“Eu digo que isso [guinada conservadora na CNBB] é mais fantasia do que realidade”, disse dom Darci Nicioli, em entrevista à Folha, sobre a disputa na eleição da nova diretoria da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil que deve reunir 500 religiosos de todo o país
A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) iniciou nesta quarta-feira (1º) a assembleia em que elegerá sua direção para os próximos quatro anos. O encontro acontece em Aparecida (SP) e deve reunir 500 bispos, entre ativos e eméritos (aposentados nós próximo dez dias.
De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo, durante a abertura do evento os líderes católicos pregaram coesão entre eles e pediram orações para que cheguem “a decisões acertadas”.
“Que o Deus de bondade nos conceda a graça de vivermos estes dias em fraterna comunhão”, rogou o atual presidente da entidade, dom Sergio da Rocha, que está encerrando o mandato.
Na pauta, além das diretrizes da entidade para os próximos anos, as eleições tomam conta das conversas de bastidores nos próximos dez dias de debate.
Setores conservadores tentam aplicar um ofensiva para ocupar a cúpula, hoje comandada pela ala considerada progressista.
Não é de hoje que o posicionamento em defesa de bandeiras sociais e contra retrocessos tem incomodado a a direita. Com a eleição de Jair Bolsonaro, as posições contra bandeiras como a reforma da Previdência elevou a temperatura.
Em nota sobre o Dia do Trabalhador, com críticas duras à reforma Trabalhista, a CNBB defendeu a participação dos trabalhadores e dos sindicatos nas discussões sobre a reforma da Previdência, considerando como “fundamental para a preservação da dignidade dos trabalhadores e de sua justa e digna aposentadoria, especialmente dos que se encontram mais fragilizados”.
A nota ainda reforça que a instituição esta preocupada com o regime de capitalização proposto pela reforma, que põe em risco a “lógica da solidariedade e da proteção social”. Diz ainda que o plano de desconstitucionalizar regras da Previdência “não é ético”.
“Reconhecemos que às vezes há necessidade de fazer alguns ajustes. A sociedade é dinâmica. Mas não que quem pague o preço sejam os trabalhadores, especialmente aqueles mais fragilizados”, disse em entrevista durante o evento, dom Guilherme Werlang, bispo de Lages (SC).
O governo Bolsonaro não esconde o incomodo a tais posições. Em fevereiro, o general Augusto Heleno, ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), admitiu que o governo via o assunto com preocupação, por envolver, segundo o militar, pontos “de interesse de segurança nacional”.
A preocupação é tanta que o Planalto chegou a monitorar a organização do Sínodo dos Bispos para a Amazônia, encontro que ocorrerá em Roma, em outubro, para discutir como ampliar e aperfeiçoar a presença da igreja na região amazônica, tanto no Brasil quanto nos países vizinhos.
Além disso, o guru do clã Bolsonaro, o astrólogo Olavo de Carvalho e o estrategista americano Steve Bannon, têm estimulado ataques contra a igreja, inclusive ao Papa Francisco, apontado por eles como propagador de “ideias vermelhas” ao redor do mundo.
Nas redes sociais, a milícia vistual também ataca. A CNBB chegou a ser taxada de “esquerdista” por apoiadores bolsonaristas . O suposto “católico” Bernardo Küster, youtuber do Paraná, fez críticas ao órgão em vídeos com milhões de visualizações.
Bastidores
Os moderados defendem que que a sucessão na CNBB deva ser de líderes com bom trânsito no governo, para supostamente atenuar conflitos.
“Eu digo que isso [guinada conservadora na CNBB] é mais fantasia do que realidade”, disse dom Darci Nicioli, em entrevista à Folha.
Entre os nomes de candidatos, os mais conhecidos são os arcebispos de São Paulo, dom Odilo Scherer, e do Rio, dom Orani Tempesta, estes com perfil considerado com mais trânsito com o governo Bolsonaro.