– A viagem do ex-presidente Lula pelo Brasil, que teve começo no Nordeste, vem sendo denominada pelo povo de AGE, sendo A de amor do povo, G, de gratidão do povo pelo que os governos de Lula e Dilma fizeram pelo povo, e E de esperança, o desejo incontido do povo para que Lula volte à Presidência em 2018. –
“Eu sei o que é carregar pote de água na cabeça”, diz Lula
Para ex-presidente, transposição era para ele quase um compromisso de fé; ato ocorreu em Campina Grande, na Paraíba, uma das beneficiadas pela obra
“Se eu pudesse, queria ser um barquinho de papel para jogar lá na captação do rio São Francisco e acompanhar a água fazer toda a trajetória para recuperar os açudes que estão secos”, afirmou o ex-presidente Lula, em Campina Grande, na Paraíba, para uma multidão que o esperava no ato Água e Democracia.
A passagem pelo município é mais uma etapa de Lula Pelo Brasil, uma iniciativa com o objetivo de perscrutar a realidade brasileira a partir do contato com quem a sente na pele dia após dia.
A região foi beneficiada pelo projeto de transposição do Rio São Francisco, que leva água do rio desde Pernambuco até a bacia do rio Paraíba. Recentemente, Campina Grande pôde abandonar o racionamento que vigorava há cinco anos.
Lula afirmou que a inauguração da transposição em Monteiro, em março deste ano, foi um dos dias mais felizes dos seus 71 anos de vida.
“Fazer a transposição do São Francisco era quase um compromisso de fé. Porque achava que não era necessário o povo morrer de sede apenas para encher as notícias da imprensa nacional”, disse o ex-presidente.
Para simbolizar a superação da seca, a juventude camponesa organizou um ato em que agricultores encenaram a trajetória da população nordestina que sai, com latas na cabeça, em busca de água no sertão. Latas que o ex-presidente carregou quando era uma criança no interior de Pernambuco.
“A seca para eles é uma estatística, e estatística não gera sensibilidade. Porque nós tínhamos sensibilidade? Eu sei o que é carregar pote de água na cabeça”, disse Lula. “Eu sei o que é beber água com caramujo. Eu sei o que é esquistossomose.”
Ricardo Stuckert/ Instituto Lula
Jovens agricultoras participam em ato em Campina Grande
Lula lembrou que, enquanto gastou R$ 9 bilhões para trazer água para milhares de nordestinos, o presidente golpista Michel Temer (PMDB) gastou R$ 14 bi para se livrar da denúncia e permanecer de forma ilegítima na presidência.
O ex-presidente também citou as 1,4 milhões de cisternas construídas no semi-árido nordestino, outro projeto implantado durante seu governo para resolver a questão da seca. As cisternas são repositórios que captam água no período chuvoso para utilização durante o período seco.
O ex-presidente também lembrou do programa Bolsa Família. “O Bolsa Família foi para que toda criança pudesse comer um pão com café com leite de manhã todo dia”, disse ele.
Lula destacou avanços do seu governo ao colocar o pobre dentro do orçamento da união. “Em 12 anos, nós criamos 22 milhões de empregos formais neste país, aumentamos salários de todas as categorias profissionais”, disse ele.
Golpe
Lula afirmou que a presidenta eleita Dilma Rousseff (PT) foi vítima da canalhice e cretinice de uma parte da elite do país “que não suportava ver uma mulher ex-presa política governar este país”.
Para ele, é a mesma gente que matou Getúlio Vargas e que caçou Jango Goulart em 1964.
“Eu sinceramente não sei como alguém que não foi eleito, que tem 97% de rejeição e não consegue fazer um ato com mais de três pessoas, consegue governar”, disse ele. “Eu fico imaginando o Temer passando no carro e cada pessoa que ele vê ele pensa: não tem ninguém que me apoia”, diz.
“Ele podia aliviar o país e devolver o mandato da Dilma que é dela, de direito, até dezembro de 2018”, afirmou.
Lula disse estar muito mais preocupado com o destino do povo brasileiro do que com o seu próprio. “Eu vejo faltar dinheiro nas escolas , nas universidades. Eu estou vendo o povo tendo redução de salário. Eu vi a noticia que o salário mínimo vai perder 10 reais. E outras coisas que eles vão cortar”, disse.
