Governo lança Casas da Igualdade e amplia combate ao racismo no Brasil

Novo programa federal prevê atendimento a vítimas de crimes raciais, ações de inclusão e fortalecimento das políticas públicas de igualdade racial em todo o país O governo federal lançou nesta terça-feira (17) o Programa Mais Igualdade, uma iniciativa estratégica para o enfrentamento do racismo e a promoção da igualdade racial no Brasil. Instituído por meio do Decreto Nº 12.514, assinado pelo presidente em exercício, Geraldo Alckmin, e pela ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, o programa reforça o compromisso governamental com a proteção dos direitos da população negra e das comunidades tradicionais. “Essas diretrizes sobre a proteção e desenvolvimento de políticas públicas, bem como de enfrentamento ao racismo, são mais um passo para assegurar os direitos da população negra em todo território nacional”, destacou Anielle Franco durante a cerimônia de lançamento.l O Mais Igualdade reforça diretrizes como transversalidade, interseccionalidade e intersetorialidade, levando em conta raça, gênero, etnia e as especificidades de cada território. O respeito à autodeterminação, à integridade e à efetividade dos direitos das comunidades negras e tradicionais também norteiam a proposta. Três eixos para a ação nacional O programa está estruturado em três eixos principais: aperfeiçoamento – formação, qualificação e certificação de agentes públicos, sociais e comunitários que atuam em políticas de igualdade racial; estruturação – equipagem e fortalecimento de órgãos e centros de promoção da igualdade racial; e fortalecimento – fomento e apoio a políticas desenvolvidas por estados, Distrito Federal e municípios. O decreto também prevê que órgãos da administração pública federal possam firmar convênios e parcerias com entidades privadas sem fins lucrativos para viabilizar as ações do programa. Casas da Igualdade: acolhimento e justiça racial Uma das maiores inovações do programa é a criação das Casas da Igualdade Racial, que funcionarão como pontos de apoio nas cinco regiões do país. Elas irão oferecer serviços de acolhimento psicológico, jurídico e social às vítimas de crimes raciais, além de atuar como centros de memória e fortalecimento comunitário. Segundo o secretário de Gestão do Sinapir, Clédisson Júnior, a medida representa um marco legal: “A criação da Casa da Igualdade Racial inaugura espaços de acolhimento, memória e justiça racial nos territórios. Esse marco normativo reconhece a diversidade da população negra e das comunidades tradicionais, promovendo cidadania e reparação histórica.” Além do atendimento a vítimas, as Casas terão cinco áreas prioritárias de atuação: Justiça racial: apoio psicológico, jurídico e social a vítimas de crimes raciais. Inclusão produtiva: estímulo ao desenvolvimento profissional, com foco em mulheres e jovens negros. Cultura e educação: promoção de ações culturais com referenciais afro-brasileiros. Convivência comunitária: fortalecimento dos vínculos sociais. Pactuação federativa: ampliação da articulação entre os entes federativos. As Casas também serão centros de preservação do patrimônio e da memória afro-brasileira, fomentando redes de atendimento especializado. Enfrentamento das múltiplas formas de racismo A ministra Anielle Franco celebrou o avanço político representado pela iniciativa: “Fico com o coração quentinho de saber que temos mais um instrumento que fortalece o Sinapir e possibilitará o aumento de atendimentos a mães, trabalhadores, jovens e toda população negra, quilombola e de matriz africana.” Com a implementação do Mais Igualdade, o Governo Federal busca consolidar políticas estruturantes de combate ao racismo institucional e estrutural, promovendo direitos, inclusão e cidadania plena para a população negra em todo o território nacional.
Com avanços econômicos, cai o número de jovens que nem estudam, nem trabalham

Melhora no cenário econômico e no mercado de trabalho está entre fatores que influenciaram na queda. Programa Pé-de-Meia busca manter jovens mais vulneráveis na escola A educação brasileira evoluiu nos últimos anos, embora ainda precise ir muito além para que seja possível sanar problemas históricos e estruturais que incidem sobre a forte desigualdade nacional. Um traço positivo nesse sentido é a queda no número de jovens de 15 a 29 anos que nem estudam, nem trabalham — questão que também está atrelada a fatores econômicos. Eles eram 22,4% em 2019, percentual que caiu para 19,8% em 2023 e para 18,5% no ano passado. Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua Educação, recém-divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Muito dessa diminuição pode ser atribuída à própria evolução do mercado de trabalho brasileiro, que vem sucessivamente apresentando melhoras ano após ano, com diminuição da taxa de desocupação, assim como a diminuição da subutilização”, explica William Kratochwill, analista do IBGE. Quando se examina a questão de gênero, o percentual das mulheres que nem trabalhavam, nem estudavam era de 24,7%, quase o dobro dos 12,5% de homens. O recorte racial também traz desvantagens aos negros diante dos brancos, refletindo o racismo estrutural brasileiro: o percentual de pessoas pretas ou pardas que não estudavam, não se qualificavam e não estavam ocupadas, 21,1%, foi consideravelmente superior ao de pessoas brancas na mesma condição, 14,4%. No que tange à segmentação etária, entre os 15 e os 17 anos, o percentual dos que nem estudavam, nem estavam ocupados foi de 4%, saltando para 22,4% entre quem tem 18 e 24 anos e para 21% entre os 25 e os 29 anos. Motivos para se afastar Elementos socioeconômicos prevalecem entre os motivos que levam os jovens a deixarem os estudos. Quando questionados sobre isso, sobressaem-se, nas respostas, a necessidade de trabalhar, a falta de interesse e a gravidez. De acordo com a Pnad Educação, em 2024, o principal motivo para os jovens de 14 a 29 anos abandonarem a escola ou nunca a terem frequentado foi a necessidade de trabalhar, mencionada por 42% dos entrevistados. O segundo motivo mais citado, com 25,1%, foi a falta de interesse. Entre os homens de 14 a 29 anos, o principal motivo declarado também foi a necessidade de trabalhar, 53,6%, seguido do desinteresse, 26,9%, e problemas de saúde permanente, com 4,2%. No caso das mulheres, a razão mais citada também foi a necessidade de trabalhar, 25,1%, enquanto a falta de interesse foi a resposta de 22,5%. Mas há questões específicas de gênero que permeiam a vida das jovens e acabam retirando-as das salas de aula: a gravidez foi a resposta de 23,4%, enquanto 9% atribuíram o afastamento aos afazeres domésticos ou cuidados com outras pessoas — entre os homens, essa motivação correspondeu a apenas 0,8% das respostas. “Esses resultados evidenciam que, além da condição econômica, as responsabilidades reprodutivas e domésticas ainda estão entre os principais entraves para a permanência das mulheres jovens na escola. Para os homens, a atribuição do trabalho remunerado é o fator marcante para o abandono escolar”, diz Kratochwill. Cabe destacar, ainda, que segundo a pesquisa, caiu o número de jovens que não haviam completado o ensino médio, seja por terem abandonado a escola sem concluir essa etapa, seja por nunca a terem frequentado. Em 2024, eles somavam 8,7 milhões de pessoas entre 14 a 29 anos; em 2023, esse contingente era de 9,3 milhões e em 2019, chegava a 11,4 milhões. Do total aferido no ano passado, 59,1% eram homens e 40,9% eram mulheres; 26,5% eram brancos e 72,5% eram pretos ou pardos. O IBGE também destaca que nesse grupo etário, os maiores percentuais de abandono ocorreram a partir dos 16 anos, com 16,5% nessa idade, 19,9% aos 17 anos e 20,7% aos 18 anos. Ainda assim, o abandono escolar precoce continua presente nas idades correspondentes ao ensino fundamental: 6,5% haviam deixado a escola até os 13 anos e 6,8% aos 14 anos. Mudança de cenário A melhora no quadro socioeconômico que o Brasil vem obtendo nos últimos anos — com mais emprego, aumento da renda e retomada de programas sociais de combate à miséria, como o Bolsa Família — ajuda diretamente o acesso à educação. Afinal, famílias que passam a ter outros meios de sustento conseguem fazer com que seus filhos priorizem o ensino. Ao lado disso, outras iniciativas vêm buscando ampliar o acesso e a manutenção dos jovens mais vulneráveis nas escolas. É o caso do programa Pé-de-Meia, que oferece incentivo financeiro-educacional na modalidade de poupança para estudantes do ensino médio público. O objetivo principal, conforme o Ministério da Educação, “é promover a permanência e a conclusão escolar desses alunos, além de incentivar a participação em exames como o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio)”. Atualmente, mais de 4 milhões de jovens recebem o benefício, que começou a ser pago em fevereiro deste ano. Considerando a data da implantação, seus resultados ainda não devem estar plenamente refletidos nos dados da pesquisa atual. Pelas redes sociais, o ministro da pasta, Camilo Santana, salientou que o Pé-de-Meia “não é um programa de transferência de renda, mas um programa educacional porque ele tem uma contrapartida: garantir frequência e aprovação da juventude. Porque quando nós vamos olhar, o maior motivo para o jovem abandonar a escola é a questão financeira, é ajudar o pai e a mãe que, muitas vezes, está desempregado. É poder ajudar, muitas vezes, a mãe solteira”. Para ele, “o mínimo que um país pode fazer é garantir que todos os jovens possam terminar a educação básica e o ensino médio”.
