Secretário diz que não cometeu irregularidade ao ser vacinado (Clarissa Barçante/ ALMG)
Governador manteve Carlos Amaral na pasta e agora terá que lidar com o desgaste da CPI
Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi instalada nesta quinta-feira (11) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para investigar a vacinação contra Covid-19 de centenas servidores administrativos da Secretaria de Estado de Saúde (SES), incluindo o secretário Carlos Eduardo Amaral, que estariam fora das prioridades definidas no Plano Nacional de Imunização. Ao todo, 39 deputados da oposição e do bloco independente deram aval para a instalação da ‘CPI dos Fura-filas’.
O episódio causou revolta na opinião pública e também entre parlamentares. Mesmo assim, após reunião a portas fechadas nesta quinta-feira (11), o governador Romeu Zema (Novo) decidiu manter Carlos Eduardo Amaral na pasta.
“Na manhã de hoje, me reuni com o secretário Carlos Amaral. Reafirmei que determinei que os órgãos de controle do Executivo apurem o processo de vacinação de servidores. O secretário prestou esclarecimentos e me garantiu que todas as ações adotadas são técnicas e legais”, disse Zema.
Um levantamento feito pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais aponta que 806 servidores ligados à pasta foram vacinados contra a Covid-19. “Não veja nenhum ilícito, nenhuma imoralidade nas ações. Eu não fiz nada errado”, disse o secretário em coletiva nesta quinta-feira (11).
Pressão
A pressão pela demissão de Carlos Amaral cresceu nessa quarta-feira (10), após audiência na ALMG com a participação de deputados e do próprio secretário. O presidente da Casa, Agostinho Patrus (PV), classificou o episódio como “trem da alegria” e “escândalo nacional”. Nesta quinta (11), voltou a dizer que tudo será investigado.
“Vamos investigar a fundo esses que se entendem privilegiados em passar à frente dos demais na vacinação, o que segundo o Ministério da Saúde, e no momento que nós vivemos, é um crime dos mais graves nos nossos dias atuais”, disse Agostinho Patrus ao deferir o pedido de abertura da comissão.
A partir de agora, os deputados têm 120 dias para “investigar a operacionalização da campanha nacional de vacinação contra a Covid-19, em especial o desvio de recursos referentes à vacinação irregular de grupos não prioritários definidos pelo Ministério da Saúde. Assim como investigar o baixo investimento em ampliação de leitos para enfrentamento da pandemia no estado, concomitante à não aplicação do mínimo constitucional em serviços públicos de saúde”.
Exemplo
Na audiência, o secretário disse que se vacinou para servir como exemplo. “Não concordo com nenhum movimento contrário à vacinação. Quis ser vacinado para não parecer que sou contra a vacina.” Apesar da justificativa, a vacinação dele e dos colegas de pastas ocorreu de maneira sigilosa.
Carlos também disse que o Programa Nacional de Imunização determina que primeiramente seja vacinado quem está na linha de frente, lidando com a Covid-19. “Depois, a previsão é no sentido de preservar os serviços de saúde e os órgãos estruturantes funcionando. Por isso, servidores de secretarias estaduais e municipais são vacinados. Quem viabiliza um respirador chegar a determinado local e quantas vacinas serão destinadas são esses trabalhadores”, declarou.
Momento crítico
A crise no comando da Saúde de Minas ocorre no pior momento m da pandemia no Brasil e em Minas Gerais. Nessa quinta-feira (10), o estado confirmou 263 mortes pela Covid-19 em 24 horas, recorde desde o começo da pandemia.
O maior número de mortes em 24 horas havia sido registrado no dia 10 de fevereiro: 243 óbitos. Ao todo, a Covid-19 matou 20.087 pessoas em Minas. O estado também confirmou 7.745 novos casos nas últimas 24 horas, totalizando 946.556 infecções.
Após um ano de pandemia, a Secretaria de Saúde divulgou pela primeira vez a taxa de ocupação de leitos de UTI exclusivos para doentes com Covid-19. Até então, a pasta divulgava o número geral de leitos. São 2.428 vagas, das quais 78,3% estavam ocupadas nessa quarta-feira (10).
Enquanto isso, a vacinação no estado, assim como em todo país, segue lenta. Conforme dados reunidos pelo consórcio de veículos de imprensa Minas Gerias vacinou 3,43% da população.