Desenho de grupo de mulheres da Paraíba que integram o programa “Menstruação sem tabu” – Reprodução

Projeto de Lei de autoria da deputada Leninha (PT-MG) trata de tema tabu sob o prisma da dignidade menstrual

Por Laura Murta

“Mulher é bicho esquisito, todo mês sangra”. Mesmo com a música de Rita Lee na década de 1980, o assunto ainda é tabu, permeado de preconceito e desinformação. Entre outros povos e culturas, a menstruação coloca o ser feminino em condição divina, fonte geradora da vida.

Metade da população mundial sangra ou já sangrou mensalmente. Tão comum e natural quanto menstruar é a ideia de que os dias do ciclo são os mais desagradáveis do mês, apesar de ser inconteste sua importância para a saúde do corpo feminino.

Mulheres substituem o absorvente por papel higiênico, roupas velhas ou toalha de papel

A menstruação é, portanto, um processo natural, uma questão de saúde pública e, no contexto de extrema desigualdade socioeconômica, a menstruação passa a ser também um problema econômico. Para muitas pessoas, falta dinheiro para comprar produtos de higiene, como o absorvente.

E como isso pode afetar a saúde de uma mulher?

A antropóloga da Universidade Federal do Rio de Janeiro Mirian Goldemberg entrevistou mulheres em todo o país com idade entre 16 e 29 anos, e chegou à seguinte conclusão. “Uma em cada quatro jovens já faltou à aula por não poder comprar o absorvente e não falam que foi por isso. Elas têm vergonha, tentam esconder. A falta de absorvente provoca uma sensação de insegurança. É algo que elas sofrem sozinhas, como se fosse um fracasso, uma vergonha”.

O levantamento nacional inédito, coordenado pela pesquisadora procurou entender o fenômeno da pobreza menstrual. A Organização das Nações Unidas (ONU) já vem tratando o assunto como sendo de relevância mundial. Mas o que significa esse termo? Em primeiro lugar, é a falta de itens básicos durante a menstruação, seja por falta de informação ou de dinheiro para comprar os absorventes.

Uma em cada quatro jovens já faltou à aula por não poder comprar absorvente

Combater a pobreza e, por conseguinte, promover a dignidade menstrual, foi com essa intenção que a deputada estadual Leninha (PT-MG) apresentou Projeto de Lei que garante a gratuidade de absorventes higiênicos para pessoas em unidades escolares, unidades de saúde e também para pessoas em situação de privação de liberdade, albergadas, enfim, em situação de extrema vulnerabilidade social.

Mas, afinal, quanto custa menstruar?

A diretora executiva da Girl Up Brasil, Letícia Bahia, aponta que a estimativa é de que se gasta de R$3 mil a R$8mil ao longo da vida com a compra de absorventes. O absorvente e outros produtos de higiene íntima e menstrual ainda são vistos como produtos cosméticos e como produtos de luxo, supérfluos, são frequentemente tributados dessa forma.

É sob essas muitas nuances que a deputada estadual Leninha, do Partido dos Trabalhadores, trouxe esse tema na forma de um projeto de Lei.

“Eu conheço de perto essa dor. Sou uma mulher periférica. Nascida numa família humilde e muito numerosa. Sei o quanto uma situação corriqueira como essa de comprar um absorvente, numa casa com mais de duas, três mulheres é uma condição onerosa. Quando presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia, pude acompanhar de perto questões como essa. De modo muito especial, a falta de dignidade de mulheres privadas de liberdade”, explica Leninha.

Para quem tem um banheiro dentro de casa, chuveiro com água quente, sabonete e absorventes descartáveis à disposição para trocá-los sempre que necessário, a falta de acesso a itens de higiene durante a menstruação pode parecer inimaginável. Mas essa é a realidade de quem mora nas ruas, em abrigos ou presídios e enfrenta, mensalmente, as dificuldades de menstruar sem contar com saneamento básico nem com protetores menstruais.

Pretas e pardas são mais afetadas

“Também é importante destacar que a pobreza menstrual atinge mais as mulheres pretas e pardas (são mais de 108 milhões no país). Diante dessas condições o que ouvimos durante a construção do PL é que muitas mulheres substituem o absorvente por papel higiênico, roupas velhas ou toalha de papel”, afirma Leninha. O que oferece riscos à saúde, já que pode levar a infecções no trato urinário, rins ou lesões nos órgãos reprodutores femininos.

“Minas será o primeiro estado brasileiro a garantir dignidade menstrual para as suas mulheres, e isso é um grande avanço”, comemora a parlamentar.

Via BdF Minas Gerais

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