– Rejeitado no partido, Aécio pode provocar debandada –
Para deputados, situação do senador prejudica a legenda e torna difícil manter o tamanho da bancada
Já rejeitado no palanque de dois pré-candidatos ao governo de Minas – Rodrigo Pacheco (ainda no MDB, mas prestes a se filiar ao DEM) e Marcio Lacerda (PSB) –, o senador Aécio Neves (PSDB) enfrenta um crescente isolamento em seu partido. Desde que foi flagrado pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batista, da JBS, o ex-governador tem sofrido resistências que agora se ampliaram, inclusive com ameaças de debandada na legenda.
Vários tucanos, sob a condição de anonimato, revelaram que a crise de imagem pela qual passa Aécio está atrapalhando o partido e todos os deputados. Por isso, hoje o senador está “sozinho e isolado”. “Seria melhor se ele saísse do partido. Assim, livraria todo mundo desse constrangimento. Ele conseguiu destruir o clima na legenda. E, por isso, ninguém quer coligar com a gente, e nenhum nome, como o senador Antonio Anastasia (PSDB), aceita disputar o governo. Ninguém quer carregar a culpa dele”, admitiu um deputado.
Na avaliação de um correligionário, esse processo sinaliza uma “implosão” do PSDB, já que muitos deputados e prefeitos cogitam sair do partido. Como Anastasia insiste em não ser candidato ao governo de Minas e Aécio quer pleitear o Senado, a sigla pode ficar sem coligações e a chapa ficar mais pesada, sem a possibilidade de eleger ou manter as atuais bancadas estadual e federal.
O isolamento de Aécio é tamanho que ele não foi nesta segunda-feira (5) ao evento Conexão Empresarial, que recebeu o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), pré-candidato da legenda ao Palácio do Planalto. Alckmin saiu pela tangente ao ser questionado se contaria com o senador em seu palanque. “O Aécio tem um serviço prestado a Minas, foi um grande governador e ele deve falar”, despistou.
Por outras diversas vezes, Alckmin foi indagado sobre a presença do mineiro em seu palanque, mas não respondeu. Mais tarde, em uma sessão de perguntas feitas por empresários, não teve como fugir do questionamento. Um dos participantes perguntou: “Aécio ajuda ou atrapalha nas eleições de 2018?” “Tenho grande apreço pelo Aécio, pelos serviços prestados a Minas. Caberá a ele decidir o seu futuro”, disse.
O descrédito da força de Aécio faz com que alguns conselheiros defendam uma candidatura dele a deputado federal. “Falamos com ele que, se tiver 150 votos em cada cidade, será eleito deputado sem sair de casa”, disse um interlocutor tucano, que realçou o “orgulho” de Aécio como um empecilho para essa mudança de planos. Outro tucano disse que o senador está sendo “egoísta ao não dar o braço a torcer”.
Tem sido cada vez mais difícil fazer com que antigos aliados topem ficar no mesmo palanque do parlamentar. “Quando vamos a Brasília conversar com deputados, dizem que, se Aécio estiver no projeto, estarão em outro lado”, diz um tucano.
O ápice do constrangimento se deu quando um grupo do partido em Contagem tentou resistir a recepcionar Aécio, nos próximos dias, no município, que deve receber, graças ao empenho do senador, cerca de R$ 350 milhões do PAC das Cidades.
O enfraquecimento de Aécio tem feito, inclusive, com que outros nomes da legenda ousem voos mais altos. É o caso do presidente da Câmara de Belo Horizonte, Henrique Braga, que tem se colocado como pré-candidato da legenda ao Senado, a despeito do interesse de Aécio em disputar mais uma vez o cargo. A aliados, ele já avisou que, se preciso for, enfrentará Aécio em prévias.
Cavaleiro solitário. O presidente do PSDB de Minas e deputado federal, Domingos Sávio, disse que Aécio Neves não foi receber Alckmin na segunda-feira porque estava em Brasília, cumprindo sua missão. Ele ainda saiu em defesa do tucano e declarou que já passou do limite a tentativa de, toda hora, alfinetar o senador.
“Essa tentativa insistente de colocar o Aécio como se fosse carta fora do baralho, além de interessar às oposições, parece-me um jogo muito injusto com quem fez tanto por Minas, com quem tem uma história que foi, obviamente, desconstruída. E essa história está sendo reconstruída por aqueles que, de fato, conhecem o seu trabalho. O senador terá um papel importante na organização do PSDB em Minas e no Brasil”, garantiu.
Lacerda
Silêncio. Questionado se Aécio dificulta uma aliança com o PSDB, o ex-prefeito da capital Marcio Lacerda (PSB), pré-candidato em Minas, desconversou. “Não sei. Ele está definindo que caminho vai tomar”, disse.