Disparada nos preços do alimentos tira comida da mesa dos pobres – 67% dos brasileiros cortaram o consumo de carne vermelha e 41% reduziram o pão (Montagem: Rovena Rosa e Rômulo Ávila)
A alta dos preços dos alimentos, que impede milhões de brasileiros de consumir alimentos como carne de boi, arroz, feijão, frutas, legumes e pão, deve continuar. O aleta foi dado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) nessa quarta-feira (22) , após a elevação da taxa básica de juros de 5,25% para 6,25%. A inflação ao consumidor segue elevada.
Pesquisa Datafolha divulgada nesta semana aponta que 85% dos brasileiros reduziram o consumo de alimentos desde o início do ano, com destaque para carne de boi e pão. O levantamento aponta que 67% dos brasileiros cortaram o consumo de carne vermelha; 51% o de refrigerantes e sucos e 46% o de leite, queijo e iogurte. Pão francês, pão de forma e outros pães aparecem com 41% de redução.
O Copom admitiu que a alta nos preços dos bens industriais ainda não arrefeceu e deve persistir no curto prazo, assim como a elevação dos preços dos serviços, que refletem a normalização da atividade no setor.
“Adicionalmente, persistem as pressões sobre componentes voláteis como alimentos, combustíveis e, especialmente, energia elétrica, que refletem fatores como câmbio, preços de commodities e condições climáticas desfavoráveis”, acrescentou o Copom, que voltou a apontar que as diversas medidas de inflação subjacente seguem acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta de inflação.
Embora tenha havido uma retração de 0,1% no Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre do ano, o Copom avaliou hoje que a economia brasileira continua mostrando “evolução positiva”. Por isso, o colegiado não alterou seu cenário que prevê uma “recuperação robusta” da atividade ao longo do segundo semestre.
Já sobre o cenário externo, o Copom alertou para dois fatores adicionais de risco para o crescimento das economias emergentes. O comunicado cita as revisões para baixo nas projeções de crescimento das economias asiáticas em função do avanço da variante Delta do novo coronavírus e a elevação de juros em países emergentes para combater surpresas inflacionárias.
Ainda assim, o Copom considerou que os estímulos monetários de longa duração e a reabertura das principais economias ainda sustentam um ambiente favorável para os países emergentes. “O Comitê mantém a avaliação de que questionamentos dos mercados a respeito dos riscos inflacionários nas economias avançadas podem tornar o ambiente desafiador para países emergentes”, acrescentou o documento.
Decisão
A decisão do Copom do Banco Central de elevar a Selic em 1 ponto porcentual, para 6,25% ao ano, refletiu o cenário básico da autoridade monetária e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva. O documento enfatizou que a magnitude é compatível com a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante e repetiu que esse prazo inclui o ano-calendário de 2022 e, em grau menor, o de 2023.
“Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, justificaram os diretores.
Por outro lado, o colegiado salientou que novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os prêmios de risco do país. “Apesar da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública, o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.”
O Copom também reiterou que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O colegiado ressaltou ainda que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.