As concessões de rádio e TV precisam ser revistas, por Pedro Cardoso

Faz tempo que venho querendo falar sobre Silvio, que de santo não tem nada. Pudores de respeito para com a democracia me dificultavam, no entanto. Mas diante do concurso de beleza de crianças desfilando de maiô para serem julgadas por sua aparência, meus pudores deram lugar a revolta. Nunca gostei de Silvio. Acho o trabalho dele de péssima qualidade. Acho o programa dele chatíssimo. Acho que Silvio fez dinheiro vendendo ilusão para pobres brasileiros. Acho Silvio um irresponsável social. Estive na tv dele para dar entrevista sobre o meu trabalho e nunca gostei de ir lá! Silvio participa de longa data do projeto fascista brasileiro. Agora é garoto propaganda declarado dele! Acho que Silvio presta um desserviço ao Brasil com sua televisão medíocre e seu comportamento libidinoso e mal educado. Dane-se o meu pudor. Não me acho mais obrigado a garantir a democracia para quem se dedica a destruí-la. E não é só Silvio e o seu SBT. São inúmeras as concessões públicas de rádio e tv usadas para minar as bases intelectuais da nossa democracia. O compromisso para com a democracia nos exige tomarmos nítida posição contra quem a quer destruir. O poder da comunicação de massa é tamanho que as empresas a quem nós cedemos o uso devem estar submetidas ao mais rigoroso compromisso democrático. E nisso incluo todas! Umas mais outras menos, TODAS – redes Globo, TV, Band… todas! – as empresas de comunicação de massa no Brasil ainda devem a nós uma muito mais responsável atuação. Os caminhos se fecharão para mim com o que digo aqui. Mas de que me valem caminhos abertos que conduzem ao lugar sombrio da ignorância?! Nada. Desfile de beleza infantil – doença norteamericana que Silvio e seus iguais tanto admiram – é uma afronta insuportável a dignidade da pessoa. São mesmo falsos os moralistas pseudo religiosos hoje no poder. O silêncio deles os revela! Sugiro que todas as concessões de sinal de rádio e tv sejam revistas em um futuro governo democrático; não a luz da política partidária; mas da seriedade, da honestidade e do compromisso para com a democracia e o estado laico por parte de quem as pretende explorar. Rádios e tvs, devem ser lugar de seriedade. Viva a TV Cultura. Pedro Cardoso é ator.

Deputada entra com ação contra Bolsonaro por cortes em bolsas de pesquisa

A deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) ingressou nesta terça-feira (3) com uma representação no Ministério Público Federal contra o presidente Jair Bolsonaro pelos cortes nas pastas de Educação e Ciência e Tecnologia, em especial no que atinge o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que corre o risco de paralisar suas atividades ainda este ano. No documento, a congressista pede que os recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) sejam usados para o pagamento das bolsas já concedidas. Esse Fundo recebe recursos de impostos, juros de empréstimos e royalties da produção de petróleo e gás, concessões e geração de energia, entre outros e, por ser uma reserva emergencial, só poder ser liberada por decreto do presidente. Ainda de acordo com Petrone “a prioridade do governo se evidencia pelas escolhas orçamentárias”, já que foi liberado R$ 1,5 bilhão para garantir a aprovação da Reforma da Previdência, sendo R$ 439,6 milhões em emendas parlamentares e mais R$ 1,135 bilhão destinadas a ações de saúde nos municípios. “O próprio Ministro da Educação afirmou que os R$ 926 milhões de cortes na educação foram destinados ao pagamento de emendas parlamentares para a aprovação da Reforma, o que caracteriza claro desvio de finalidade e gera indício de improbidade administrativa”, argumenta. Com o projeto de Lei Orçamentária de 2020, encaminhado para o Congresso Nacional em 30 de agosto, a situação das pesquisas pode continuar grave, uma vez que os recursos do Ministério da Educação (MEC) para pesquisas caiu de R$ 4,25 bilhões para R$ 2,20 bilhões, e a pasta da Ciência e Tecnologia, sobretudo o CNPq, foi atingida com o contingenciamento de 41,9% das verbas para gastos discricionários na área de ciência. A parlamentar pede ainda investigação sobre a utilização de recursos que deveriam ser destinados a educação, mas que se deslocaram ao pagamento de emenda parlamentares – o que representaria desvio de finalidade e configuraria ato de improbidade administrativa. O documento foi entregue para a Procuradora Federal dos Direitos do Cidadãos do Ministério Público Federal, Sra. Dra. Deborah Duprat. Revista Fórum