Copom eleva juros para 15% ao ano e amplia sabotagem ao Brasil

Mesmo com inflação menor e desaceleração da economia, BC aprova aumento de 0,25 ponto percentual e coloca a Selic no maior patamar desde julho de 2006 O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central optou pelo aumento da taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, elevando a Selic a 15% ao ano. A decisão desta quarta-feira (18) mantém ritmo de alta iniciado em setembro do ano passado, quando os juros passaram de 10,50% para 10,75%. Agora, já são sete aumentos seguidos. A votação entre os membros do Comitê foi unânime. Na justificativa que acompanha o anúncio, é afirmado que o Copom “entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante”. Ainda segundo o comunicado, “o Comitê segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado.” A decisão encarece ainda mais o crédito em um cenário de inflação menor e desaceleração do crescimento econômico. Parte considerável de analistas econômicos apostava na manutenção dos juros, não em um aumento. A Selic em 15% ao ano representa o maior patamar desde julho de 2006, quando marcava 14,75% depois de ser reduzida em 0,5% após a reunião de maio daquele ano, que a havia fixado em 15,25%. Ao elevar mais uma vez os juros, o Copom ultrapassa até as expectativas do mercado financeiro para 2025. Por meio do Boletim Focus do próprio BC, as instituições financeiras indicam que o ano deverá encerrar com taxa que estava antes desse novo aumento, 14,75% a.a. Portanto, um corte deverá ocorrer para se enquadrar ao que o próprio mercado acredita. A elevação de 0,25% atrai descontentamento generalizado: sociedade, governo e setor produtivo. Somente investidores do mercado financeiro têm ganhado com os juros nas alturas. Na última terça-feira (17), as centrais sindicais e movimentos sociais realizaram protestos pela redução dos juros. Apesar dos clamores, o Copom manteve a linha dura na política monetária herdada pelo ex-presidente Roberto Campos Neto e mantida pelo atual presidente, Gabriel Galípolo. A meta para a inflação é de até 4,5%, tendo como centro 3% (o IPCA de 12 meses acumula 5,4%). ‘Dose errada’ A taxa básica de juros é elevada sob o pretexto de enfraquecer a demanda ao encarecer o crédito, com repercussão em diversos segmentos. A sequência de nove meses de aumento de juros no Brasil já é sentida pela economia, com a inflação em desaceleração no mês de maio (0,26% frente a 0,46% do IPCA de abril) e retração industrial (-1,1%) em abril, conforme o IBC-BR, a prévia do PIB, o que levou o índice a reduzir o ritmo de crescimento do país a 0,2% no mês. Com estes números, uma nova elevação dos juros é mais uma ‘dose errada’ do remédio que o Copom impõe ao Brasil. Assim, permanece o descontentamento da sociedade, que anseia por um custo de vida mais barato, e dos setores produtivos, que pedem crédito mais acessível como forma de ampliar investimentos e manter o crescimento econômico – que tem se superado, apesar da Selic nas alturas. Outro prejudicado é o governo. Segundo o próprio BC, a cada aumento de um ponto percentual na taxa de juros, o custo da dívida pública federal cresce cerca de R$ 50 bilhões. Dessa maneira, é possível dizer que o aumento de 0,25% representa R$ 12,5 bilhões a mais de perdas nas contas de um governo que também é sabotado a todo momento pelo Congresso Nacional na tentativa de cumprir o seu orçamento
Corpus Christi: entenda a origem, a data e as tradições da celebração cristã

A festa, que ocorre sempre numa quinta-feira, homenageia o mistério da Eucaristia — o corpo e sangue de Cristo — e está enraizada na história da Igreja desde o século XIII Em meio a tapetes coloridos, missas solenes e procissões pelas ruas, milhões de católicos celebram anualmente uma das datas mais importantes do calendário litúrgico: o Corpus Christi. A festa, que ocorre sempre numa quinta-feira, homenageia o mistério da Eucaristia — o corpo e sangue de Cristo — e está enraizada na história da Igreja desde o século XIII. Apesar de ser uma tradição conhecida por muitos, o Corpus Christi ainda desperta dúvidas sobre sua origem, data e significado. A celebração vai muito além de um feriado religioso: ela é expressão pública de fé e símbolo de uma herança cultural transmitida há séculos. A expressão “Corpus Christi” vem do latim e significa “Corpo de Cristo”. A festa teve início oficialmente em 1264, quando o papa Urbano IV instituiu a celebração por meio da bula Transiturus de hoc mundo. A motivação veio de dois acontecimentos marcantes: as visões da freira belga Juliana de Mont Cornillon, que afirmava ter recebido sinais divinos para a criação de uma festa dedicada exclusivamente à Eucaristia, e o chamado “milagre de Bolsena”, na Itália. Segundo a tradição católica, durante uma missa celebrada na cidade de Bolsena, um sacerdote que duvidava da presença real de Cristo na hóstia consagrada viu sangue jorrar da hóstia sobre o altar. O episódio foi considerado um sinal divino e reforçou a decisão papal de estabelecer uma data específica para exaltar o sacramento da comunhão. Como se calcula a data do Corpus Christi? A