Estados Unidos batem a Holanda e conquistam o tetracampeonato da Copa do Mundo feminina
As americanas superaram a retranca holandesa com dois gols no segundo tempo, marcados por Rapinoe e Lavelle
A seleção dos Estados Unidos venceu a Holanda por 2 a 0 neste domingo, em Lyon, e conquistou o tetracampeonato da Copa do Mundo feminina. Os gols, ambos no segundo tempo, foram marcados por Megan Rapinoe e Rose Lavelle. O título mundial de 2019 se soma aos de 1991, 1995 e 2015, e consolida a seleção americana, que era a favorita na Copa da França desde o início, como a melhor equipe nacional de futebol feminino do mundo.

A estratégia da seleção holandesa, que chegou à final como menos cotada diante do favoritismo americano, ficou clara desde o minuto inicial. Com quase todo o time postado no campo de defesa, até as jogadoras mais perigosas do ataque da Holanda, como Martens e Miedema, se dedicaram mais à marcação. A opção resultou em uma pressão por parte dos Estados Unidos, mas que não conseguiu furar o bloqueio holandês. Nas melhores chances, Alex Morgan parou em duas boas defesas da goleira Van Veenendaal. Foi a primeira vez na Copa que os EUA não fizeram gol na etapa final.

O segundo tempo teve o cenário alterado aos 16 minutos, quando a zagueira Van der Gragt acertou Morgan dentro da área. A árbitra havia marcado apenas escanteio no momento mas, ao revisar o lance no VAR, apontou o pênalti para as americanas. Rapinoe converteu deslocando a goleira holandesa e se tornou uma das artilheiras do Mundial, com seis gols. Em busca do empate, a Holanda se soltou e deixou espaço para as americanas atrás. Sete minutos depois do 1 a 0, Lavelle carregou a bola pelo meio, cortou Gragt e chutou cruzado, batendo Veenendaal e definindo o 2 a 0. Os Estados Unidos ainda tiveram chances de ampliar o placar nos contra-ataques, mas Veenendaal impediu os gols de Heath e Morgan. A camisa número 13, que marcou o gol decisivo na semifinal contra a Inglaterra e sofreu o pênalti convertido por Rapinoe, terminou o Mundial com seis gols marcados, também sendo uma das artilheiras do torneio. A outra jogadora que terminou a Copa com seis gols foi White, da Inglaterra.

Após o apito final, a torcida americana presente em Lyon cantou “equal pay” — “pagamento igual”, em tradução livre para o português –, frase que foi o lema da seleção americana durante a competição nos pedidos por igualdade de premiações e salários para o futebol feminino quando comparado ao masculino. Uma das representantes que mais se destacou pelo discurso nas entrevistas na França, inclusive criticando o presidente americano Donald Trump, Megan Rapione foi eleita pela FIFA a melhor jogadora da Copa. A inglesa Lucy Bronze ficou sem segundo, com a americana Heath em terceiro

Os gols de Megan Rapinoe fora de campo

Caso da atacante dos EUA tem um valor pedagógico apreciável porque remete ao velho debate sobre a posição que os esportistas devem ocupar no âmbito político
Megan Rapinoe é californiana, jogadora de futebol e maior artilheira da seleção dos Estados Unidos, que neste domingo enfrenta a Holanda na final da Copa do Mundo. Há anos ela se destaca por seu ativismo político e social. É uma das principais representantes na luta pelos direitos das atletas norte-americanas. Rapinoe está entre as responsáveis pelo processo movido pelas jogadoras da seleção norte-americana contra sua federação, que acusam de discriminação favorável à equipe masculina, em um país onde a seleção feminina é a mais vitoriosa do planeta. Devido às suas possíveis consequências, o processo inquieta o mundo esportivo. Seu nome adquiriu uma magnitude gigantesca depois das críticas que recebeu, via Twitter, é claro, de Donald Trump, que a qualificou de desrespeitosa com a pátria, a bandeira e a Casa Branca.

Rapinoe tinha afirmado anteriormente que não iria à Casa Branca se os Estados Unidos ganhassem a Copa do Mundo. Um dia antes das quartas de final contra a França, ela reiterou sua posição. Também não deu sinais de intimidação devido ao alvoroço: marcou os dois gols da vitória. Megan Rapinoe considera que sua visibilidade como personagem do esporte também lhe traz uma responsabilidade social. Casada com Sue Bird, tetracampeã olímpica com o time de basquete dos Estados Unidos, é uma das vozes mais conhecidas na defesa dos direitos da comunidade LGBT. Em numerosas ocasiões afirmou que as políticas da Administração Trump se distinguem pelo retrocesso no campo da igualdade e da luta contra a discriminação racial. E que fará todo o possível para denunciá-las.
Seu caso tem um valor pedagógico apreciável porque remete ao velho debate sobre a posição que os esportistas devem ocupar no âmbito político. Rapinoe afirma que sua condição de atleta, e de atleta conhecida, não limita nenhum de seus direitos como cidadã e que, como tal, expressa suas opiniões com toda liberdade. Se sua relevante condição de jogadora de futebol lhe permite ter acesso a um universo mais amplo, é melhor aproveitá-lo. Trump representa o modelo clássico. Por um lado, na sua condição de presidente dos Estados Unidos, se eleva como a voz da autoridade em matéria patriótica. Por outro lado, reduz o campo dos atletas ao de animadores. “Jogue e cale a boca” é sua divisa.

Trump tem o máximo poder executivo nos Estados Unidos, mas isso não faz dele o árbitro do patriotismo ou da razão. Como político, tomou decisões mais que discutíveis. Como cidadão, costuma produzir constrangimento. Durante a campanha eleitoral foi divulgado um vídeo em que ele se vangloriava de pegar as mulheres “pela xoxota”. Recentemente rebateu uma acusação de estupro porque, entre outras razões, vinha de uma mulher que não era seu tipo. Para Megan Rapinoe, o presidente dos Estados Unidos é um personagem nefasto que merece sua total rejeição.

O modelo clássico que Trump defende se distingue pela hipocrisia. Aqueles que deploram a relação esporte-política não costumam ter o menor receio de encher os palcos de políticos, de festejar seus campeões quando tremulam as bandeiras nacionais, de aproveitar o benefício que significa se deixar fotografar com os ídolos e, se necessário, recrutá-los por seus interesses partidários. Gostam de atletas domesticados, aqueles que gentilmente aceitam sua condição de exemplos sociais neutros. Temeram, temem e temerão os rebeldes, os Muhammad Ali, Tommie Smith, John Carlos, Colin Kaepernik ou Megan Rapinoe, até que a história ofereça seu veredito e os transforme em heróis. Então os supostos detratores da relação política-esporte esquecem seus preconceitos e se colocam à frente da manifestação.

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