Em todos os jornais, diz-se que os embaixadores, diante do show de Jair Bolsonaro sobre um delirante complô de ministros do TSE e do STF para fraudarem as eleições, viram no espetáculo um ensaio trumpista do presidente brasileiro para insurgir-se contra o resultado das urnas.

Assim é, mas com uma e decisiva diferença: Donald Trump não tinha o apoio dos chefes militares dos EUA e, por isso, não surgiu uma quartelada para apoiar os selvagens do Capitólio, ainda que, como revelaram as investigações posteriores, tenha havido algum retardo no emprego da Guarda Nacional para deter a tentativa de golpe arruaceira que seus adeptos promoveram.

Aqui, ao contrário, o que se vê é uma inadmissível subversão da ordem democrática promovida por eles, ao servirem-se de uma suposta “preocupação tecnológica” para, na prática, prestarem-se a serem exibidos como “leões de chácara” da ordem bolsonarista, não a republicana.

E, agora, exibirem-se internacionalmente como tal, quando Bolsonaro se apresenta como sendo ele próprio sendo “as Forças Armadas”. O “nós”, repetido profusamente por Bolsonaro ao referir-se a elas, não deixa dúvidas a ninguém e, muito menos, aos altos oficiais das Armas.

Se o alto comando das Forças Armadas entende que a chefia suprema das Forças Armadas leva os comandos militares a serem seus partidários político-eleitorais, são, por extensão, golpistas também.

Nada, nos seus regulamentos e limitações legais, os impede de, institucionalmente, de pronunciarem a sua disposição a acatarem os resultados das urnas, apurados e proclamados pelas autoridades eleitorais competentes. Ao contrário, faz parte de seus deveres.

Não cumprir com estes deveres, ainda mais quando são apresentadas ao mundo como um força golpista, isto sim é atacar as Forças Armadas, exibidas internacionalmente como cúmplice dos planos golpistas de um presidente que, do princípio ao fim, percorre todos os capítulos da lei de crimes de responsabilidade.

E que se apresentam, silentes e perfiladas a crimes maiores, os crimes de sangue que advirão de uma insurreição de bandos armados que, de dentes à mostra, acorrerão ao uivo de Bolsonaro na derrota que se avizinha.

* Editor do Tijolaço

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