celebração de Corpus Christi é móvel, ou seja, sua data varia a cada ano. Ela acontece 60 dias após o Domingo de Páscoa, sempre na quinta-feira seguinte à festa da Santíssima Trindade. Isso porque, de acordo com os Evangelhos, foi em uma quinta-feira que Jesus instituiu a Eucaristia durante a Última Ceia com seus discípulos. Em 2025, a data será comemorada em 19 de junho. Em 2024, foi em 30 de maio; em 2023, em 8 de junho. A oscilação reflete o fato de que a Páscoa, base para o cálculo, também é determinada por um calendário lunar e não por uma data fixa. Feriado ou ponto facultativo? Eis a dúvida Muitas pessoas acreditam que Corpus Christi é um feriado nacional. Na verdade, ele é classificado pelo governo federal como ponto facultativo. Isso significa que cabe a estados e municípios decidir se haverá folga oficial. Em cidades como São Paulo, Manaus, Goiânia e Curitiba, a data é feriado municipal. Já em capitais como Recife, Rio de Janeiro e Brasília, a celebração é ponto facultativo. Essa distinção impacta diretamente o funcionamento de serviços públicos e privados. Em locais onde o Corpus Christi é feriado, bancos não abrem, agências do INSS suspendem o atendimento, e serviços como Correios e transporte público podem operar com horários reduzidos. Tradição dos tapetes: fé e arte se encontram Entre as manifestações culturais mais emblemáticas da celebração está a confecção dos tapetes de Corpus Christi. A prática, fortemente presente no Brasil, tem origem nas procissões europeias e foi trazida pelos colonizadores portugueses no século XVI. Nas vésperas da celebração, ruas inteiras são decoradas com desenhos religiosos feitos de serragem colorida, flores, pó de café, areia e até cascas de ovos. Os tapetes ilustram passagens bíblicas e símbolos cristãos, como o cálice, a cruz e o pão, criando um caminho por onde passará a procissão com o Santíssimo Sacramento e representam a trajetória percorrida por Jesus até o Monte das Oliveiras. Cidades como Ouro Preto (MG), Santana de Parnaíba (SP) e Castelo (ES) são conhecidas pelas celebrações grandiosas. Em Ouro Preto, por exemplo, os tapetes se estendem por ruas históricas de pedra, numa união entre fé e patrimônio cultural. Significado espiritual da celebração Para os católicos, a essência do Corpus Christi está na adoração pública da Eucaristia. A hóstia consagrada — que, segundo a doutrina da Igreja, é o corpo de Cristo — é carregada em procissão pelas ruas, sob um pálio, acompanhada por fiéis em oração, cânticos e devoção. A caminhada simboliza a presença viva de Jesus entre o povo. Além da dimensão espiritual, a data também serve como reafirmação da fé católica diante da sociedade, unindo comunidades inteiras em um momento de oração coletiva. Embora seja uma festa tipicamente católica, outras denominações cristãs também podem realizar celebrações relacionadas à Eucaristia, ainda que em menor escala ou com significados distintos. Mesmo diante das transformações sociais e culturais do mundo contemporâneo, o Corpus Christi segue firme como expressão de religiosidade popular e resistência da tradição. Em tempos de urbanização acelerada e secularização, a permanência da celebração indica a força simbólica da fé na vida cotidiana de muitos brasileiros. Com celebrações que unem o sagrado e o artístico, o íntimo e o comunitário, o Corpus Christi continua a mobilizar milhares de pessoas — não apenas pela beleza dos tapetes ou pelo descanso do feriado, mas pelo profundo significado espiritual que carrega. SERVIÇO Corpus Christi 2025 Data: Quinta-feira, 19 de junho Feriado ou ponto facultativo? Depende da sua cidade. Em locais como São Paulo e Goiânia, é feriado municipal. Consulte a legislação local. Programação típica: Missa, procissão com o Santíssimo, confecção de tapetes e eventos culturais
Flexibilização ambiental de Zema ameaça cerrado e favorece latifúndio

‘Mil hectares equivalem a mil campos do Maracanã’, alerta especialista O governador Romeu Zema (Novo) anunciou, na última semana, a intenção de dispensar o licenciamento ambiental para propriedades rurais de até mil hectares dedicadas à pecuária extensiva ou à produção de commodities como soja, milho e café. A medida, apresentada durante a feira Megaleite, no Expominas, em Belo Horizonte, representa uma ampliação drástica da isenção, que atualmente vale para áreas de até 200 hectares. Segundo o governo, a proposta será apresentada com urgência ao Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam). A secretária estadual de Meio Ambiente, Marília Melo, defendeu que a mudança trará “oportunidade de regularização” e menos burocracia aos produtores: “nosso agricultor, em Minas, é sustentável”, afirmou, durante o evento. Mas, para especialistas, a medida representa um grave ataque à política ambiental do estado, além de beneficiar exclusivamente grandes proprietários. É o que aponta o geógrafo Gustavo Ceppolini, professor da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) e coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas Regionais e Agrárias (Nepra). “Mil hectares equivalem a mil campos do Maracanã. Estamos falando de propriedades enormes