Emissora é referência na radiodifusão livre e reafirma sua energia para seguir como um bastião da comunicação popular

Por Amélia Gomes | Brasil de Fato MG |
“O maior fenômeno mundial de comunicação popular”. É assim que Zé Guilherme, militante histórico da radiodifusão em Minas Gerais, intitula a Autêntica Favela FM que, no dia 18 de novembro, celebra 46 anos de história.

Zé, que é ex-presidente da representação mineira da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço/MG), acompanha a emissora desde o seu surgimento. “A rádio nunca vacilou em questão de raça e de classe. Nunca houve dúvida em nenhum momento”, se orgulha. “Hoje, qual outra emissora popular tem essa estrutura de estúdio e de técnica, com um alcance em mais de 40 cidades?”, questiona o comunicador popular.

A Rádio Favela nasceu e até hoje está localizada no Aglomerado da Serra, uma das maiores periferias de Belo Horizonte. Pioneira na radiodifusão livre e comunitária no Brasil, o veículo foi exemplo e inspiração para diversas emissoras que surgiram nas décadas seguintes.

Uma onda no ar

Firme em seu ideal, a iniciativa conquistou até mesmo alguns agentes da fiscalização – da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e Polícia Federal – que participaram de ações de prisão e apreensão contra a emissora durante a sua ilegalidade. Agora, esses mesmos agentes contribuem no setor de engenharia do veículo. E não só eles, atrás da Rádio Favela muita gente subiu o morro: pesquisadores, jornalistas e políticos.

Com a repercussão alcançada pelo seu ineditismo, autenticidade e irreverência, a Rádio Favela, ainda na clandestinidade, conquistou prêmios nacionais e internacionais, como honrarias organizadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), foi capa de jornais pelo mundo afora e inspirou a ficção “Uma onda no ar”, do cineasta Helvécio Ratton.

Em 2002, após 26 anos de ilegalidade, a rádio Favela conquistou sua outorga de funcionamento como emissora educativa e passou a se chamar Autêntica Favela FM.  Diante das adversidades enfrentadas, Misael Avelino comemora o aniversário da emissora. “Pelo tanto que os caras [polícia e Estado] me perseguiram por causa de um microfone, chegar no ‘quatro ponto seis’ é muita coisa. Os caras falaram que não ia fazer nem 18 anos”, celebra.

Companheiro de todas as horas

Desde criança, Deisiane Fernandes acompanha os trabalhos do pai, Misael Avelino, na Rádio Favela. Ela lembra que muitas histórias já passaram pelos microfones e telefones da rádio – sempre muito demandados pelos ouvintes. Para ela, o público tem a emissora como uma companhia para todas as horas.

“O rádio para o ouvinte é como se fosse uma pessoa. Às vezes, o vínculo é tão forte que ele [ouvinte] até liga para contar o que estava conversando com o rádio. Aí ele vai falar dos momentos da vida, contar caso etc. O rádio de certa forma é um companheiro do público”, explica Deise, que, entre outras funções, é quem cuida do atendimento aos ouvintes.

Uma nova história para a comunicação popular

Com o recente marco para a democracia no país com a eleição de Lula (PT), Zé Guilherme anseia que em um futuro próximo a Rádio Favela seja uma importante ferramenta nacional de informação e formação do povo.

“O novo tempo em que estamos entrando no Brasil coloca o desafio de como voltar a disputar a comunicação. E acho que a Rádio Favela vai dar uma grande contribuição para isso”, reflete.

O desejo é o mesmo do fundador da emissora, Misael Avelino, que sonha em conquistar a independência financeira da rádio. Sem incentivo dos órgãos públicos, a Autêntica Favela enfrenta dificuldades.

“Para a gente poder ter equipamento, mão de obra, fazer um jornalismo diferente de todo mundo, ter verba para pagar os funcionários. Não ficar mendigando, fazendo isso, fazendo aquilo”, aponta.

Escute a Rádio Favela

Para quem é de Belo Horizonte e da região metropolitana, basta sintonizar no dial 106,7 FM.  Mas se você não é da capital ou prefere se conectar pela internet, pode acessar o site da emissora ou baixar o aplicativo Rádio Favela Autêntica FM para ouvir direto no seu celular. Acesse também a página oficial da Rádio. Clique aqui.

Edição: Larissa Costa

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