Com novo corte, Censo 2020 pode ser cancelado ou virar contagem populacional

– Inimigo da pesquisa e do conhecimento, governo Bolsonaro reduz ainda mais a verba do IBGE para ano que vem O governo voltou a reduzir a previsão de verba para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano que vem, o que pode levar ao cancelamento do Censo 2020, segundo alertou a presidenta da instituição, Susana Guerra, em ofício enviado ao ministro da Economia Paulo Guedes. Para realizar um censo com abrangência similar aos anteriores, o IBGE precisava de R$ 3,4 bilhões. No começo do ano, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (PSL), o governo iniciou uma série de ataques às instituições de pesquisa e de produção de conhecimento. Uma das vítimas foi o IBGE, que teve o orçamento do Censo 2020 reduzido para R$ 2,3 bilhões. Com esse primeiro corte, o instituto foi obrigado a retirar uma série de questões da pesquisa, entre elas dados sobre renda familiar, posse de bens. migrações internas e valor de aluguéis. Agora, a previsão de recursos baixou para R$ 2 bi, o que levou Susana a afirmar, no ofício, que todo processo “fica claramente inviabilizado” A presidente anterior do IBGE, Wasmalia Bivar, concorda: “Esse corte do questionário é insuficiente para a dimensão do corte [orçamentário] que está sendo feito, e o que nós tememos é a não realização do Censo ou a realização de uma contagem populacional, que está longe de ser um censo”, afirma. Todos pelo Censo Os cortes de questões e de verbas geraram reações adversas do quadro técnico do instituto. Com a campanha Todos pelo Censo, os servidores buscam sensibilizar a população e o poder público a respeito da importância das informações fornecidas pelo IBGE e sobre os impactos negativos gerados pelas medidas do governo. Luanda Botelho, coordenadora da Associação dos Servidores do IBGE, explica que a perda das informações sobre migração e movimentação interna, por exemplo, terá impacto sobre o repasse de verbas aos municípios pelos próximos dez anos, pois elas seriam usadas para prever a variação populacional entre os sensos (2020 e 2030) e assim calcular a fatia recebida por essas cidades através do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). “Você está falando da distribuição de recursos pelo país na próxima década. Para municípios menores, em que o impacto da diferença populacional pode ser maior, significa um impacto na política, na economia, na vida de cada cidadão”, afirma ela. Em um documento distribuído a parlamentares, o Todos pelo Censo lista vários problemas que serão causados com o corte de perguntas. A ausência de questões sobre o aluguel, por exemplo, “inviabiliza a aferição do déficit habitacional”. Da mesma forma, lembra o texto, quando não se pergunta sobre a posse de automóveis, motocicletas e geladeiras fica impossível “caracterizar as condições de vida, em especial para aferição de pobreza”, além de dificultar o acesso a informações sobre “alimentação, transporte e tarefas domésticas”. Ataques Wasmalia Bivar, que presidiu o instituto entre 2011 e 2016, diz que durante a gestão da presidenta Dilma Rousseff (PT) não havia ingerência política sobre o órgão: “De jeito algum. Não teve um gestor do IBGE que não tenha passado por situações em que o dinheiro não era o que nós gostaríamos. Tinha, sim, críticas ao IBGE, mas nunca ninguém se sentiu ameaçado”, relembra ela. Ela cita ataques a outros órgãos federais de pesquisa – como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) – e argumenta que o principal usuário dos dados fornecidos pelo IBGE é o próprio governo. “No mundo, hoje, só se faz política baseado em evidências. É preciso que se diga o que se quer mudar, quem vai atingir, quanto vai custa. Mas o papel do conhecimento e da informação está colocado em xeque com um governo que demonstra não estar interessado nas questões sociais e que recorrentemente despreza o que existe de conhecimento e informação”. Da mesma forma, Luanda Botelho acredita que os cortes no questionário e na verba não são fruto apenas da restrição orçamentária: “Recentemente, o governo questionou os dados de pesquisa de drogas da Fiocruz. Vem questionando os dados sobre desemprego [produzidos pelo] IBGE. As universidades têm sido alvo da restrição orçamentária. Nos parece que tem havido um ataque sistemático à produção de conhecimento no país”, completa ela. Via Brasil de Fato

