Montes Claros diz não ao Novo Ensino Médio. Esta é a conclusão da audiência pública, realizada na manhã dessa quinta-feira (27/4), no plenário da Câmara Municipal, agendada pelo vereador Daniel Dias (PCdoB). Para os debatedores, a instituição do Novo Ensino Médio, na verdade, será a privatização do ensino público, resultado de uma pressão da iniciativa privada, disposta a “abocanhar o segundo maior orçamento da União”. Segundo professores e estudantes, a reforma, idealizada em 2017, caminha para a precarização da educação e dos educadores.

“A educação está sendo rendida”, disse uma estudante do 3º ano do Ensino Médio, enquanto professores, uníssonos, pediram a revogação do Novo Ensino Médio. Resumindo, a audiência pública na Câmara Municipal de Montes Claros serviu para alinhar o sentimento dos profissionais da educação da cidade com o de outros municípios brasileiros, que já fazem manifestação pela revogação do Novo Ensino Médio, o que deverá ser acatado pelo Governo Lula, como sinalizou a suspensão da implementação da reforma por 60 dias. Presidente da Comissão de Educação do Legislativo, o vereador Daniel Dias disse que o Novo Ensino Médio foi implantado através de uma medida provisória sem nenhum tipo de estudo aprofundado e que isso tem gerado aflição na comunidade escolar. Para o parlamentar, a principal questão foi a rapidez com que a proposta foi implantada, na qual existem mudanças drásticas na grade curricular dos alunos e na necessidade dos professores terem que se adequar.

“Temos visto que propostas, mal elaboradas, que envolvem grandes mudanças que têm dificultado a vida da população. Prova disso, temos as reformas da previdência e a trabalhista que foram elaboradas de forma drástica”, enfatizou Daniel.

De acordo com o Ministério da Educação, o Novo Ensino Médio tem o objetivo de ampliar o tempo mínimo do estudante na escola de 800 horas para 1.000 horas anuais e definindo uma nova organização curricular, mais flexível, que contemple uma Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ofertando diferentes possibilidades de escolhas aos estudantes, os itinerários formativos, com foco nas áreas de conhecimento e na formação técnica e profissional.

DISCREPÂNCIA

Contudo, a diretora do Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro), Isabela Catrink, destacou que os informativos itinerários propostos na nova legislação trazem uma discrepância na qualidade de ensino fornecido entre as escolas públicas e privadas.

“Enquanto as instituições da rede privada têm como disciplina itinerária de robótica a rede pública tem aula de como fazer brigadeiro gourmet. A desigualdade educacional é grande e isso impactará diretamente nos nossos alunos”, ponderou a diretora.

Fernando Andrade é professor de história e já atua em escolas que oferecem o novo ensino médio. Segundo ele, foram retiradas disciplinas de história para colocar a de “receitas” no lugar.

“Substituíram minhas aulas por outros conteúdos totalmente aleatórios, os quais não fui preparado para lecionar. Estou dando aula em três turnos, pois, aumentaram a quantidade de horas e disciplinas – agora são 21 por semana. Alunos de escola pública não conseguem acompanhar. Já as escolas particulares estão colocando essas matérias em outros turnos e cobrando a mais na mensalidade”, pontuou o professor que leciona nas escolas CAIC do Maracanã e Planalto Rural.

O estudante Gabriel Soares Alves, diretor social do Grêmio Estudantil do INFMG, ressaltou que a implantação do novo ensino médio foi mal planejado, sendo necessária uma reavaliação, pois exclui disciplinas importantes que desenvolvem o senso crítico e democrático dos estudantes. “As escolas também não estão preparadas para receber esse novo ensino. Talvez se fosse melhor planejado feito de maneira adequada agregaria o futuro desses jovens”, finalizou.

Presidente do Sind-UT, Célio Moreira informou que os servidores da educação do Estado de Minas Gerais fizeram greve, nessa semana, reivindicando o pagamento do piso salarial nacional e a revogação do novo ensino médio.

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