IGNORADO PELA IMPRENSA, LIVRO DE JURISTAS SOBRE SENTENÇA DE MORO ESGOTA NO LANÇAMENTO
Diário do Centro do Mundo – Um exemplo de como a imprensa está desconectada dos setores progressistas da sociedade brasileira foi o lançamento do livro “Comentários a uma sentença anunciada – O Processo Lula”.
O evento foi ontem à noite, a fila começava no saguão da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro e se estendia pela rua.
O auditório tinha espaço para 400 pessoas, mas, no ato que se seguiu ao lançamento do livro, havia pelo menos duas mil, e tiveram que arrumar um telão para que todos assistissem.
No estoque levado para o lançamento no Rio, não sobrou um exemplar para ser vendido.
Mas quem procurar nos jornais não encontrará quase nada sobre o evento nem sobre o livro.
A obra foi escrita por personalidades importantes do direito, quase todas fontes da imprensa em casos variados, mas foi anunciado, em notas minúsculas da imprensa, como um ato contra o juiz Sérgio Moro.
A coluna de Lauro Jardim, do jornal O Globo, qualificou o livro assim: “obra foi elaborada sob coordenação da namorada de Chico Buarque, Carol Proner, e outros professores de Direito, como Gisele Cittadino, João Ricardo Dornelles e Gisele Ricobom”.
Carol Proner é professora titular do Departamento de Direito do Estado da UFRJ, com dezenove orientações de mestrado, quatro de doutorado e publicações relevantes na área de direito internacional e direitos humanos no currículo, mas, na notícia do lançamento do livro, foi apresentada como namorada do Chico Buarque…
Ela e os colegas do mundo acadêmico tiveram a ideia de analisar a sentença de Moro e convidaram outros profissionais, com um nível de aceitação poucas vezes visto em iniciativas desse tipo.
Ninguém escreveu para receber por direito autoral — que, se houver, no rateio, será insignificante, já que, além do número elevado de autores, o preço de capa — R$ 30 para estudantes, R$ 50 para os demais, não vai além da cobertura dos custos.
Comentários a uma sentença anunciada é o resultado do incômodo que pensadores e operadores do direito com o papel do Judiciário no movimento político que resultou na deposição de uma presidente eleita e ameaça agora interditar politicamente uma liderança popular.
É, de fato, um ato político, mas não um ato de políticos. Pode ser um marco no estudo deste tempo, em que o Judiciário foi instrumentalizado politicamente, numa aliança com a mídia.
O resultado dessa aliança é Temer, a redução de direitos sociais e ameaça de distorção, ainda maior, do poder representativo.
Entende-se por que a imprensa corporativa procura esconder o livro: o foco sobre a obra diminui a figura de herói de Moro.
E Moro menor desmonta a farsa de que o impeachment livrou o Brasil de uma quadrilha de ladrões.
É por isso que o livro é apresentado como o resultado do trabalho na namorada do Chico Buarque.
A imprensa tenta colocar no rodapé da história um trabalho que tem dimensão maior: é parte da narrativa deste tempo sombrio da nossa história.