Entidade em prol da ciência defende Inpe de declarações de Bolsonaro

– Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência divulgou manifesto repudiando as “críticas sem fundamento” do presidente contra a instituição – A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) manifestou neste domingo seu apoio ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) após críticas feitas por Jair Bolsonaro sobre o trabalho de monitoramento do desmatamento da Amazônia. O documento em formato de carta foi endereçado ao presidente da República e a três ministros: Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias, da Agricultura, Marcos Pontes, da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e Ricardo Salles, do Meio Ambiente. O manifesto apresenta o INPE e explica a importância de sua atuação antes de destacar, em negrito e sem criticar o governo federal, o papel que o Estado deve ter para manter as suas atividades. “É fundamental que esses produtos, de importância estratégica para a implementação de políticas públicas no Brasil, sejam desenvolvidos e monitorados por órgãos confiáveis e isentos de influências ou interferências em seus resultados”, analisa o documento. Bolsonaro acusou o instituto de atuar influenciado por terceiros. “A questão do Inpe, eu tenho a convicção que os dados são mentirosos”, afirmou. “Até mandei ver quem é o cara que está à frente do Inpe para vir se explicar aqui em Brasília, explicar esses dados aí que passaram na imprensa”, disse. “No nosso sentimento, isso não condiz com a realidade. Até parece que ele está a serviço de alguma ONG, que é muito comum”. Confira a carta da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência na íntegra Ao Senhor Jair Messias Bolsonaro Presidente da República Federativa do Brasil Com cópia para a Senhora Ministra da Agricultura, Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias; Senhor Ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes e Senhor Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles O INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), unidade do MCTIC, é o maior Instituto de Pesquisas do Brasil. Foi criado em 1961 com a missão de produzir informações e tecnologias robustas nas áreas espacial e do ambiente terrestre, bem como disponibilizar produtos e serviços para o Brasil, subsidiar suas políticas públicas e dar suporte à comunidade científica brasileira. Seu corpo de pesquisadores é de altíssimo nível e por isso participa dos principais fóruns mundiais nas áreas de suas especialidades. Sua infraestrutura é invejável e representa o estado-da-arte nas áreas relacionadas à sua missão. A partir de 1988, desenvolveu excelentes métodos e procedimentos para monitorar o desmatamento no bioma Amazônico, e alcançou credibilidade internacional invejável. A excelência do seu trabalho é reconhecida por outros governos, em especial Estados Unidos e França. Esse trabalho é exemplo mundial de competência nesta área, sendo reconhecido como referência por organismos internacionais como a FAO, WMO, etc, e está sendo estendido para o monitoramento de todos os biomas brasileiros. É um sistema de monitoramento único, validado com inúmeros experimentos em campo ao longo das últimas décadas. Os sistemas de monitoramento diários de desmatamento e de detecção de queimadas (PRODES, DETER e QUEIMADAS) refletem o estado da arte mundial neste tema. Utilizam sensores em satélites de última geração, calibrados radiometricamente. O sistema é descrito em detalhe em inúmeras publicações internacionais, em revistas líderes em sua área, tanto do ponto de vista de desenvolvimento das técnicas quanto da validação dos produtos. As aplicações dos produtos do INPE também foram publicadas em centenas de artigos científicos, e incontáveis trabalhos de dissertações e teses dentro e fora do Brasil. Esses dados também são utilizados na construção de políticas públicas no Brasil, como os Planos de Prevenção e Combate ao Desmatamento na Amazônia e no Cerrado, ambos em operação até 2020. É fundamental que esses produtos, de importância estratégica para a implementação de políticas públicas no Brasil, sejam desenvolvidos e monitorados por órgãos confiáveis e isentos de influências ou interferências em seus resultados. Acompanhar o estado da arte no desenvolvimento científico e tecnológico requer um corpo técnico de alta capacidade, além de continuidade no aporte de recursos financeiros necessários para a sustentabilidade de um projeto desta magnitude. A afirmação de que os dados do INPE não são suficientes para identificar desmatamentos pequenos não procede. O INPE produz, desde 2010, mapas complementares aos dados do PRODES, com polígonos de desmatamento com áreas menores que 6 hectares. Adicionalmente, mantém, desde 2016, um sistema de alerta diário (DETER-B) com desmatamentos identificados acima de 1 hectare, para dar suporte a ações de fiscalização por parte dos órgãos ambientais federais e estaduais. A qualidade de seus dados é constantemente monitorada, resultando em um índice superior a 95% de precisão, e a política de transparência adotada pelo INPE permite acesso irrestrito a todas as informações geradas pelos sistemas de monitoramento, possibilitando avaliações independentes pela comunidade usuária e acadêmica. A questão fundamental, portanto, não está na produção de dados confiáveis sobre a geografia do desmatamento, mas sim na necessidade de órgãos do governo de manter um sistema de fiscalização ágil, intenso e contínuo. A Amazônia e seu monitoramento ambiental são estratégicos para o Brasil. Não se trata apenas da manutenção da floresta como um sistema essencial para regular o processo de mudanças climáticas, de interesse internacional, mas também da preservação da riquíssima biodiversidade e da sobrevivência da agricultura brasileira em todo o país, em particular no centro-oeste e sudeste, cujos regimes de chuva dependem fundamentalmente da existência da Floresta Amazônica e sua exploração sustentável. Para que esse objetivo seja alcançado, é essencial apoiar o monitoramento independente feito pelo INPE e uma atuação firme e decidida dos órgãos de controle utilizando seus dados. As entidades subscritas ao final desta carta reafirmam sua confiança na qualidade do monitoramento do desmatamento da Amazônia realizado pelo INPE e manifestam sua preocupação com as recentes notícias que colocam em risco um rico patrimônio científico estratégico para nosso desenvolvimento e para a soberania nacional, colocando-se à disposição para contribuir na discussão do tema.

