Enquanto a população sofre com o péssimo serviço de transporte público em Montes Claros, prossegue a queda de braço entre o município e o consórcio MocBus, que explora o sistema. Atualmente, o serviço funciona à revelia.
O município acionou o concessionário por descumprimento de contrato, mas teve como resposta uma liminar em favor das empresas, o que, na prática, impede a fiscalização por parte do poder público municipal.
Agora, na contraofensiva, a prefeitura abriu dois procedimentos administrativos para que o consórcio faça o ressarcimento aos usuários de lotação no total de R$ 26 milhões, que teriam sido cobrados indevidamente dos consumidores entre abril de 2009 e abril de 2011 e que a Justiça mandou descontar nas tarifas.
Por outro lado, as duas empresas que compõem o consórcio – Solaris e Alprino – pediram o realinhamento e equilíbrio financeiro, alegando que acumulam prejuízo de R$ 22 milhões por causas da pandemia. E querem reajuste da tarifa, dos R$ 3,10 atuais para R$ 4,20
Crítico da postura dos empresários do setor, recentemente o vereador Rodrigo Cadeirante se referiu a eles como “mentirosos e picaretas”, durante audiência pública realizada na Câmara Municipal, por iniciativa da vereadora Iara Pimentel. O evento serviu justamente para discutir a má prestação do serviço de lotação na cidade, que resulta na situação de penúria por que passam os trabalhadores do setor.
Na ocasião, eles informaram que estão submetidos a uma situação degradante de trabalho e expostos a condições desumanas, obrigados a cumprir carga excessiva e sofrendo de doenças devido ao estresse, situação agravada pela perda do plano de saúde.
Por conta das condições desumanas são comuns os casos de depressão e síndrome do pânico. O sindicato da classe denunciou que as empresas estão atrasando o pagamento mensal e só recentemente depositaram o 13º Salário referente a 2020. E ainda não há previsão para o recebimento desse direito relativo a 2021.
Os trabalhadores também não estão recebendo o vale-refeição, o que implica numa situação absurda, que é a dos colegas fazerem vaquinha para a compra de cestas básicas para as famílias mais atingidas, por causa do atraso no pagamento.
A redução da frota de ônibus e as demissões sobrecarregaram as equipes, sacrificando os motoristas para cumprirem os horários. Eles ainda precisam acumular a função de cobrador.
No dia foi bastante criticada a ausência de representantes das empresas. E mais ainda a justificativa enviada por escrito. Na nota, o MocBus dizia ser de “clareza solar” os supostos prejuízos que a operadora do sistema teria sofrido e finaliza dizendo que está aberto ao diálogo.
“É de clareza solar que o MocBus falta com a verdade quando diz que está aberto ao diálogo e nem aqui comparece. É de clareza solar que vocês não têm moral, porque estão maltratando seu principal patrimônio, que são seus funcionários. É de clareza solar que vocês são bandidos e picaretas”, retrucou, indignado, Rodrigo Cadeirante.
“Muitas vezes o usuário xinga o motorista, porque é quem está mais próximo dele, mas, na verdade, esse trabalhador é vítima dos criminosos que exploram o transporte público em Montes Claros”, acusou.
O vereador estimulou a população a processar as empresas pela má prestação do serviço. Ele próprio, portador de limitações motoras, revelou que ganhou ação no STF contra o concessionário do transporte porque os coletivos não ofereciam acessibilidade para o embarque.

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