Montes Claros perdeu um dos seus maiores amantes, dos mais dedicados. Morre o homem, fica sua obra. A frase, longe de ser um lugar-comum, adequa-se perfeitamente quando o personagem em questão é Américo Martins Filho, que nos deixou neste dia 12 de abril.
Houve o Américo empresário e ambientalista, mas foi como militante da imprensa no comando do Jornal do Norte – onde tive a honra de trabalhar como repórter – que ele soube, como poucos, entender Montes Claros e suas idiossincrasias. Parte dessa maneira própria de ser da cidade “Amerquim” (como era carinhosamente chamado) fez questão de eternizar, mantendo com zelo um precioso acervo jornalístico na “Rocinha”, sítio de sua propriedade na estrada da produção.
O legado é o registro inconteste de sua preciosa contribuição para a preservação da história contada nas páginas de um dos mais importantes impressos da região. Quando soube de sua partida comecei a recordar minha passagem pelo jornal e depois, mais recentemente, as vezes em que recorri ao acervo que ajudei a construir, em busca de subsídios para reportagens atuais. E dos longos e agradáveis papos quando ia visitá-lo na companhia do jornalista Luiz Carlos Gusmão, o Lunga Tunga.
Também voltei no tempo, a 1996, quando estive na última viagem do “Trem Baiano” ou “Trem do Sertão”. Certamente por ser filho de tropeiro, ele sabia como ninguém valorizar aquele intercâmbio entre o norte-mineiro e a Bahia representado pelos vagões abarrotados de passageiros. Essa paixão o fez organizar a despedida, reunindo jornalistas e historiadores.
Apaixonado e de prosa fácil, Américo Martins Filho foi uma espécie de pregador no deserto, um remador contra a maré. Membro, talvez a contragosto, de uma sociedade desumanizada e apegada aos valores materiais e praticante do jogo das aparências, ousou ser o que defendia, sem meias palavras.
Sua “Rocinha”, aonde ia amainar as vicissitudes da vida, era para ele uma espécie de santuário, prova cabal e inequívoca de sua adoração ao natural. Era lá, cercado por árvores, pássaros, cães, gatos e outras manifestações da natureza, que ele acreditava estar fazendo sua parte.
Tenho orgulho por ter feito parte de uma obra que influencia e continuará influenciando gerações, mantendo vivo o desejo de preservar a Montes Claros que existe dentro de cada um de nós.
A valorização da memória da imprensa montes-clarense era outra paixão de Américo Martins Filho. Com sua partida, a maior homenagem que podemos prestar a ele é fazer todos os esforços para que seu acervo seja mantido.

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