P&D: Brasil fica para trás na inovação tecnológica

Quase todos os setores produtivos relevantes para o desenvolvimento da economia, de industriais a serviços, estão bem longe da chamada fronteira tecnológica no Brasil. Em outras palavras, apresentam baixo nível de investimento em pesquisa. De 37 segmentos analisados num levantamento feito pelo pesquisador Paulo Morceiro, do Núcleo de Economia Regional e Urbana da Universidade de São Paulo (Nereus-USP), apenas cinco ultrapassam essa fronteira. No outro extremo, um dos piores desempenhos é o de desenvolvimento de softwares, que está na ponta do avanço tecnológico no mundo. Fronteira – No trabalho do pesquisador, a fronteira é definida pela taxa média do que os setores de alta, média e baixa tecnologia investem em pesquisa e desenvolvimento (P&D) em relação à dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), órgão multilateral em que o Brasil aspira um assento. Distante – “O país está distante na pesquisa e desenvolvimento, seja nos segmentos de alta, seja nos de baixa intensidade tecnológica”, diz Morceiro, cujo trabalho se baseia em informações da Pesquisa de Inovação (Pintec), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e de dados colhidos via Lei de Acesso à Informação sobre os recursos investidos por organizações públicas como Embrapa, Fiocruz e institutos da Marinha e da Aeronáutica. O trabalho foi feito em parceria com Milene Tessarin, pesquisadora da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Setores – No mundo, o “filé mignon” do desenvolvimento tecnológico é realizado por apenas 13 setores dos grupos de alta e média alta tecnologia, que reúnem a produção de aviões, desenvolvimento de sistemas (softwares), produtos farmacêuticos, informática e eletrônicos, armas e munições, automóveis, máquinas e equipamentos, químicos, serviços de informação, entre outros. Deles, dez pertencem à indústria, e três, aos serviços. No Brasil, os segmentos que mais investem em P&D – como o de fabricação de aviões e o farmacêutico – são os mesmos da OCDE. As diferenças são a magnitude e a origem do investimento. Estado – Enquanto no caso brasileiro, a maior parte (60%) do aporte é feita pelo Estado por meio das universidades públicas, autarquias e institutos de pesquisa, no grupo dos países mais ricos, cerca de 75% dos investimentos têm origem no setor privado. Os países da OCDE respondem por cerca de 80% da pesquisa e desenvolvimento no mundo. Fora do grupo, o país mais relevante na área é a China. Investimento – Olhando apenas para os segmentos de alta intensidade tecnológica, os países da OCDE investem em P&D 24% do valor adicionado bruto em equipamentos de informática, eletrônicos e óticos, enquanto no Brasil essa parcela é de 10%. Farmacêuticos – Em produtos farmacêuticos, a OCDE chega a 28%, contra 5% no Brasil. Em outros equipamentos de transporte, que inclui a produção de aviões e a construção naval, o percentual do bloco é de 20%, quase o dobro do brasileiro (10,7%). É ali que está classificada a Embraer, por exemplo. Software – No segmento de desenvolvimento de softwares, classificado em serviços, a diferença é gigantesca, com uma parcela de 29% do valor adicionado bruto do setor investida em P&D na média das nações da OCDE, para apenas 4,5% no Brasil. “Este é o segmento em que o país deveria estar caminhando mais. Ali está o núcleo da transformação tecnológica do mundo e da quarta revolução industrial”, diz Morceiro. No mundo, é onde entram Microsoft, Oracle, Alphabet (Google) e SAP, observa o pesquisador. Veículos automotores e peças – Classificado como de média-alta tecnologia, o segmento de veículos automotores e autopeças, que no Brasil tem grande peso econômico, investe 6% de seu valor adicionado bruto em P&D no Brasil, contra 15,4% na média da OCDE. “No Brasil há um predomínio de empresas internacionais que ‘tropicalizam’ tecnologias criadas lá fora, fazendo uma adaptação para as condições brasileiras”, diz o pesquisador. Mesma situação – Em outros segmentos como o farmacêutico, que importa parte dos princípios ativos, e o de eletrônicos, ocorre o mesmo. “Na Zona Franca de Manaus o país dá subsídio para montar peças que vêm de fora. A gente não desenvolve tecnologia na maioria dos setores”, afirma Morceiro, para quem uma das causas desse cenário são as falhas da política industrial nacional. Contrapartida – No caso das empresas instaladas na Zona Franca, Morceiro diz que existe uma exigência de contrapartida de investimento em troca do benefício tributário dado pelo governo, mas o resultado final não é claro. “Quando olhamos a Pintec [pesquisa sobre inovação tecnológica do IBGE feita a cada quatro anos], vemos que ali se investe pouco”, diz. Químicos – O setor de químicos, classificado como de média-alta tecnologia, é um dos poucos em que o país se sobressai, com o equivalente a 8,1% do valor adicionado bruto investido em pesquisa e desenvolvimento, ante 6,5% na OCDE, em grande medida por causa do segmento de cosméticos e perfumaria. Aqui, faz diferença a presença de grandes empresas nacionais, como a Natura. À frente – Em quatro setores com menor intensidade em P&D o Brasil está à frente da OCDE: serviços de utilidade pública, como eletricidade e gás; indústria extrativa; agropecuária e metalurgia. Nos três primeiros, a pesquisa realizada por institutos públicos de pesquisa desempenha um peso significativo. “O Brasil destaca-se nos setores intensivos em recursos naturais. Mesmo o setor químico depende desses recursos na parte de químicos orgânicos”, diz. Para Morceiro, além de estimular parcerias entre universidades e empresas para desenvolver pesquisa em áreas de interesse nacional, o governo deveria fortalecer – via estabilidade na alocação de recursos – institutos públicos como a Fiocruz e a Embrapa, para melhorar a áreas em que o país já é competitivo. (Valor Econômico)

