Estará a nata da direita brasileira renegando seus filhos pavorosos?

 

A Veja desta semana dedica sua capa à “Ameaça Bolsonaro”.

Por Fernando Brito – Tijolaço

O Globo ocupa grande parte de sua homepage com protestos contra a interdição moralista nas artes e no comportamento.

O Estadão protesta, em editorial, contra o fato de o Supremo, em nome da moralidade eleitoral, ter rasgado a Constituição e criado a “retroatividade” da Lei da Ficha Limpa até o início dos tempos bíblicos.

Estará a nata da direita brasileira renegando seus filhos pavorosos?

Como no velho conto de Monteiro Lobato, O mata-pau, o que eram um raminhos aparentemente inofensivos, bons para vergastar o governo democrático, envolveram o Brasil e são hoje lenhos vigorosos, que já nos constringem e ameaçam sufocar o que resta de nossas liberdades.

Sim, não é exagero falar em liberdades quando se vivem situações como a da mãe e filha, em Brasilia, terem sido agredidas por estarem abraçadas, ou quando se dirigem os prazos de um processo judicial para tirar dele o franco favorito dos eleitores, ou quando se admite que a deduragem de qualquer histérico leve à censura, ou quando a simples nudez – até nos museus, onde habita há séculos – seja castigada por hordas hipócritas, moleques financiados pelos negocistas de mercado.

Um país onde se aplaude a morte desesperada de um professor aviltado em sua honra e dignidade, com base num imbecil “quem não deve não teme”, como se a das feridas fundas não ficassem cicatrizes indeléveis.

Em quatro anos, aqueles inofensivos raminhos dos “20 centavos”, do “blacbloquismo como tática”, do “padrão Fifa”, dos “bundinhas” moralizadores de Curitiba, com o esterco da frustração político-eleitoral da direita e o sol da mídia a nutri-los, tornaram-se galhos grossos, fortes, porque se permitiu transformar o ódio, a vingança, a prisão, a perseguição nos valores sociais.

Levaram ao governo uma quadrilha da pior espécie, sem qualquer discurso ou programa que não seja o de fazer dinheiro e se acobertar. Fuçam e reviram tudo, atrás de qualquer coisa que sirva para apontar como sujo e corrupto qualquer coisa que possam, para alimentar com a seiva do veneno as mentes miúdas dos vira-latas de todas as classes e rendas que acham o Brasil “uma merda mesmo”, a ser conduzida mais velozmente nesta corrente de ódio que inunda o mundo.

Usam a (in)segurança pública como combustível de um processo de transtorno da mentalidade social, como se registra hoje na Folha, onde se vê a alta penetração de ideia de que “a maioria de nossos problemas sociais estaria resolvida se pudéssemos nos livrar das pessoas imorais, dos marginais e dos pervertidos”. E quem os classifica assim? Cada vez mais a polícia, para a qual está prestes a ser aprovado na Câmara projeto que lhes permite “acesso irrestrito a dados pessoais de qualquer cidadão brasileiro”.

Assim mesmo, sem ordem judicial ou qualquer senão. ” Em benefício da segurança pública, o cidadão não pode alegar que vai ter sua privacidade invadida quando na verdade a lei é feita para proteger o bom cidadão, não para o mau cidadão”. Qualquer PM, com isso, será Deus, para decidir que é o bom, quem é o mau.

Não podem, portanto, reclamar de que estejam surgindo estas monstruosidades.

Os que têm ideias liberais, se é que ainda existem, se tivessem alguma lucidez a restar em suas mentes agora varridas de todo o humanismo que o impregnou (verdade que faz tempo) entenderiam que estão prestes a destruir a única muralha que nos separa da barbárie e do fascismo.

Se impedirem que o povo brasileiro expresse no seu voto o desejo de voltar aos tempos de normalidade, de convívio, de algum grau de esperança no progresso e no bem-estar, só o que lhes aguarda é o abraço do mata-pau.

Não importa se de topete, toga ou farda, o que terão nem mesmo será um Führer.

Será a selva, a morte, a destruição de um país que se construiu, com erros e acertos, em 500 anos e ameaça ser destruído em apenas cinco.

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