– Devastação ambiental no Norte de Minas causa surpresa e perplexidade ao governo do Estado –
 Cultura do eucalipto no semiárido consome 80% da oferta de água na sua área de abrangência. Governo promete providências para deter processo de desertificação 

 Fogo consome veredas do cerrado mineiro e ameaça florestas e rios (Foto: Expedição Caminhos dos Geraes)

* Por Waldo Ferreira

O enfrentamento da crise hídrica e o processo de desertificação que vitimam o Norte de Minas podem ter entrado de vez na pauta do governo do Estado. É o que esperam gestores e técnicos do meio ambiente, que estiveram, no início da semana, reunidos na Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) com o secretário adjunto Germano Luiz Gomes Vieira. A comitiva foi apresentar o diagnóstico da V Expedição Caminhos dos Geraes (realizada entre os dias 7 e 10 de setembro), contido na “Carta das Águas”.
O documento foi entregue ao secretário adjunto, com um apelo por providências quanto aos problemas ambientais vividos na região. Segundo o secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Montes Claros, Paulo Ribeiro, Germano Vieira e demais representantes do governo presentes à reunião, incluindo a presidente do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Marília Carvalho de Melo, ficaram perplexos com os números revelados pelos técnicos. Walter Viana, responsável pela fiscalização ambiental na Superintendência de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Supram) do Norte de Minas, traçou um quadro assustador da situação hídrica na região. “O consumo é muito maior que a oferta, o que está provocando o secamento das fontes”, informou. Ele estima que somente no perímetro urbano de Montes Claros foram abertos mais de 10 mil poços.
Mas, é o plantio do eucalipto na área do semiárido o principal fator de deterioração dos recursos hídricos, com rebaixamento do nível freático em meio metro por ano. De acordo com estudo coordenado por Viana, a cultura consome 230 litros de água por metro quadrado a mais que o Cerrado, por área plantada. Walter Viana é autor de tese de doutorado sobre o acelerado processo de desertificação no Norte de Minas.
Veredas – A pesquisadora em ecologia pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Maria das Dores Magalhães, informou que as áreas úmidas (veredas) estão altamente impactadas pelos efeitos da escassez hídrica e baixa umidade do lençol freático, o que já provocou o desaparecimento de 50 delas somente neste ano. Outras estão em processo irreversível de extinção. Ela estima que se nada for feito em 3 anos não haverá mais veredas na região do Vale do Peruaçu, entre os municípios de Januária e Itacarambi.
Um das cinco demandas levadas ao governo na “Carta das Águas” é a proibição de novas áreas de plantio de eucalipto no semiárido. Germano Vieira se comprometeu a se reunir com o Instituto Estadual de Florestas (IEF) para discutir o assunto. Ele também pretende fazer reunião com produtores de eucalipto. O processo de desertificação na região foi detectado em 2010 a partir do Plano Estadual de Combate à Desertificação, financiado pelo Ministério do Meio Ambiente e executado pelo Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas (Idene). Da média histórica de precipitação pluviométrica no Norte de Minas, 1.000 milímetros/ano, o eucalipto sozinho consome 800 milímetros. Como o Cerrado precisa de 500 milímetros, há um déficit de 300 milímetros. Sem contar, como lembra o secretário Paulo Ribeiro, a necessidade de consumo de água para beber pelas pessoas e animais, além da irrigação. O fator determinante para esse processo é justamente o eucalipto. Estima-se que há 1,5 milhão de hectares plantados no semiárido, o que significa dizer que esse bioma desaparecerá se essas medidas não saírem do papel.
De acordo com a diretora de Meio Ambiente da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Anildes Lopes Evangelista, o governo do estado formou um grupo temático de trabalho para discutir a questão hídrica no Norte de Minas. Ela informou que técnicos da região serão chamados para integrar esse trabalho.

Da esquerda para a direita: Dora Veloso, pesquisadora da Unimontes; Walter Viana Neves, técnico da SUPRAM; Germano Luiz Gomes Vieira, secretário adjunto de Meio Ambiente; Sued Botelho, coordenador do Fórum Regional do Território Norte; Paulo Ribeiro,secretário de Meio Ambiente de Montes Claros; Marília – Igam; Anildes Lopes Evangelista – Prefeitura Municipal Montes Claros; Genésio Alves Fonseca – Instituto Serra do Cabral

“Carta das Águas”: cinco apelos pela vida no Norte de Minas

1 – Proibição de novas áreas para plantios de eucalipto;

2 – Monitoramento dos níveis freáticos para que haja novos parâmetros para emissão de outorga no Norte de Minas;

3 – Ampliação do Parque Estadual Veredas do Peruaçu a partir da aquisição de terras de proprietários que possuem dívidas com o estado e estão dispostos a negociar;

4 – Criação do Parque Estadual de Botumirim, importante reserva para a manutenção da biodiversidade e dos mananciais hídricos;

5 – Criação da Unidade de Conservação de Pandeiros, o pantanal mineiro.

* Jornalista

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