Nota técnica do Dieese aponta que política de valorização do salário mínimo amplia consumo, reduz desigualdades e fortalece a economia, com impacto direto sobre emprego e proteção social

A partir de 1º de janeiro de 2026, o salário mínimo (SM) oficial no Brasil será fixado em R$ 1.621,00, o que representa reajuste nominal de 6,79% em relação ao valor anterior. Reajuste impacta 61,9 milhões de brasileiros e injeta R$ 81,7 bi na economia; Previdência terá custo adicional de R$ 39,1 bi. De acordo com a Nota Técnica nº 289 divulgada nesta segunda (22) pelo Dieese, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, o reajuste real do piso nacional tem efeito direto na renda de milhões de trabalhadores, aposentados e beneficiários de programas sociais.
A política de valorização do salário mínimo volta a ocupar posição central na estratégia de desenvolvimento econômico e social do país. Após anos de estagnação e perdas inflacionárias, a recomposição do salário mínimo representa um movimento de reconstrução do poder de compra das camadas populares e de fortalecimento do mercado interno.
Com o novo valor, o salário mínimo passará a comprar 1,93 cestas básicas em São Paulo — o maior patamar desde 2019. Desde 2002, o piso nacional acumula ganho real de quase 100%, resultado da política permanente de valorização retomada em 2023 após anos de estagnação.

Impacto direto na redução das desigualdades
O estudo destaca que o salário mínimo é um dos instrumentos mais eficazes de redução das desigualdades no Brasil. Como parcela significativa da população recebe rendimentos vinculados a ele, qualquer ganho real tem efeito redistributivo imediato.
Além dos trabalhadores formais, o reajuste beneficia aposentadorias, pensões e benefícios assistenciais, ampliando a proteção social e reduzindo a vulnerabilidade econômica das famílias de baixa renda.
Estímulo à economia e ao mercado interno
Outro ponto central da nota é o impacto macroeconômico positivo. O aumento do salário mínimo impulsiona o consumo, especialmente nos setores de comércio e serviços, dinamizando economias locais e regionais.
Segundo a análise, o efeito multiplicador da renda nas camadas populares contribui para o crescimento econômico sem pressionar de forma relevante a inflação, contrariando argumentos recorrentes do discurso fiscalista.

Sustentabilidade fiscal e responsabilidade social
A Nota Técnica também rebate a ideia de que a valorização do salário mínimo compromete as contas públicas. O documento aponta que parte do impacto fiscal é compensada pelo aumento da arrecadação, decorrente do maior nível de atividade econômica.
Além disso, reforça que políticas de austeridade que comprimem renda tendem a aprofundar desigualdades e fragilizar a coesão social, produzindo custos econômicos e sociais de longo prazo.
Salário mínimo como instrumento de desenvolvimento
Por fim, o estudo reafirma que o salário mínimo não deve ser tratado apenas como variável fiscal, mas como instrumento estruturante de desenvolvimento. Sua valorização está associada à melhoria das condições de vida, ao fortalecimento do trabalho formal e à reconstrução de um projeto nacional baseado na inclusão social.
A retomada dessa política sinaliza uma inflexão em relação ao período de desmonte e reafirma o papel do Estado na promoção do crescimento com justiça social.
- Novo valor combina inflação passada e teto de crescimento real
O salário mínimo de 2026 será de R$ 1.621, resultado de um reajuste nominal de 6,79%. O cálculo considerou a inflação medida pelo INPC (4,18%) e um aumento real limitado a 2,5%, devido ao novo regime fiscal.
- Impacto de R$ 81,7 bilhões na economia atinge 61,9 milhões
Cerca de 61,9 milhões de brasileiros têm renda vinculada ao piso nacional. O reajuste gerará um incremento total de R$ 81,7 bilhões na economia, sendo os maiores impactos entre beneficiários do INSS e empregados formais.
- Previdência Social terá custo extra de R$ 39,1 bilhões
Com 70,8% dos beneficiários recebendo até um salário mínimo, cada real de aumento tem impacto de R$ 380,5 milhões na folha previdenciária. O reajuste de R$ 103,00 elevará os gastos em cerca de R$ 39,1 bilhões anuais.
- Setor público municipal, especialmente no Nordeste, é o mais afetado
Enquanto na esfera federal apenas 0,76% dos servidores ganham até um SM, nos municípios essa fatia chega a 10,72%. O impacto no orçamento é maior nas prefeituras do Norte e Nordeste.
- Política de valorização perde força com novo quadro fiscal
Entre 2004 e 2014, o salário mínimo acumulou ganhos reais expressivos. A partir de 2015, os reajustes foram moderados e, entre 2019 e 2022, limitaram-se a repor a inflação, sem aumento real. A retomada de ganhos a partir de 2023 ocorre agora sob limites fiscais.
- Poder de compra em relação à cesta básica atinge melhor patamar desde 2019
Em janeiro de 2026, o salário mínimo poderá adquirir 1,93 cestas básicas em São Paulo, o maior índice desde 2019. Ainda assim, o valor necessário para suprir necessidades básicas segue acima do piso oficial.