que não passarão mais por nenhuma análise técnica ambiental. A fiscalização se torna autodeclaratória. É como se o próprio produtor se autorizasse a desmatar. Isso coloca o Cerrado, o bioma mais ameaçado do país, em risco profundo”, alerta. Para o agro, isenção fiscal Segundo dados compilados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Relatório Anual do Desmatamento (RAD) do MapBiomas Brasil, mais de 60% do Cerrado já foi devastado em Minas Gerais, que originalmente tinha mais da metade de seu território coberto por esse bioma. Nos últimos anos, o Cerrado ultrapassou a Amazônia em taxa de desmatamento. Ceppolini também aponta o uso intensivo de agrotóxicos nas lavouras beneficiadas pela medida. “Essa agricultura de larga escala só é ‘sustentável’ porque é financiada pelo Estado. Enquanto um brasileiro paga impostos até em remédio, o agrotóxico importado goza de isenção fiscal”, critica. O Nepra também identificou impactos sociais severos causados pelo agronegócio no semiárido mineiro entre 2002 e 2022: 657 casos de intoxicação por agrotóxicos, 189 conflitos por água e 357 conflitos por terra, afetando mais de 77 mil famílias. “Medida favorece os latifundiários”, denunciam servidores A proposta do governo também gerou reação entre os próprios servidores da Secretaria de Meio Ambiente. Francisco de Assis, servidor de carreira e dirigente do do Sindicato dos Servidores Públicos do Meio Ambiente no Estado de Minas Gerais (Sindsema), classifica a flexibilização como mais um passo no desmonte ambiental promovido por Zema. “É uma medida feita sob medida para latifundiários. Uma propriedade de mil hectares não é pequena. Representa menos de 0,1% dos proprietários. Não tem nada a ver com agricultura familiar. E mesmo nos casos que precisam de licença hoje, o processo já é simplificado. Estão transformando o órgão ambiental em um cartório”, explica. Segundo Francisco, a licença mais básica, chamada de Licenciamento Ambiental Simplificado, ou LAS Cadastro, já não exige análise técnica detalhada. “O produtor preenche os documentos e sai com o certificado em mãos. Essa flexibilização só enfraquece o controle ambiental”, afirma. “A conta vai para os camponeses e para o povo”, afirma o MST Integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a militante Maíra Pereira Santiago reforça que a medida deve ampliar os conflitos socioambientais e intensificar o modelo de produção baseado no uso de venenos e na concentração de terras. “Vai atingir diretamente territórios indígenas, quilombolas, assentamentos e acampamentos. É uma medida que vai sair muito cara para nós. É o oposto da agroecologia e da reforma agrária que defendemos. Ao invés de democratizar o acesso à terra e proteger o meio ambiente, o governo favorece quem já tem muito,”, aponta Maíra. Ela também critica o impacto da medida na concentração fundiária, já que grandes proprietários terão mais facilidade de expandir suas áreas sem obstáculos legais ou ambientais. “Minas está se especializando em perder” Para Ceppolini, o Estado brasileiro segue aprofundando um modelo colonialista e predatório, que exporta commodities e importa desigualdades. “Estamos perdendo biodiversidade, terras produtivas para alimentação básica, e as populações mais vulneráveis estão pagando a conta com saúde, água e território. Só no semiárido mineiro, temos mais de três vezes o estado de Sergipe em áreas de pasto. E mais: temos eucalipto cobrindo o equivalente a cinco vezes o Rio de Janeiro. Isso é devastação”, conclui o professor. Enquanto isso, lembra o pesquisador, o governo federal lançou um Plano Safra 2024/2025, dirigido ao agronegócio, com R$ 475 bilhões em crédito, sendo R$ 400,58 bilhões para os grandes empresários e R$ 74,98 bilhões para os pequenos agricultores. :: Relembre: Governo lança Plano Safra para o agronegócio e a agricultura familiar nesta quarta-feira (3) :: Fonte: Brasil de Fato
Milhares de argentinos lotam a Praça de Maio em apoio a Cristina Kirchner

Multidão denuncia perseguição judicial e responde com mobilização à prisão domiciliar da ex-presidenta, pede à Justiça autorização para aparecer na sacada Milhares de pessoas ocuparam a Praça de Maio, em Buenos Aires, nesta quarta-feira (18), em uma grande manifestação em apoio à ex-presidenta argentina Cristina Fernández de Kirchner. A mobilização ocorre dois dias após a Justiça impor prisão domiciliar à ex-mandatária, em um contexto de crescente tensão institucional e denúncias de perseguição política. O protesto foi convocado por sindicatos das centrais CGT, CTA dos Trabalhadores e CTA Autônoma, além de movimentos populares de diversas províncias. A manifestação foi inicialmente planejada para ocorrer em frente ao tribunal de Comodoro Py, mas foi transferida para a Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, após a decisão judicial que restringiu a liberdade de Cristina. Desde as primeiras horas da manhã, militantes começaram a se reunir nas imediações do bairro Constitución, onde está localizada a residência da ex-presidenta. Ao longo do dia, a mobilização cresceu até tomar o centro da capital argentina. “Temos memória, e em momentos como este é preciso sair para defender Cristina e os direitos do povo”, disse Martín, estudante da região metropolitana de Buenos Aires, ao jornal El Tiempo Argentino. Oscar, aposentado e militante sindical, viajou de Quilmes para participar do ato. Para ele, a condenação tem motivação política: “Não é justiça, é uma vingança dos grupos econômicos. Tocaram em nossa líder, e o peronismo vai despertar”, afirmou ao Tiempo. “Vamos seguir nas ruas, com os dirigentes à frente, ou com a cabeça dos dirigentes. O povo inteiro está aqui para bancar Cristina.” Muitas pessoas viajaram longas distâncias até a capital. Maria, dona de casa de Corrientes, levou mais de 12 horas de ônibus para estar presente. “Ela fez muito pelo povo. Vim gritar bem alto que Cristina é inocente.” Já Maverick Márquez, ativista LGBT+ de Alvear, destacou os direitos conquistados durante os governos kirchneristas: “As trans não esquecem. Lutamos porque ela nos deu liberdade, futuro”. Durante o ato, também houve críticas ao governo de Javier Milei, acusado de estimular ações repressivas contra manifestações populares. Desde a semana passada, militantes mantêm vigília diante da casa de Cristina Kirchner, que governou a Argentina entre 2007 e 2015 e enfrenta processo por suposta corrupção em contratos de obras públicas. Sua defesa sustenta que o caso se trata de uma perseguição com motivação política. Sacada sob disputa judicial Enquanto a Praça de Maio era ocupada por milhares de pessoas, os advogados de Cristina Kirchner entraram com um pedido no Tribunal Oral Federal nº 2 para esclarecer se a ex-presidenta pode ou não sair à sacada de seu apartamento. A dúvida surgiu a partir das regras da prisão domiciliar, que impõem a ela a obrigação de “abster-se de adotar comportamentos que possam perturbar a tranquilidade do bairro”. A defesa argumenta que não há proibição expressa para que a ex-presidenta apareça na janela ou na sacada, e que impedir isso violaria garantias constitucionais. Cristina ainda não se manifestou publicamente desde que começou o cumprimento da medida, mas segundo seus advogados, poderá recorrer à Suprema Corte caso o pedido de esclarecimento não seja respondido rapidamente. O tema provocou debates entre magistrados e membros do Ministério Público. Parte dos juristas sustenta que não há base legal para restringir esse tipo de manifestação pública, enquanto outros alertam para os riscos de segurança e argumentam que o local não pode se transformar em ponto de aglomeração. A prisão domiciliar de Cristina, de 72 anos, foi concedida por sua idade, conforme prevê o Código Penal argentino. No entanto, a decisão gerou forte reação social. “Ela sempre esteve conosco, agora é nossa vez de estar com ela”, resumiu Juan Carlos, trabalhador de Buenos Aires. “Eles têm medo, porque sabem que o povo votaria nela. Ela não vai se render. E nós vamos voltar.”
Alexandre Pires é anunciado como atração principal no aniversário de Montes Claros

O prefeito de Montes Claros, Guilherme Guimarães, anunciou na tarde desta quarta-feira (10), no auditório do prédio da nova Prefeitura (Av. Governador Magalhães Pinto, 4000 – Jaraguá) que o cantor, compositor e multi-instrumentista, Alexandre Pires será a atração principal do aniversário de 168 anos de Montes Claros A comemoração, que será realizada no dia 3 de julho, nas dependências do Parque de Exposições João Alencar Athayde, com entrada gratuita, ocorre na 51ª edição da Expomontes, e terá, além de Alexandre Pires, várias atrações artísticas e culturais no palco da Expomontes, no próximo dia 3 de julho A História de Alexandre Pires Alexandre Pires do Nascimento começou sua carreira musical em 1989, quando decidiu, ao lado de seu irmão Fernando, montar o Só Pra Contrariar (SPC), nome dado em homenagem à canção do grupo Fundo de Quintal, que havia atingido grande popularidade em pouco tempo. Quando aprendeu a tocar no cavaquinho Samba “Só Pra Contrariar” não imaginou o quanto essa canção seria importante para sua carreira. A década de 1990 foi de extrema importância para o grupo, que viu suas vendas crescerem ao longo da década. Em 2001 lançou seu álbum de estreia como cantor solo intitulado Alexandre Pires / É Por Amor e comercializado em ambas as línguas: espanhol e português. A boa produção do 1° álbum rendeu, em 2002, um prêmio Grammy na categoria “Engenharia de Som” e o reconhecimento da revista Billboard, com o prêmio no Latin Music Awards, de “Melhor Artista do Ano” em 2001. Com o passar dos anos consolidou sua carreira nacional e internacional ganhando prêmios e destaque na indústria musical. Lançou vários álbuns e firmou inúmeras parcerias de sucesso. Em março de 2013 Alexandre retorna ao grupo Só Pra Contrariar para turnê em comemoração dos 25 anos de carreira do grupo. Em 2018 e 2019, Alexandre lança a turnê Baile do Nêgo Véio, com 3 horas de show, cantando clássicos dos anos 90, com músicas de pagode, axé e outros estilos da época e claro, com as músicas do Só Pra Contrariar, grupo que o consagrou. Pai de 3 filhos e com uma carreira consolidada no Brasil e exterior, Alexandre Pires é um dos grandes talentos da nossa MPB.