Mostra evidencia produção científica nas áreas de Contábeis

Os professores e acadêmicos do curso de Ciências Contábeis da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) também investem na produção de pesquisas. O assunto foi discutido durante a “I Mostra Científica de Ciências Contábeis” realizada no Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA). Foram realizadas palestras sobre a produção científica em Contabilidade, além da exposição de trabalhos dos alunos, no período matutino e à noite. A mostra foi organizada pelo Grupo de Pesquisa em Contabilidade (GEPEC), em parceria com o Núcleo de Ações Sociais e Contábeis (NASC). Ambos são vinculados ao Departamento de Ciências Contábeis da Unimontes. O evento teve como objetivo apresentar os trabalhos desenvolvidos pelos acadêmicos na disciplina de Análise da Produção Cientifica em Contabilidade e Monografia. A proposta foi proporcionar a difusão do conhecimento e interação no âmbito acadêmico para motivar a criação e publicação de artigos científicos que possibilitem a formação de opinião e desenvolvimento da ciência. O coordenador do evento, professor Ernani Mendes Botelho, apresentou palestra sobre o “Perfil das Monografias do curso de Ciências Contábeis da Unimontes”. A linha de tempo analisada foi de 2013 a 2017. Por sua vez, o professor Carlos Renato Theóphilo abordou o tema: “Praticar Ciência: formando jovens cientistas”, com ênfase nas competências, habilidades e atitudes do pesquisador contábil. Destacou, ainda, “a atuação do professor para despertar e formar o papel investigativo do acadêmico para a pesquisa e do acadêmico”. O coordenador do curso de Ciências Contábeis, professor Igor Veloso Colares Batista, destacou a importância do evento para incentivar a produção científica na área, enaltecendo a relevância da participação dos professores e alunos. Avaliação de acadêmicos Os acadêmicos Denner Felipe de Almeida e Whashington Luiz Costa ressaltaram a importância da I Mostra Científica no sentido de despertar a comunidade discente para a pesquisa sobre os diversos assuntos. Lembraram que as ações da pesquisa e da extensão “fazem a diferença” na universidade. Outro aluno de Ciências Contábeis, José Agnaldo dos Santos Souza Júnior, lembrou que a mostra foi uma grande oportunidade para evidenciar a produção científica por parte dos acadêmicos, inclusive das séries iniciais do curso. (Unimontes) Via Jornal Gazeta

Vírus para espionagem política denunciado pelo WhatsApp foi usado no Brasil

Pesquisadores encontraram em 2018 rastro digital de mecanismo vendido por empresa israelense a Governos como arma de guerra O WhatsApp descobriu uma ampla vulnerabilidade que permitiu a instalação —silenciosa e sem qualquer descuido do usuário— de um software de espionagem política em celulares. Segundo revelou o Financial Times nesta segunda-feira, ao infectar o aparelho por meio de uma chamada de voz, o vírus é capaz de acessar informações sensíveis e executar ações, como ativar remotamente a câmera e o microfone. O Facebook, dono do WhatsApp, acusou a NSO Group, uma empresa israelense que fabrica cyber warfare (softwares de guerra cibernética), de ser a responsável pelo vírus infiltrado, chamado Pegasus. O WhatsApp não informou quantas pessoas foram afetadas no Brasil, mas já há rastros do uso do Pegasus no país entre agosto de 2016 e agosto de 2018, em plena corrida eleitoral. Leia aqui, a matéria completa

Jornada Científica trará discussões e ações sobre sustentabilidade

 No período de 29 de maio a 1º de junho, as Faculdades Prominas realizarão para seus acadêmicos, a “I Jornada Científica: Sustentabilidade em Foco”, com a participação e organização integrada de todos os cursos da instituição. O tema, em especial, sugerido inclusive pelos próprios alunos, debaterá sobre a sustentabilidade em uma sociedade insustentável, sua história, a contribuição e contradições além das análises das principais tendências no pensamento ambiental, seus índices e números. Além disso, para esta primeira edição, a organização preparou ainda quatro subtemas importantes e atuais, que serão debatidos e servirão de base para os trabalhos a serem desenvolvidos ao longo da jornada pelos grupos de acadêmicos. São eles: lixo urbano, hospitalar, lixão e aterro sanitário, lixo eletrônico e coleta seletiva. Somadas a interatividade que o evento proporcionará junto com as informações, o intuito de conscientizar sobre questões ambientais e reforçar a responsabilidade das empresas de diferentes seguimentos da sociedade, serão pautas alcançadas com a excelência esperada pela produção. Durante esse período, os acadêmicos participarão ainda de workshops, mesa redonda, apresentação de trabalhos científicos, concurso de desenhos e fotografias científicas, feira troca de livros, oficinas com hands on entre outras. Para o coordenador do curso de Biologia e um dos organizadores do evento, o PhD em Biotecnologia Molecular, Caio Soares, a importância de abordar assuntos atuais em um ambiente de ensino superior, pensando multiplicação desses dados e informações que serão repassadas para a comunidade, são essenciais para a formação acadêmica/profissional: “A motivação para promoção do evento partiu da necessidade da instituição em proporcionar aos seus alunos uma atividade de extensão acadêmica/universitária. Afinal, ensino, pesquisa e extensão constituem os três pilares do ensino superior”. Ele acrescenta, “o evento visa debater a sustentabilidade e sistematizar parte da produção que problematiza a relação entre desenvolvimento e meio ambiente. Nesse sentido, pretende-se explorar o contexto de surgimento do conceito de crescimento sustentável, sua história, contribuições e contradições além de analisar as principais tendências no pensamento ambientalista atual”. As inscrições para o evento poderão ser feitas presencialmente na sala de tutoria da instituição para os acadêmicos da Prominas e para o público externo, no Núcleo de Atendimento Acadêmico, no valor de R$ 10,00 com pagamento via cartão de crédito e débito, de 13h00 às 18h00, de segunda a sexta, até o dia 24/05, assim como a submissão de resumos científicos através do site http://bit.ly/jornadacientificaprominas. Outras informações pelas redes sociais @prominasmoc ou pelo telefone 0800 283 9444. Via: Assessoria de Comunicação das Faculdades Prominas

Os primeiros efeitos da asfixia financeira de Bolsonaro sobre as ciências do Brasil

