Alunos do Arautos do Evangelho com Jair Bolsonaro em cerimônia de Natal no Palácio do Planalto, em 2021. Créditos: Divulgação/Palácio do Planalto
Herdeiro da TFP (Tradição, Família e Propriedade), o grupo ultraconservador Arautos do Evangelho é acusado de assédio e tortura tem prazo para devolver alunos às famílias
A Justiça de São Paulo, em decisão liminar recente, tomou uma série de medidas para intervir nas escolas do grupo católico ultraconservador Arautos do Evangelho no estado. Em 2019, o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo (CONDEPE) denunciou inúmeras violações de direitos humanos que seriam praticadas pela instituição contra crianças e adolescentes.
Entre as denúncias, estão, entre outras, as de que as crianças e adolescentes que estudam nas escolas do grupo católico teriam sido alvo de tortura, exploração do trabalho, assédios sexual e moral, racismo, maus tratos e até mesmo estupro.
Os crimes, de acordo com as acusações, teriam sido praticados na sede do Arautos do Evangelho em Caieiras, na Grande São Paulo. Desde as primeiras denúncias, cerca de 70 pessoas, a maioria pais e familiares dos alunos, além de ex-funcionários, procuraram a Defensoria Pública de São Paulopara prestar depoimentos e corroborar com as acusações.
Diante dos relatos, a Defensoria Pública ingressou com uma ação civil pública solicitando intervenção nas escolas para assegurar o respeito às leis e a preservação dos direitos de crianças e adolescentes e de suas famílias. A juíza Cristina Ribeiro Leite Balbone Costa, da Vara da Infância Juventude, então, concedeu liminar determinando, dentre outras medidas, a suspensão de novas matrículas e a proibição do ensino em regime de internato, devendo os Arautos do Evangelho devolver os estudantes às suas famílias até, no máximo, dia 1º de julho.
“Crimes devem ser apurados”
À Fórum, o presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana do Estado de São Paulo (CONDEPE), Dimitri Sales, celebrou a decisão da Justiça de intervir nas escolas, mas chamou a atenção para o fato de que os supostos crimes cometidos pelo Arautos do Evangelho ainda carecem de apuração.
“A decisão da Justiça, ainda que em sede de liminar, confirma a gravidade das denúncias que o CONDEPE apresentou à sociedade e aos órgãos públicos. Estamos diante do cometimento de muitos crimes que devem ser apurados, ainda que alegam tratar-se de manifestação de crença religiosa”, declarou.
Arautos do Evangelho
O grupo ultraconservador Arautos do Evangelho foi fundado em 1999 por João Clá Dias. O religioso fazia parte da antiga sociedade conservadora Tradição, Família e Propriedade (TFP). Ao todo, o grupo possui 15 colégios no país.
O próprio fundador da instituição João Clá Dias, que tem 82 anos, é acusado de abuso sexual por uma jovem colombiana órfã de mãe, hoje com 29 anos, que veio ao Brasil para estudar. Em carta, ela relata que, aos 12 anos, foi abusada pelo líder, que teria tocado seus seios e nádegas e a beijado. Atualmente a mulher vive no Canadá.
Outro fiel afirma que foi drogado e internado em uma clínica psiquiátrica pelos Arautos sem autorização da família, entre inúmeras outras acusações contra a instituição.
Em nota enviada ao programa “Fantástico”, da Globo, o Arautos do Evangelho negou todas as acusações e afirmou que a instituição é vítima de perseguição.
“Nós estamos diante de uma situação, de uma campanha de difamação feita por desafetos da instituição, desafetos da igreja em geral. Uma campanha de perseguição religiosa onde a igreja católica está em foco e a instituição em particular”, diz.
Revista Fórum