– Michel Temer, que usurpou a presidência da República por meio de um golpe parlamentar, deve ser denunciado pela terceira vez. E mais uma vez por corrupção. Isso porque, no inquérito sobre propinas nos portos, apareceu uma prova direta de seu envolvimento e do seu principal operador, o coronel Lima, nos esquemas de Santos. Trata-se de uma mensagem enviada pelo coronel Lima ao próprio Temer, no dia 12 de agosto de 2015, em que ele afirma: “transmiti o recado”. A mensagem dizia respeito ao empresário Gonçalo Torrealba, do grupo Libra, que conseguiu renovar sua concessão, mesmo devendo R$ 2,8 bilhões à União.

Torrealba vinha tentando há meses uma audiência com Temer, que só foi obtida com a intermediação do coronel. Depois disso, Temer renovou a concessão por vinte anos do grupo Libra, em Santos, por meio de uma decisão do ministro dos Portos, Edinho Araújo.

Antes do golpe, uma decisão da presidente legítima e honesta Dilma Rousseff impedia a renovação das concessões de empresas com dívidas junto à União. Na carta em que se queixava de ser um vice decorativo, Temer protestou contra a demissão, por Dilma, de Edinho Araújo. “E a senhora não teve a menor preocupação em eliminar do governo o Deputado Edinho Araújo, deputado de São Paulo e a mim ligado”, reclamou Temer.

Agora, sabe-se por que Temer ficou tão incomodado com a demissão de seu protegido, reconduzido ao cargo após o golpe. No entanto, o inquérito conduzido por Luis Roberto Barroso pode provocar a queda de Temer, que escapou nas duas ocasiões anteriores torrando bilhões para comprar deputados. As informações sobre a quebra do sigilo do coronel foram obtidas pelos jornalistas Hugo Marques e Daniel Pereira e publicadas na revista Veja deste fim de semana.

BARROSO PODE ESTAR PREPARANDO O BOTE CONTRA TEMER

Por Fernando Brito, editor do Tijolaço 

A reportagem da Veja deste final de semana sobre os “achados” com a quebra do sigilo de telefonia e dados do coronel João Batista Lima, “faz-tudo’ de Michel Temer mostra que a briga do ocupante do Planalto com o ministro Luiz Roberto Barroso nada tem a ver com o fato deste último, usurpando o que a Constituição diz ser o indulto uma prerrogativa do Presidente da República ter “recortado” o decreto presidencial que autorizava a libertação de presos.

É que se acumulam, revela o texto de Hugo Marques e Daniel Pereira, os indícios de financiamento de empresas portuárias a Temer e a Eduardo Cunha, com a participação do indicado do então vice-presidente para a Secretaria dos Portos, Edinho Araújo, cuja demissão por Dilma Rousseff foi chorada por na famosa “cartinha da traição” pelo autodenominado “vice decorativo”.

Um emenda de Eduardo Cunha à medida provisória dos portos, que proibia empresas devedoras da União de terem prorrogadas concessões de áreas portuária, passou a exigir apena que estes débitos estivessem em arbitragem – e portanto, nem mesmo reconhecidos. Uma delas, a Libra, teria dado R$ 1 milhão a Michel Temer como contrapartida e, com os bons serviços do coronel Lima e de Edinho Araújo tornou-se a única a receber a benesse enxertada por Eduardo Cunha na MP.

São crimes que, em tese, teriam sido cometidos antes de temer assumisse cargo de Presidente e, por isso, estariam fora do alcance da Justiça enquanto ele ocupasse o Planalto. Mas um decreto que concedia outros benefícios a empresa portuária de boas e velhas relações com Temer já foi assinado por ele. E, portanto, abre uma dupla via para Barroso, que já deixou a posição de magistrado para ocupar o vácuo vaidoso de Rodrigo Janot.

Não é difícil, aliás, imaginar de onde vieram as informações, até com uma ação preventiva de culpar o outro lado por vazamentos.

Barroso responde ao movimento de pinça do presidente, com duas frentes aparentemente opostas: de um lado, o pitbull Carlos Marun ameaçando pedir o impeachment de ministro; de outro, a visita e o abraço afetuoso em Cármen Lúcia, no domingo, na casa da presidenta do Supremo.

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