Nos últimos anos, o Haiti se tornou um centro de contrabando de drogas da América do Sul para os Estados Unidos (Valerie Baeriswyl)
Mais recente missão de paz de ONU deixou uma impressão ruim no país caribenho
O Haiti está amaldiçoado, disseram alguns observadores nos últimos anos. É claro que esta não é uma explicação racional para a história particularmente trágica do extremamente pobre país caribenho. A frase reflete um pouco de perplexidade, pessimismo, diante da espiral aparentemente interminável de violência, pobreza e desastre na outrora rica colônia ultramarina francesa. Agora é o brutal assassinato do presidente que está mergulhando o Haiti ainda mais profundamente na crise.
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Jovenel Moïse foi assassinado em sua casa em Porto Príncipe na noite de quarta-feira (7) por um comando de mercenários aparentemente estrangeiros. O pano de fundo do crime ainda é incerto. O assassinato é parte de um golpe de Estado? Ou Moïse, que era acusado de corrupção e agia cada vez mais de forma autoritária, foi vítima de uma guerra de gangues que ele mesmo fomentou? É pouco provável que haja respostas claras em breve. Porque o caos reina no Haiti – o país é, na verdade, um Estado fracassado há anos.
Nas eleições presidenciais de 2015, muitos observadores e diplomatas tinham grandes esperanças para Moïse. O proprietário de uma plantação de bananas ganhou a votação – mas ela teve que ser repetida um ano depois devido a uma suposta fraude eleitoral. Moïse só pôde tomar posse em fevereiro de 2017, e seu governo nunca foi estável.
Desde 2020 ele só governava por decreto, depois que o Parlamento foi dissolvido no final da legislatura e ninguém pôde ser eleito. De qualquer forma, não existe há muito tempo uma máquina estatal em funcionamento no Haiti. Violentos conflitos entre gangues aterrorizaram recentemente o povo de Porto Príncipe.
Nos últimos anos, o país se tornou um centro de contrabando de drogas da América do Sul para os Estados Unidos.
A comunidade internacional já teve que intervir no Haiti antes. Em 2004, as Nações Unidas enviaram a missão de paz da Minustah ao Caribe após a queda do então presidente Jean-Bertrand Aristide. Mas as tropas foram cercadas por escândalos: os capacetes azuis nepaleses levaram cólera para o país após o devastador terremoto de 2010, e muitos soldados foram acusados de abusos sexuais. Quando saiu de lá, em 2017, a missão de paz liderada pelo Brasil era odiada por partes da população.
Apesar disso, está na hora de a comunidade internacional aprender com os erros do passado e dar ao país mais pobre das Américas um apoio renovado e mais eficaz. Porque um fracasso definitivo do Haiti não é do interesse de ninguém.
DW
*Jornalista da DW, Isaac Risco cobriu no Haiti a eleição de Jovenel Moïse pela agência de notícias DPA. O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW