Relatório aponta que um regime que limita o consumo de carne vermelha e açúcar poderia evitar 11 milhões de mortes prematuras por ano.

Como alimentar de maneira saudável 10 bilhões de humanos até 2050 e ao mesmo tempo preservar o planeta? Um relatório divulgado nesta quinta-feira 17 pela revista The Lancet e a ONG Fondation EAT mostra que um regime que limita o consumo de carne vermelha e açúcar poderia evitar 11 milhões de mortes prematuras por ano, além de ajudar o meio ambiente.
De acordo com o relatório, que mobilizou 37 especialistas de 16 países, a dieta que protege a saúde e o meio-ambiente divide por dois o consumo de carne vermelha e açúcar e dobra a quantidade de frutas, legumes e oleaginosas.

Segundo o estudo, o ideal seria incluir todos os dias no cardápio 300 gramas de legumes, 200 gramas de frutas, 200 gramas de grãos completos como arroz, milho ou trigo, 250 gramas de leite e somente 14 gramas de carne vermelha.

Os especialistas, que preconizam uma “transformação radical dos hábitos alimentares”, sugerem o consumo de 29 gramas diárias de carne de aves, 28 gramas de peixe, 13 gramas de ovos ou 50 gramas de nozes em substituição à famosa picanha. As quantidades são suficientes para fornecer as proteínas que o corpo precisa. Além de ser bom para a saúde, evitando doenças como o diabetes, por exemplo, a dieta também contribuiria para o equilíbrio dos recursos naturais terrestres.

“Os regimes alimentares atuais fazem com que a Terra ultrapasse seus limites e geram doenças. Eles são uma ameaça para as pessoas e para o planeta”, escrevem os autores. O regime estabelecido pelos especialistas visa garantir um equilíbrio entre as necessidades de saúde da população mundial e o impacto no meio ambiente.

Isso não significa que as pessoas devem comer exatamente a mesma coisa, mas adaptar as recomendações à cultura, à geografia e à demografia. A regra é basicamente a mesma: dobrar o consumo de frutas, legumes e leguminosas e diminuir a cerne vermelha, o açúcar e os alimentos transformados, como refrigerante e embutidos, por exemplo.

Disparidades
Esses objetivos globais, obviamente, escondem enormes disparidades de acordo com o nível cultural e de desenvolvimento dos países. Nos Estados Unidos, por exemplo, o consumo diário médio de carne vermelha é de cerca de 280 gramas por dia, vinte vezes a mais do que o recomendado, enquanto em outros países a fome devasta a população.

Segundo o estudo, mais de 820 milhões de pessoas passam fome no mundo, 2,4 bilhões comem mais do que deveriam e metade da população mundial apresenta carências nutricionais.

Independentemente do consumo, os autores do relatório alertam para a necessidade de uma mudança radical nos modos de produção, diminuindo as monoculturas ou plantações que devastam florestas, geradoras de gases que provocam o efeito estufa. Outra prioridade é reduzir o desperdício de alimentos e as perdas nos processos de produção.

“A maneira como nós nos alimentamos é uma das principais causas das mudanças climáticas, da perda de biodiversidade e das doenças não-transmissíveis, como obesidade, doenças cardiovasculares ou diabetes”, declarou o professor Tim Lang, da Universidade de Londres, um dos autores do estudo. “Da mesma forma que nosso sistema de alimentação mudou radicalmente no século 20, pensamos que ele também deve mudar radicalmente no século 21”, conclui.

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