Lula reforçou a necessidade de luta e de defesa da soberania. “Temos que estar dispostos a ir para a rua sempre. Porque é com o povo na rua que podemos consertar o país”, disse.
“Eles sabem que eu talvez não saiba governar como eles, mas eu sei cuidar do povo e cuidar do povo significa tratar esse povo com carinho e respeito”, concluiu.
A suspensão do racionamento de água
Presente no ato, o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, lembrou que Lula fez o mais difícil no processo da transposição do rio São Francisco, que foi romper com o atraso, e colocar o processo em andamento.
Coutinho lembrou que antes, as pessoas não existiam para o poder público. “Eu lembro da época que o nordeste não tinha uma cisterna. O desânimo era total”, afirmou.
Coutinho falou sobre o recente episódio em Campina Grande. Após cinco anos, o racionamento de água foi suspenso, o que acabou suspenso por uma juíza. Por meio de liminar, o governo conseguiu reverter e liberar novamente o fim do racionamento. “Eles querem que o povo esteja sempre precisando de algo, precisando do básico”, disse.
O vice-presidente nacional do PT e coordenador de Lula pelo Brasil, Marcio Macedo, lembrou da história das várias caravanas de Lula ao longo das décadas de 1980 e 1990.
“Fez na década de 1980, organizando o movimento sindical. Fez na década de 1990, nas caravanas da cidadania. Fez na década de 2000, quando foi o presidente mais andarilho. E faz agora de novo, para levar esperança para o nosso povo e para nossa gente. Vocês o povo de Campina tome conta do presidente Lula aqui”, disse.
Por Mariana Zoccoli, enviada especial ao Nordeste com a caravana Lula pelo Brasil, para a Agência PT de Notícias
Caravana de Lula pelo Nordeste completa 6 estados neste domingo e chega ao RN
Ricardo Stuckert
Ato de entrega de título de cidadão pessoense a Lula
São Paulo – A caravana Lula pelo Brasil encerra na manhã deste domingo (27) em Campina Grande sua passagem pela Paraíba. A segunda maior cidade do estado tem 410 mil habitantes e ganhou em 2009 status de Região Metropolitana, abrangendo outras 16 cidades de seu entorno. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é recebido com ato público promovido por movimentos sociais em sua homenagem no Parque Ecológico Bodocongó, antes de seguir viagem em direção a Currais Novos, já em território potiguar, com 45 mil habitantes e a 176 quilômetros de Natal.
O Rio Grande do Norte viveu um boom de universidades, institutos federais e investimentos em educação básica nos governos de Lula e Dilma Rousseff. Segundo a senadora Fátima Bezerra (PT-RN), esse legado está ameaçado. “Lula decidiu colocar o pé na estrada novamente para ver de perto a situação de dificuldade que está passando a maioria do povo brasileiro”, afirmou. “Os retrocessos são insanos e inimagináveis. Em pouco tempo, Temer instaurou um processo acelerado de destruir as conquistas. É uma tragédia nacional.” A passagem de Lula por Currais Novos será às 17h no Largo do Tungstênio. Na segunda-feira, a comitiva segue para Mossoró, completando a visita por 18 municípios em seis estados: Bahia (quatro cidades), Sergipe (cinco), Alagoas (três), Pernambuco (duas), Paraíba (duas) e Rio Grande do Norte (duas). A passagem pelo Nordeste terminará em 5 de setembro, no Maranhão.
Há provas
Na noite deste sábado, em ato público no centro de João Pessoa, Lula recebeu título de Cidadão Pessoense diante de cerca de 10 mil pessoas que tomava a Praça Ponto de Cem Réis. Lula esteve acompanhando, além de senadores, deputados e representantes dos movimentos sociais, do ex-chanceler Celso Amorim, paraibano, e do governador Ricardo Coutinho (PSB). Os discursos voltaram a subir o tom contra os atos do governo Temer e contra a perseguição judicial. “Esse país precisa manter sua soberania. Estão vendendo a Casa da Moeda. E eles não estão vendendo para fazer investimento. Estão vendendo para atender aos interesses do mercado estrangeiro. Eles querem vender tudo rápido, porque sabem que se tiver eleição, não vamos deixar”, disse.
