– A distância entre ser e parecer, na política, é muito pequena. Na prática, quase nenhuma –
O Procurador Geral da República, ao recusar as regras de um jogo que já estavam sedimentadas – a escolha do cargo a partir da lista tríplice formada com o voto da categoria – entregou, por sua ambição, sua alma ao presidente da República.
Como Mefistófeles no Fausto de Goethe, a hora de pagar o preço sempre vem quando se pensa alcançar a situação de felicidade que parece eterna, como é uma cadeira no STF.
Bolsonaro, ao acenar com uma “vaga não prevista” do Supremo, acenou publicamente com aquilo que já acenara em particular ou, ao menos, na mente de Augusto Aras.
O resultado é que o Procurador se tornou um molambo perto da independência que o cargo exige. Mesmo que de boa-fé ou por convicção jurídica tome alguma decisão que favoreça o presidente, ninguém mais deixará de suspeitar – lembram-se da convicção mesmo sem provas inventada pelo próprio MP? – que o fez por sabujice interesseira.
A repórter Malu Gaspar, na Piauí, mostra que já há uma sublevação entre seus próprios pares dentro da PGR, inclusive entre alguns de seus auxiliares diretos.
Não parece que o ânimo do STF em guerra com a Presidência, certamente não será diferente.
O Ministério Público, como todos os que entraram na aventura desastrosa da politização da Justiça, é mais um que tem uma morte sem honra.