São tantas as riquezas da Cordilheira do Espinhaço, a única do país, que desde a semana passada merece série de reportagens de O NORTE, especialmente nos municípios de Grão Mogol e Botumirim, que têm dois parques administrados pelo Instituto Estadual de Florestas. Tesouro reconhecido em 2005 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Reserva da Biosfera.

Por Manoel Freitas*

Flora dos campos rupestres, tesouros da Cordilheira do Espinhaço, Reserva da Biosfera (Manoel Freitas)Reconhecimento que deu novo status de importância socioeconômica para a proteção ambiental e o desenvolvimento turístico não apenas desses municípios, mas de outros 32 nas bacias do São Francisco, Rio Pardo e Jequitinhonha.

Patrimônio que receberá todos os holofotes no período de 25 a 28 de outubro, quando Grão Mogol, distante 148 km de Montes Claros, sedia o 20º Congresso Brasileiro de Ecoturismo e Turismo de Aventura, conhecido no setor por ABETA Summit 2023, o maior do gênero no Brasil. Iniciativa do município e dos demais participantes do projeto Cordilheira do Espinhaço, Bocaiúva, Botumirim, Cristália, Itacambira, Olhos D’Água e Turmalina.

Nessa edição, com material fotográfico colhido na Expedição que percorreu os campos rupestres de Grão Mogol e Botumirim, de 15 a 20 de setembro, o foco é a exuberância de sua flora, em especial a ameaçada. Jornada, como detalharemos em edição futura, que contou com a participação do fotógrafo de vida silvestre e ambientalista Fred Crema e do ornitólogo Eduardo Franco, seguramente o mais renomado guia de observação de vida selvagem de Minas Gerais.

CENTROS MUNDIAIS DE BIODIVERSIDADE
Para falar sobre a importância do cerrado de altitude, O NORTE ouviu na sexta-feira (6) quem fala de cátedra, Rúbia Santos Fonseca, graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), com mestrado e doutorado em Botânica pela Universidade Federal de Viçosa, atualmente professora de Dendrologia da Universidade Federal de Minas Gerais e curadora do Herbário Norte Mineiro.

“Essa vegetação encontrada nas altitudes e sobre o quartzito, é denominada campo rupestre; ela é diferente de tudo do entorno, considerada um dos centros mundiais de biodiversidade, pelo número de espécies e também pela proporção gigantesca de espécies endêmicas”, ressalta a professora, explicando que “isto é, que só ocorrem nesse ambiente e em nenhum outro lugar do planeta”. Observa que tal característica faz com que a conservação do campo rupestre seja urgente, “porque, ao perder mesmo pequenas áreas de vegetação, podemos perder para sempre muitas espécies”.

Segundo a pesquisadora, vários fatores, como um ambiente muito heterogêneo de condições, como locais secos, com solos pobres, ou alagados com solos pobres, porções de turfeiras, fendas de rochas, além da superfície das rochas, associados a interações únicas com microrganismo para a obtenção de nutrientes “proporcionaram toda essa variedade de plantas que vemos pela Cordilheira do Espinhaço, que é singular em cada uma das regiões de suas montanhas”.

Um exemplo, segundo Rúbia, é a espécie Discocactus Horstii, “um cacto belíssimo, já em perigo de extinção, de ocorrência restrita não só ao município de Grão Mogol, mas apenas a uma área de 13 km². Já pensou que um pequeno incêndio pode banir uma espécie do planeta!” Outro exemplo citado por ela é a Drosera graomogolensis, “pelo nome já dá para imaginar a única região onde ela ocorre, que é uma espécie de planta carnívora típica de solos pobres e parcialmente alagados, igualmente ameaçada de extinção”.

Flora em perigo de extinção
O perigo de extinção de várias espécies da flora da Cordilheira do Espinhaço, bem como sua diversidade, foi abordado a pedido de O NORTE pela professora Maria das Dores Magalhães Veloso, graduada em Ciências Biológicas pela Unimontes, pós-doutora pelo Instituto de Ciências Agrárias da UFMG e Pró-reitora de Pesquisa da Unimontes.

“Riqueza florística exuberante, com várias espécies endêmicas, que reclama uma proteção muito grande, posto que a sua vulnerabilidade pode resultar na extinção de espécies não apenas endêmicas, como pouco conhecidas”, explica.

A Pró-reitora chama atenção para “uma bromélia que faz parte do grupo de espécies alvo da Cordilheira do Espinhaço, a Sincoraea humilis, uma erva rupícola com formato de roseta, endêmica do Espinhaço, com distribuição nos municípios de Botumirim, Grão Mogol e Cristália”.

Ensina que “essa joia rara ocorre em campos rupestres com 850 a 1000 m de altitude, em rochas úmidas e secas próximas a margens de rios e lagos, em locais expostos à luminosidade”, a exemplo dos indivíduos que O NORTE pôde registrar no Parque Estadual de Botumirim, no Rio de Peixe, balneário que é seu principal atrativo turístico.

Por outro lado, a pós-doutora alerta: “como suas populações não são facilmente encontradas, são colocadas dentro do grupo de espécie alvo do Projeto Pro Espécies”, ou seja, ocorre em áreas prioritárias para elaborar e implementar ações de conservação que podem beneficiar espécies de invertebrados, aves, peixes, mamíferos, répteis e principalmente a flora Criticamente em Perigo (CR) de extinção.

*Jornalista

Via O Norte

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