Governo bloqueou dinheiro de pesquisas e universidades para se adequar a teto de gastos. Várias instituições preveem faltar verba para água e luz e se queixam de movimento anticiência A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) também se manifestou: “Não há eficiência administrativa que supere um corte de tamanho monte, principalmente diante das sucessivas restrições orçamentárias dos últimos anos”, afirmou a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, em comunicado. “A medida poderá provocar ainda a descontinuidade de contratos com empresas terceirizadas, o que elevará também mais as aviltantes taxas de desemprego do Estado de Minas Gerais e do país.” Quando em 29 de março, o Governo Federal publicou o decreto Nº 9.741, informando o congelamento de 29,6 bilhões de reais de recursos da União, com o objetivo de adequar as contas à Lei de Responsabilidade Fiscal, e às metas de resultado primário e teto de gastos, não estava claro quais seriam os efeitos práticos dessa medida na área de educação e ciência. Com os cortes, o Ministério das Ciências e Tecnologias (MCTIC) perdeu 41,9% dos recursos. Dos cerca de 5,079 bilhões de reais previstos para o órgão, foram bloqueados 2,132 bilhões de reais. E do orçamento da Educação, de 149 bilhões de reais, 5,8 bilhões em despesas não obrigatórias foram contingenciadas por este decreto. O Ministério da Economia recuou e descongelou cerca de 3,6 bilhões de reais para atender urgências de cinco ministérios. Pelo decreto, publicado no Diário Oficial, na quinta-feira, 2 de maio, o MCTIC conseguiu recuperar 300 milhões de reais em verbas. Outras pastas que também recuperaram recursos foram Infraestrutura, Desenvolvimento Regional, Cidadania, e Mulher e Direitos Humanos. Mas o MEC sofreu um aperto nas contas de 1,6 bilhão de reais. O desmonte da ciência nacional é assunto de publicações estrangeiras especializadas como Nature, Science e SciDev.Net Trabalhar em situação de escassez de recursos, no entanto, sempre foi visto como regra entre pesquisadores  brasileiros, exceção era ter dinheiro. “Terminei meu doutorado e vim para Federal de Goiás, em 1994. Sempre foi difícil. Nunca tivemos muitos recursos”, afirma o professor José Alexandre Felizola Diniz Filho, da Universidade Federal de Goiás (UFG), um dos pioneiros na pesquisa de evolução e ecologia no país. Os anos de bonança econômica, especialmente no segundo Governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e primeiro Governo de Dilma Rousseff,chegaram a quebrar essa lógica. “A área de ciência e tecnologia cresceu, formamos milhares de doutores. Mas agora entramos em crise econômica novamente”, afirma Diniz. José Alexandre Felizola Diniz Filho, professor da UFG desde 1994: “Temos um movimento anticiência, paralelo à crise econômica, que é global e está no Brasil”. UFG Desta vez, uma movimentação tem preocupado os pesquisadores tanto quanto a falta de recursos. “Temos um movimento anticiência, paralelo à crise econômica, que é global e está no Brasil”, afirma Diniz, que pesquisa evolução e mudança climática, dois temas que estão na pauta de discussão dos criacionistas e negacionistas. Esther Colombini, professora do Instituto de Computação da Unicamp e diretora de Competições Científicas da Sociedade Brasileira de Computação, também sentiu a mudança de percepção em relação à valorização da educação. “Trabalhamos muito além do nosso expediente normal para alavancar a ciência e inovação – agora somos tratados como o problema e não como o que ainda funciona na esfera pública. Porque é claro que a universidade pública tem problema, mas é de longe uma das poucas coisas que realmente funciona. O que me desanima é as pessoas não enxergarem o que é a universidade, tratando-a como inimiga do povo”. Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, chegou a afirmar que os corte de recursos da ordem de 30% nas universidade federais afetariam instituições com desempenho acadêmico fora do esperado, e estivessem promovendo “balbúrdia”. Dentre as universidades citadas, estavam a Universidade Federal da Bahia (UFBA), a Universidade de Brasília (UNB) e a Universidade Federal Fluminense (UFF), cujos estudantes teriam organizado eventos políticos e manifestações partidárias contrárias às ideologias do Governo Federal. O Ministério da Educação, no entanto, informou por meio de nota que o critério utilizado para o bloqueio de recursos foi “operacional, técnico e isonômico para todas as universidades e institutos”, em decorrência do decreto n° 9.741. O MEC disse ainda que estuda aplicar outros critérios como o desempenho acadêmico das universidades e o impacto dos cursos oferecidos no mercado de trabalho para definir o orçamento. “O maior objetivo é gerar profissionais capacitados e preparados para a realidade do país”, argumentou a pasta, em nota. Crise nas universidades As universidades foram avisadas pelo MEC nesta semana sobre o contingenciamentos. A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) informou que, além do bloqueio orçamentário, existe restrição imposta pelo limite de movimentação de empenho, de 90% para as despesas de investimento e de 60% para os recursos de custeio, o que pode afetar inclusive o Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes), que apoia a permanência de estudantes de baixa renda na universidade. “No momento, as atividades não estão diretamente comprometidas e a universidade continuará funcionando. No entanto, serão necessárias ações de contingência”, afirmou a Unifesp em nota. “Claro que a universidade pública tem problema, mas é de longe uma das poucas coisas que funciona no Brasil”, disse Esther Colombini, da Unicamp Já pesquisadores bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) receberam em 15 de abril um e-mail suspendendo recursos já aprovados. A crise já era vislumbrada desde a definição de orçamento de 2018. O próprio presidente do CNPq à época, Mario Neto Borges, chegou a divulgar uma carta aberta à sociedade alertando dos riscos dos cortes ao desenvolvimento científico do país. “Se, em 2018, o CNPq pôde contar com recursos da ordem de 1,2 bilhão de reais, em 2019 a previsão de 800 milhões de reais poderá limitar ações diversas como o lançamento de editais de pesquisa, contratações de novos projetos e outras iniciativas”, afirmava. O decreto de Bolsonaro transformou a previsão pessimista do ex-presidente do CNPq em profecia. O órgão não só teve que congelar bolsas já concedidas, como informou que o edital para a chamada universal de 2019, que contempla recursos para

À margem de ideologias, a realidade dos cientistas que tiveram projetos congelados no Brasil

