Começa-se a sentir um cheiro de Collor no ar, como alguns percebem o cheiro da chuva antes que ela caia das nuvens. E, desta vez, sem o relâmpago e o trovão que foram, para aquele presidente, o confisco da poupança.

Fora isso, vão se repetindo as “condições de temperatura e pressão” daqueles tempos.

Um presidente eleito apenas contra a esquerda e – com um discurso antipolítica e contra “corruptos” e privilegiados, sem um partido, sem maioria própria no Congresso, acossado por manifestações crescentes da juventude e por escândalos de corrupção envolvendo seu círculo íntimo, inclusive com um personagem sombrio, como PC Farias, então.

A fórmula da água, viu-se ontem, é bem sabida pelos que o Presidente chamou de “idiotas”, que foram se juntando e desabaram como um temporal sobre a aura de apoio majoritário que Jair Bolsonaro construiu com seu poderio nas redes sociais e o barulho de seus seguidores.

Como se sabe, hidrogênio e oxigênio só viram H²O com uma descarga elétrica como a que tivemos ontem, em 200 cidades do país e que escorreu, caudalosa, por ruas, praças e avenidas.

Resta saber se o ex-capitão vai, como o antecessor alagoano, vai continuar seguindo a fórmula do isolamento, aquela que levou ao enunciado do “não me deixem só”, ao método da “tropa de choque” e à aposta na privatização e no arrocho como programa econômico.

Não há dúvidas que sua natureza pessoal e as forças políticas que dele se serviram o atraem para esta instável combinação entre comportamento autoritário e desastre administrativo.

Uma descarga elétrica, ontem, cintilou pelas as ruas do país.

Talvez Bolsonaro não saiba, mas ela é a fonte de ignição necessária para outro tipo de reação que produz – e muita – água. É a do nosso oxigênio, este pai da vida, com o metano, gás que exalam os organismos em putrefação.

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