Sobre a Lava Jato, desafiou delegados e procuradores a provar algo de errado em suas contas. “Quero dizer a vocês que tem prova no meu processo. Tem prova da minha inocência.” Segundo ele, o que está sendo julgado é o fato de seu governo ter apostado no fortalecimento das empresas públicas e do Estado como ferramentas de desenvolvimento. “O que eles estão julgando não sou eu, é a Petrobras ter passado de investir R$ 3 bilhões em pesquisa e desenvolvimento para investir R$ 30 bi. Eles não acreditavam que nós seríamos competentes para tirar o óleo que descobrimos no pré-sal”, afirmou.
A manifestação de hoje em Campina Grande terá como tema “Água e Democracia”, organizada pela Frente Brasil Popular. A última visita de Lula ao estado, foi em março quando participou junto com o governador Ricardo Coutinho da inauguração popular da transposição do Rio São Francisco na cidade de Monteiro, sertão da Paraíba. O projeto ajudou a levar água para mais de 12 milhões de pessoas em quatro estados e tornou-se um dos maiores legados de seus governos.
A assistente social Raphaela Ramalho, esteve lá. “É um momento de mostrar apoio e solidariedade ao ex-presidente. Estivemos em Monteiro, no ato de ‘inauguração’ das obras de transposição do Rio São Francisco. Visitamos a caravana também quando esteve em Sergipe, porque é um movimento necessário e importante”, disse, na Praça do Ponto de Cem Réis, ao lado do marido, o professor de Física João Rafael Lúcio dos Santos, da Universidade Federal de Campina Grande. “Infelizmente, a democracia neste país está paralisada. Nem sei definir esse momento triste que estamos vivendo. A gente espera que no mínimo tenhamos eleições justas no ano que vem. É uma esperança de a gente retomar direitos que levaram tanto tempo para serem construídos e estão sendo derrubados em dois anos”, observou o professor.
Patrimônio
O estudante de Engenharia Civil João Luiz Ribeiro, 20 anos, da Universidade Federal da Paraíba, considera as políticas para juventude um legado importante dos governos petistas e teme perdas. “A interiorização das universidades, a expansão das vagas e escolas são parte de um conjunto de políticas de governo para os jovens que estão ameaçadas, por isso estou aqui”, disse.
Dezenas de integrantes de comunidades indígenas, também apreensivos com os retrocessos em andamento na questão fundiária, foram vistos no ato do centro de João Pessoa. Entre eles Zenaide Souza dos Santos 59 anos, da aldeia tabajara de Vitória. Aposentada, ainda trabalha na agricultura ao lado do marido, de 62. “Tenho seis filhos e 14 netos. Todo mundo na agricultura. É muito importante para mim e para nossa comunidade indígena que ele volte. Ninguém fez tanto por nossos direitos e pela agricultura familiar como ele”, conta. “Nós sabemos o que é pobreza”, disse o cacique tabajara Edinaldo. “Quando você vê que ele tem uma humildade de falar com todo mundo, de não tratar com diferença, ele merecia esse título. A importância desse ato é para reforçar que os indígenas Potiguara e Tabajara estão vivos aqui, e continuamos na luta ainda por educação, por terra e sabemos que o Lula sempre vai ser esse sonho dos menos favorecidos desse país.”
Também professor, Antônio José Lopes Rocha Júnior, 51 anos, estava no ato com a filha Luma. “Ela disse pra avó: `tô indo pra democracia’.” O professor de educação física conta que a luta democrática parece estar no sangue da família. E lembra do pai, morto aos 72 anos, por sequelas das torturas sofridas nas prisões da ditadura. “São momentos históricos e circunstâncias diferentes. Hoje não há tanques e armas nas ruas, ainda, mas o golpe de 64 e o golpe de hoje têm por trás os mesmos protagonistas e os mesmos interesses”, comparou.
“O país está sendo vítima de uma psicopatologia política. É comportamento de psicopata você querer transformar o país de maneira unilateral”, define André Piva, professor da Universidade Federal da Paraíba, paulista de Presidente Prudente que vive em João Pessoa há 30 anos e mantém também o site de cultura Paraíba Criativa. “Não se pode fazer as mudanças que estão fazendo sem a aquiescência popular. Nem precisamos citar todas as aberrações que estamos vendo todos os dias. Basta falar dessa maneira genérica e todos sabem do que estamos falando.”
Com reportagens de Cláudia Motta e Agência PT de notícias