Lula entrega 318 máquinas agrícolas em Minas Gerais

Governo investe na mecanização do campo com motoniveladoras, retroescavadeiras, pás carregadeiras e outros equipamentos para 301 municípios por meio do Promaq O presidente Lula entregou 318 máquinas agrícolas para 301 municípios de Minas Gerais, em cerimônia realizada no Ceasa Minas, em Contagem (MG), nesta quinta-feira (12). O investimento total pelo Programa Nacional de Modernização e Apoio à Produção Agrícola (Promaq), do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), é de R$ 150 milhões. Entre as máquinas entregues constam motoniveladoras, retroescavadeiras, pás carregadeiras, escavadeiras hidráulicas, tratores e rolos compactadores. A doação dos equipamentos visa incentivar a modernização do campo, dando prioridade para locais ou regiões com baixa mecanização e pouca infraestrutura para escoamento da produção, assim como a municípios em situação de emergência. Segundo o governo federal, o Promaq já entregou 515 máquinas agrícolas para 460 municípios de nove estados, excluindo as máquinas entregues neste ato em Contagem. Nos discursos proferidos pelas lideranças, foi possível observar uma constante: todos salientaram que o Promaq foi abandonado nas gestões Temer e Bolsonaro. Dessa forma, os agricultores ficaram sete anos sem receber equipamentos federais para impulsionar seu trabalho. As últimas entregas aconteceram no governo Dilma Rousseff. Assim, o governo Lula se destaca como o maior apoiador do agronegócio e da agricultura familiar nacional, com os maiores Planos Safra da história, superados a cada ano. E todo esse cenário positivo é mantido, mesmo diante da antipatia do setor em relação a Lula e — por que não dizer? — até mesmo da sabotagem promovida por uma parcela que se recusa a reconhecer os benefícios recebidos e as inúmeras oportunidades criadas, com novos mercados sendo abertos, cada vez mais, aos produtos brasileiros no exterior. “A entrega dessas máquinas aqui é uma coisa fantástica. Eu tinha feito o PAC 1 [Programa de Aceleração do Crescimento] em 2007. Quando eu fui terminar meu mandato, eu preparei o PAC 2 para a Dilma, para ela não começar do zero. Ou seja, ela começou a preparar [a compra] essas máquinas. Quando fizeram o impeachment dela, nunca mais teve uma máquina dessa. Então, não é possível que as pessoas não percebam a diferença entre governo que trabalha e governo que fica no celular”, disse Lula em referência ao governo de Jair Bolsonaro. Segundo Lula, os bolsonaristas têm banalizado a atividade política por meio de notícias falsas divulgadas pelo celular. Nessa linha, criticou o ex-presidente Bolsonaro, a quem acusa de não acreditar nas universidades, nos sindicatos, na cultura, na educação, nas mulheres, nos negros: “o cara não acredita em nada”. Na sequência, ainda se referiu ao depoimento de Bolsonaro, sem citar seu nome, a Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal. “Vocês viram que ele [Bolsonaro] é um covardão? Vocês viram o depoimento dele, não é? Ele estava com os lábios secos, ele estava quase se borrando. É muito fácil ser corajoso dentro de casa no celular, falando mal dos outros”, completou Lula. Estiveram presentes os ministros Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Marina Silva (Meio Ambiente). Entre os parlamentares presentes compareceu o ex-presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco, cotado como pré-candidato ao governo de Minas nas próximas eleições. Antes do ato em Contagem, Lula esteve na cidade de Mariana (MG) para anunciar os investimentos da União referentes ao acordo de reparação de R$ 132 bilhões em decorrência do rompimento da Barragem do Fundão.
Poço sem fundo – Com Zubeldia, lei de Tiririca é desafiada a cada jogo

São Paulo perdeu por 3 x 1 para o Vasco no Morumbi e ninguém pode apostar que haverá alguma melhora nos próximos jogos Pior do que está não fica. Vote em Tiririca. A brincadeira foi ruim para o Brasil, com três mandatos do despreparado palhaço. Não haverá quarta vez. O povo cansou. Depois de 12 anos. Casares vai demorar tanto? Sim, não dá mais. Com Zubeldia, pior do que está, fica. A cada jogo é uma angústia, um desânimo. O esquema é sempre o mesmo, com dois pontas espetados. Nada de jogadas pelo meio. E tome bola esticada para o Calleri fazer o pivô. Só que o Calleri não está mais. O que muda é quem comete o erro individual. Um dia é Enzo, no outro o Wendell. Alisson ou Pablo Maia. Rafael sava um dia e afunda no outro. Luciano vai de 8 a 80. Cadê o Alves? Não há solução com Zubeldia Só há uma certeza. Pior do que está, fica. Ninguém garante que perder de 3 x 1 do Vasco em casa é o fundo do poço. O belo gol de Ryan Francisco no último lance go jogo pode ser um alento. Via: Revista Fórum
Israel ataca maior campo de gás do Irã e mira em mudança de regime

