- – Revólver que matou Van Gogh é leiloado em Paris –
Considerada a “mais famosa arma da história da arte”, pistola Lefaucheux teria sido usada no suicídio do pintor em 1890. Casa de leilões responsável pela venda também reconhece outra versão da morte do artista.
A casa de leilões parisiense Drouot vendeu por 162 mil euros (cerca de 700 mil reais) na quarta-feira, 19.06., a arma com a qual Vincent Van Gogh supostamente se suicidou em 27 de julho de 1890. A arma foi comprada por um colecionador particular em oferta telefônica. O revólver Lefaucheux de 7mm fora estimado inicialmente entre 40 e 60 mil euros.
A arma foi descoberta por um agricultor, por volta de 1960, num campo perto de Auvers-sur-Oise, vilarejo ao norte de Paris onde o pintor holandês passou os últimos meses de sua vida.
A casa de leilões AuctionArt – Rémy Le Fur, que vendeu a arma através do Hôtel Drouot, disse que, dificilmente sua autenticidade pode ser absolutamente estabelecida e que só há certeza sobre o local onde foi encontrada. “Testes técnicos mostraram que ela foi usada e esteve enterrada por um período que se encaixaria com o ano de 1890”, afirmou. “Todas essas pistas dão crédito à teoria de que esta foi a arma usada no suicídio”, afirmou a casa de leilões. Com essas conclusões, o revólver foi acolhido pelo Museu Van Gogh em Amsterdam, onde foi apresentado pela primeira vez ao público na exposição Nos confins da loucura, a doença de Van Gogh , em meados de 2016.
Testes revelaram que revólver ficou enterrado entre 50 e 80 anos.
De acordo com a Drouot, depois de uma estada de dois anos no sul da França, Van Gogh se instalou em Auvers-sur-Oise, em 20 de maio de 1890, a conselho de seu irmão Theo. O médico Paul Gachet, amigo de Camille Pissaro e de vários pintores impressionistas, cuidou do artista holandês, que teve frequentes crises psicológicas.
Van Gogh, que alugava um quarto na estalagem de Arthur Ravoux, estava no auge de sua criatividade, pintando mais de um quadro por dia. Mas no final do mês de julho, sua saúde mental ficou cada vez mais abalada.
O pintor tomou a arma emprestada do dono da estalagem. Num domingo em 27 de julho de 1890, Van Gogh foi passear no campo. Levantou a camisa e disparou sobre o peito com a arma que teria levado da estalagem.
Van Gogh deixou escapar o revólver das suas mãos e desmaiou. Ferido, recuperou a consciência e regressou à estalagem. Apesar dos cuidados do médico Paul Gachet, Vincent Van Gogh morreu após 36 horas de agonia, na noite de 29 de julho de 1890.
A maioria dos historiadores da arte acredita que Van Gogh se matou. Essa suposição, no entanto, foi questionada nos últimos anos. Em 2011, investigadores americanos defenderam a tese de que o pintor não teria se suicidado, mas teria ficado ferido por um tiro acidental disparado por dois meninos que brincavam com uma arma no campo. Essa teoria ganhou novo apoio através de uma nova cinebiografia do artista holandês, estrelada por Willem Dafoe, No portal da eternidade (2018), na qual a arma dispara após os dois irmãos entrarem em conflito com o estranho boêmio.
A casa de leilões reconheceu que a arma também poderia ter sido escondida ou abandonada pelos dois garotos.
Fonte: DW-Germany
Quem foi Vincent Van Gogh?
Augúrios sombrios…
Vincent Willelm Van Gogh veio ao mundo em 30 de março de 1853, recebendo o mesmo nome do irmão que nascera morto exatamente um ano antes. Ao todo eram cinco crianças na casa do pastor protestante Theodorus. Vincent descreveu a juventude na casa da família em Groot-Zundert como “escura e fria”. Ao longo de sua breve vida, ele manteve correspondência regular com o irmão Theo, quatro anos mais novo.
Ovelha negra da família
Aos olhos de sua família, Vincent era um fracassado. Toda profissão que assumiu, seja marchand, oficial de Marinha ou pregador laico, ele abandonou depois de pouco tempo. Em 1879 ele assumiu um cargo temporário de missionário na região carvoeira de Borinage, Bélgica. Alugou uma cabana junto à família de um padeiro na cidade de Cuesmes, onde viveu na mais absoluta pobreza.
Lápis como arma
A miséria dos mineiros impressionou Vincent Van Gogh. Mais ainda: ele se identificou ao extremo com os habitantes da Borinage, pintou o rosto de preto para ser um deles. Por fim, tomou o lápis e passou a documentar a vida das pessoas em torno de si, em desenhos canhestros.
No fundo do poço
Da mina Marcasse, na Borinage, hoje só restam ruínas, um vagão recorda tempos sombrios. É nele que Van Gogh entrou, para vivenciar de perto as condições de trabalho dos mineiros, a 700 metros de profundidade. Em carta ao irmão Theo, ele descreveu seu choque com a opressiva falta de espaço e escuridão.
Escuridão inicial
Após vários desvios, chegou à cidade holandesa de Nuenen, para onde seu pai fora designado como pastor. Vincent buscou abrigo junto aos pais, que só a contragosto o acolheram. Lá permaneceu, de 1883 a 1885. No período, ele retratou os lavradores e os campos da província de Brabante do Norte, ainda em cores escuras. Ele pintou de forma direta, sem embezar, até mesmo um simples cesto de batatas.
Motivos singelos
Em Nuenen, hoje um subúrbio da metrópole Eindhoven, Van Gogh desfrutou uma vida simples. Ele descobriu as tecelarias caseiras como tema pictórico, assim como as edificações pequenas e singelas típicas da cidade. O pintor ainda principiante trabalhou todo um inverno nos esboços de “Os comedores de batatas”, até ficar satisfeito.
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Nasceram obras cheias de melancolia, algumas ainda anatomicamente imperfeitas. Mas ele
pintou ao menos um quadro por dia. Em Nuenen ele teve até mesmo um ateliê próprio – um enorme luxo. A residência do pastor (foto) dava vista sobre a despojada cabana de jardim em que Van Gogh trabalhava.
Atração pela França
Ninguém podia prever que esse antiacadêmico holandês estaria, um dia, entre os artistas mais importantes do mundo. Depois da morte do pai ele deixou Nuenen. Com “Os comedores de batatas” na bagagem, partiu para a Antuérpia e, pouco mais tarde, para Paris. Com o apoio financeiro do irmão Theo, que vivia ali como comerciante de arte, se instalou na metrópole à margem do Sena.
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Em 20 de fevereiro de 1888, Vincent deixou a capital, partindo para o sul da França, à procura de luz, como disse. Em constante intercâmbio com seus colegas pintores, os matizes explodiram em suas telas – vermelho, amarelo, verde, azul, violeta. Ele trabalhou com os contrastes das cores complementares e com linhas e superfícies fortemente expressivas.
• P e n s a m e n t o . . .
Primeiro a gente enlouquece e depois vê no que dá.
Thomaz Souto Corrêa