Cocaína no avião da comitiva de Bolsonaro: o que aconteceria se esse caso de tráfico tivesse ocorrido no governo de Dilma?

Bolsonaro pode usar a desculpa que quiser, mas um fato é inafastável: no seu governo, um avião presidencial foi usado para traficar 39 quilos de cocaína.

Segundo a polícia espanhola, a droga foi encontrada em 37 pacotes na mala de um segundo sargento da Aeronáutica, de 38 anos, identificado pela iniciais “M.S.R.”

Chama a atenção a manifestação de Bolsonaro no Twitter. O texto sobre o episódio é evasivo e, ao contrário das demais postagens, está em uma imagem. É a fotografia de um texto previamente escrito.

Provavelmente, não foi ele quem escreveu.

No texto que assina, Bolsonaro fala sobre a formação militar dento dos “mais íntegros princípios da ética e moralidade” e não cobra explicações sobre como houve essa falha na segurança.

Na hipótese de que tenha havido mesmo falha, esta deve ser debitada na conta do general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional.

Imagine-se se um evento desse tipo tivesse ocorrido no governo da Dilma Rousseff ou do Lula. Como a imprensa estaria tratando o caso?

No texto, Bolsonaro também coloca em dúvida se o militar preso era mesmo o portador da droga, ao dizer:

“Caso seja comprovado o envolvimento do militar nesse crime, o mesmo será julgado e condenado na forma da lei”.

Sim, poderá ser. Mas não pelo Brasil, que não tem jurisdição sobre o que acontece em território espanhol.

O caso será julgado pela Justiça espanhola. Se o flagrante tivesse ocorrido na Indonésia, o militar seria condenado à morte.

Na Espanha, a pena não será esta.

Também chama a atenção que, depois desse flagrante, o governo tenha alterado a rota do voo que levaria Bolsonaro. A aeronave faria o reabastecimento no aeroporto de Sevilha, o mesmo onde a cocaína foi apreendida, mas mudou a escala para Lisboa.

Não houve explicação para essa mudança, o que só faz aumentar o vexame.

O avião com cocaína é o da frota presidencial usado na missão precedente. No caso de defeito no avião principal, é usado para transportar o próprio presidente.

As autoridades espanholas não liberaram outras informações sobre esse caso de tráfico internacional.

Boulos: depois do Helicoca, temos o escândalo do Aerococa

O líder do MTST, Guilherme Boulos, repudiou o escândalo envolvendo um militar, membro da comitiva de Jair Bolsonaro e preso na Espanha com 39 quilos de cocaína; “Depois do Helicoca, agora temos o escândalo do Aerococa”, disse; em fevereiro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) acusou os governo do PT de usarem aviões do ministério da Saúde para transportar drogas; agora fica claro em que governo isso acontece

– O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, repudiou o escândalo envolvendo um militar, membro da comitiva do presidente Jair Bolsonaro e foi preso nesta terça-feira (25) na Espanha com 39 quilos de cocaína (veja aqui).

“Depois do Helicoca, agora temos o escândalo do Aerococa. Os dois têm algo em comum: mostram que o narcotráfico de verdade não está nas favelas. O crime organizado tem raízes no Estado e no poder econômico. É fácil atacar o ‘aviãozinho’ e preservar os aviões e helicópteros…”, disse o ativista no Twitter. “Fica a questão se a imprensa chamará de traficante o militar preso em avião da FAB com 39 kg de cocaína ou precisa do comprovante de endereço em alguma favela?”, complementou.

Boulos refere-se a outro escândalo que foi encoberto por citar poderosos: o do “Helicoca”, envolvendo o ex-senador Zezé Perrela, grande amigo do deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG). Perrela ganhou destaque nacional em 2013, quando a Polícia Federal apreendeu 445 quilos de cocaína em um helicóptero de propriedade de sua família e chegou a citá-lo em investigação sobre tráfico internacional de drogas.

Em novembro de 2016, a corporação apreendeu a droga dentro de um helicóptero perto da cidade de Afonso Cláudio, no interior do Espírito Santo. A aeronave pertencia à Limeira Agropecuária, empresa do então deputado estadual por Minas Gerais Gustavo Perrella (SDD), filho de Zezé, ex-presidente do Cruzeiro.

Três horas e meia antes da operação policial, o helicóptero teria parado para abastecer a 14 quilômetros da pista de Cláudio (MG), que pertence à família de Aécio Neves. O aeroporto foi construído pelo governo de Minas Gerais na gestão do tucano, que gastou R$ 14 milhões, num município de 25 mil habitantes. Até hoje ninguém foi preso.

Mesmo com a direita associada ao transporte de drogas nos escândalos de Sevilha (Espanha), envolvendo Jair Bolsonaro, e do “helicoca”, envolvendo Aécio, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) divulgou um vídeo, em fevereiro deste ano, levantando suspeitas sobre os governos do PT terem usado aviões a serviço do ministério da Saúde para transportarem drogas.

De acordo com o parlamentar, a suspeita teria sido levantada em uma reunião pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. “O traficante ganhou a licitação e o SUS é uma excelente maneira de você fazer tráfico”, disse o ministro na época.

Eduardo Bolsonaro afirmou ainda que a “prática é recorrente na Venezuela, que é um pais que o PT sempre apoiou, portanto eu não ficaria surpreso se esta prática estivesse ocorrendo também no Brasil”, disse.

QUANDO ERA DEPUTADO, BOLSONARO ENVIOU MOÇÃO DE APOIO AO PRESIDENTE DA INDONÉSIA, QUE FUZILOU BRASILEIRO ACUSADO DE TRÁFICO DE DROGAS

Em fevereiro de 2006, Jair Bolsonaro era deputado federal pelo PP do Rio. Naquela época, enviou ao presidente da Indonésia uma moção de apoio e congratulação pela morte do brasileiro Marco Archer, condenado por tráfico de drogas (a legislação indonésia prevê pena de morte para tráfico).

Quem diria que a vida pregaria essa ironia para o hoje presidente da República. Ontem, um militar que integrava a comitiva de Bolsonaro na Espanha foi preso. Ele transportava 39 quilos de cocaína no avião da FAB. Calcula-se que, no mercado europeu, a droga deveria ser vendida por pelo menos R$ 11 milhões no total.

Enquanto isso, os internautas não perdoam…

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