Teerã age com cautela para não desatar Terceira Guerra Mundial Num ataque que representa uma grande escalada no confronto, Israel usou drones contra a refinaria de gás de Fajr Jam e o maior campo de gás natural do mundo, o de South Pars, no Golfo Pérsico. O campo de gás é tão gigantesco que é compartilhado entre o Irã e o Catar. Por Luiz Carlos Azenha Escrito en GLOBAL O governo iraniano informa que já conseguiu conter os incêndios. O ataque causou comoção no Golfo Pérsico, uma vez que ameaça a infraestrutura de gás e petróleo que serve diretamente ao consumo doméstico de gás do Irã, mas coloca em risco a de países aliados dos Estados Unidos, como o Catar, Barein, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita. Os ataques de Israel à infraestrutura de energia do Irã, bem como a uma fábrica de cimento, demonstram que o objetivo de Benjamin Netanyahu vai muito além de conter o projeto nuclear iraniano. Trata-se de uma clara tentativa de mudança de regime, como Saddam Hussein, com apoio do Ocidente, tentou durante a guerra que moveu contra o Irã, nos anos 80 do século passado. Foram oito anos de conflito. Fire in phase 14 of Iranian South Pars gas field onshore facilities after an Israeli attack reportedly by a drone today (June 14, 2025) pic.twitter.com/xmmoeLyRd2 — Mehdi H. (@mhmiranusa) June 14, 2025 Ameaça existencial desde 1979 Agora está mais claro que o objetivo de Israel é fazer desmoronar a República Islâmica do Irã, instalada em 1979 pela revolução do aiatolá Khomeini. Isso pode ser depreendido pelo escopo dos ataques militares israelenses, além da retórica do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que sugeriu aos próprios iranianos que ajudem a derrubar o regime. A República Islâmica nasceu tendo como um dos objetivos eliminar Israel do mapa. Na visão de Khomeini, ainda vigente, o estado de Israel foi um implante dos Estados Unidos e do Ocidente na região em busca de controlar os recursos naturais do Oriente Médio e solapar a soberania local. Neste sentido, Israel e Irã são ameaças existenciais um ao outro. O Irã superou o isolamento a que foi submetido pelo Ocidente através de sanções nos últimos quarenta anos. Khomeini falava em “nós podemos” como um slogan que animou os iranianos, especialmente durante a guerra contra o Iraque, na qual Saddam Hussein recebeu armas e informações de Reino Unido, França, Alemanha e Estados Unidos para eliminar o regime xiita. A guerra estalou em 1980, quando a revolução mal havia se estabilizado, e durou até 1988. Saddam foi incapaz de cumprir a tarefa que agora Israel assumiu. Pelo contrário. Foi durante a longa guerra que o Irã desenvolveu sua capacidade de construir mísseis e responder aos ataques do Iraque com os mísseis Scud fornecidos pela França. Os Estados Unidos se envolveram diretamente na guerra quando o Iraque corria o risco de sofrer uma derrota militar, fornecendo principalmente informações de satélite sobre o movimento das tropas e arsenal iranianos. Irã saiu do isolamento Passados 35 anos do final daquele conflito, o Irã aprofundou relações com vários países, inclusive potências regionais como a Turquia e a Arábia Saudita — neste último caso através de mediação da China. O país ingressou nos BRICS e, mais recentemente, fechou um acordo estratégico com a Rússia. A crença de Israel de que pode eliminar agora o regime dos aiatolás nasceu das derrotas que Tel Aviv impôs ao Arco da Resistência organizado pelo Irã no Líbano, na Síria e em Gaza, com a degradação do poderio militar do Hezbollah e do Hamas. Derivou também de uma conjuntura internacional em que a Rússia, o parceiro militar mais próximo do Irã, tem diante de si o desafio da guerra da Ucrânia. Recentemente, a Ucrânia atacou diretamente a infraestrutura de defesa estratégica da Rússia, ao destruir bombardeiros de longa distância em bases instaladas nas profundezas de território russo. Pela nova doutrina de defesa de Vladimir Putin, tal ataque poderia desatar uma resposta nuclear russa contra a Ucrânia e seus patrocinadores, mas Moscou age com cautela à espera de algum tipo de normalização de relações com os Estados Unidos. Isso sugere que a Rússia terá envolvimento militar limitado, se tiver, no enfrentamento entre Irã e Israel. Vladimir Putin e o presidente Donald Trump conversaram por telefone nas últimas horas sobre uma saída negociada para a guerra entre Israel e o Irã. Por conta própria O regime em Teerã terá de enfrentar a ameaça existencial praticamente por conta própria. Sua única opção neste momento é provar que tem condições de provocar destruição suficiente em Israel que leve Netanyahu e os Estados Unidos a repensarem sua estratégia. Para Israel, o acontecimento dos sonhos será a entrada direta dos EUA no conflito. Além de porta-aviões no mar da Arábia, os estadunidenses dispõem de bases militares em toda a região, através das quais poderiam inflingir danos muito mais custosos ao Irã. A resposta do Irã nas próximas horas será crucial. O país poderia atacar, por exemplo, a região do porto de Haifa, essencial à sobrevivência do próprio estado de Israel. Por enquanto, no entanto, o Irã tem agido de forma contida, escolhendo mirar exclusivamente em alvos militares. Uma guerra generalizada na região pode provocar uma disparada ainda maior nos preços de gás e petróleo, o que não interessa aos Estados Unidos. Terceira Guerra Donald Trump quer que o Irã abra mão do enriquecimento de urânio, mas se aceitar tal condição o regime iraniano sofrerá uma derrota política tão grande que corre o risco de cair. Potencialmente, por causa da geografia, o Irã pode fechar com facilidade o estreito de Ormuz, por onde passa um de cada cinco barris de petróleo consumidos no planeta. Neste caso, no entanto, provavelmente atrairia os Estados Unidos diretamente para a guerra, Em caso de ameaça existencial, o regime dos aiatolás pode atacar bases militares dos EUA na região e instalações petrolíferas de países árabes, com o potencial de desatar uma Terceira Guerra Mundial. Isso é pouco provável, diante do histórico de cautela do governo persa. O