José Pereira de Barros Neto.
A Polícia Federal suspeita que Ramagem tenha realizado outras gravações do ex-presidente durante seu mandato. Os investigadores estão vasculhando minuciosamente todos os arquivos do computador do ex-diretor da Abin, onde o áudio foi descoberto.
O computador de Ramagem foi apreendido em janeiro, durante uma operação de busca e apreensão em sua residência em Brasília. A pessoas próximas, o bolsonarista afirmou não se recordar de ter feito a gravação e que não é de sua natureza grampear indivíduos.
Bolsonaro ficou extremamente irritado ao saber do áudio e pelo fato de Ramagem ter mantido o arquivo em seu computador. Apesar disso, tanto o ex-capitão quanto Flávio Bolsonaro confirmaram que o parlamentar permanece como candidato à prefeitura do Rio, embora a campanha deixe claro que a confiança foi abalada.
Entre os aliados e a família Bolsonaro, cresce o temor sobre a possível existência de outras gravações feitas por Ramagem durante seu tempo como chefe da Abin.

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