Profissionais de áreas ditas prioritárias pelo Governo Bolsonaro contam como navegam na restrições orçamentárias e quais oportunidades o país perde pelo congelamento de recursos O físico Fabio Furlan, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), em São Paulo, é um dos profissionais que vivem de pesquisa no Brasil. Atuando no campo da nanociência, área que trabalha com a manipulação da matéria em escala atômica, sua pesquisa em parceria com a química Paula Haddad, da Universidade Federal de São Paulo, tem como objetivo produzir um tipo de nanopartícula magnética para aplicações biomédicas, que pode ajudar no combate de um tumor sólido. Em termos didáticos, o pesquisador acredita que seja possível guiar medicamentos com um ímã por dentro do corpo para combater determinados tipos de cânceres. Mas para isto, depende de investimento. No dia 15 de abril, Furlan, assim como diversos pesquisadores do país, recebeu um e-mail do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) suspendendo recursos já aprovados na Chamada Universal 2018, o edital do Governo Federal que destinou 200 milhões de reais para projetos em diversas áreas. O pesquisador já não trabalhava no melhor dos cenários. Em 2018, solicitou 114.000 reais para a pesquisa, o que garantiria a compra de reagentes químicos, diárias para realização de medidas no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, serviços de terceiros (para troca de banco de baterias de nobreaks), e uma bolsa de iniciação científica para um estudante de graduação. A relevância da sua pesquisa não sensibilizou quem respondia pelas verbas. Foi contemplado com 13% desse montante. “Consegui o mínimo, apenas para a compra de reagentes para começar sua investigação”, afirma. No papel, seu projeto foi iniciado em janeiro, mas ainda não recebeu nenhuma verba. Ou seja, nenhum centavo dos 13% que havia conseguido. Apenas a mensagem do CNPq informando que o dinheiro estava congelado, sem prazo para ser liberado. A medida não parecia em nada alinhada com indicações dadas pelo Governo Federal de que há áreas que receberão mais atenção. O próprio presidente Jair Bolsonaro afirmou em seu Twitter que o Ministro da Educação, Abraham Weintraub, “estuda descentralizar investimento em faculdades de filosofia e sociologia para focar em áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte, como: veterinária, engenharia e medicina”. Porém, os cortes afetaram, inclusive, áreas aparentemente de interesse no Governo. O EL PAÍS conversou com diversos pesquisadores, que, à  margem das ideologias políticas que dominam os noticiários, contam como navegam nas restrições orçamentárias e quais oportunidades o país perde pelo congelamento de recursos. É o caso do cientista da computação Ricardo Marcacini, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), que trabalha com inteligência artificial. Marcacini solicitou financiamento para realizar um projeto no setor de agronegócios, um dos mais importantes para o desenvolvimento do Brasil. “Desde 2016 desenvolvemos robôs para coletar eventos públicos que podem afetar a cotação de commodities agrícolas, como notícias e boletins especializados, informações climáticas, legislação. Com essa base de conhecimento, algoritmos de inteligência artificial analisam os dados e notificam produtores sobre riscos futuros em relação à sua produção, permitindo o gerenciamento de riscos”, explica. O Ministro da Educação @abrahamWeinT estuda descentralizar investimento em faculdades de filosofia e sociologia (humanas). Alunos já matriculados não serão afetados. O objetivo é focar em áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte, como: veterinária, engenharia e medicina. — Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 26 de abril de 2019 Dos 20.000 reais aprovados para o projeto no ano passado, até o momento, foram disponibilizados 4.300 reais para custeio. “Aguardo recursos para apoiar a compra de computadores para os experimentos científicos”, afirma. Sua meta, caso consiga recursos para desenvolver o projeto até o fim, é disponibilizar a tecnologia de forma gratuita. Email enviado pelo CNPQ para pesquisadores. Mateus Gerolamo, professor de engenharia de produção da USP São Carlos, é outro exemplo. Seu trabalho de pesquisa e ensino envolve estudar e investigar os desafios das organizações quanto à transformação e inovação necessárias frente à revolução digital, indústria 4.0 e outras demandas da sociedade do século XXI. Submeteu um projeto em setembro de 2018 na chamada universal para a faixa de até 60.000 reais. Mateus Gerolamo. ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DA EESC-USP Foi aprovado e seguiu todos os trâmites necessários. Entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019 solicitou junto ao Banco do Brasil a abertura da conta referente à pesquisa. E de acordo com o CNPq, o cronograma do projeto se iniciou em 18 de fevereiro de 2019 e terá duração de 36 meses. Sua conta, porém, permanece sem saldo. A bolsa de iniciação científica destinada a estudante de graduação também foi suspensa, conforme mensagem recebida em 15 de abril. “Uma bolsa de iniciação científica é um recurso mínimo –400 reais mensais em doze meses. É extremamente preocupante ver a situação da ciência chegar nesse patamar de escassez de recursos.” Esther Colombini, professora do Instituto de Computação da Unicamp. ARQUIVO PESSOAL Nem todos os pesquisadores afetados eram do edital de 2018. Esther Colombini, professora do Instituto de Computação da Unicamp, que trabalha com pesquisa na área de robótica cognitiva –  que empresta teorias da neurociência, psicologia e mesmo filosofia para fazer robôs mais amigáveis–, conta que seu projeto foi aprovado no edital universal de 2016. Neste ano, teria ainda direito de chamar um estudante de graduação bolsista para participar da pesquisa, o que representa um investimento de 400 reais por mês do Governo Federal. Mas a bolsa também foi suspensa. O cientista de dados e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Rafael Rossi, também está na fila do CNPq. Ele trabalha com aprendizado de máquinas, no desenvolvimento de técnicas mais eficientes que permitam que um computador aprenda diferentes padrões de linguagem que permitam distinguir categorias de textos. Assim, uma máquina saberá se determinado conteúdo é sobre corrupção, esportes, violência contra mulher, etc.. Rossi fez um pedido de 20.300 reais para uma máquina capaz de executar seus experimentos, e duas bolsas de iniciação científica de 12 meses cada uma delas, totalizando 9.600 reais. Na aprovação do projeto, uma das bolsas foi cortada e o valor máximo do equipamento foi baixado para 15.200 reais. Não desanimou. Ao menos