Fui educado para ser o melhor em tudo, mais bonitinho, mais inteligente e mais forte do que meus colegas.

Depois passaram a exibir meus dotes artísticos para as visitas, como se eu fosse um bibelozinho. Pediam-me para tocar piano e mal eu iniciava a música era aquele converseiro na sala. Dava vontade de me levantar do banquinho e mandar todo mundo à puta que pariu. Mas eu segurava a barra. Quando terminava, vinham os fingidos aplausos e os falsos elogios. Passei, então, a ser corrompido pelas más companhias, quando eu próprio era o corruptor. Que corruptor qual nada! Corruptos eram os ensinamentos que eu recebia. Depois me formei e era obrigado a ser o melhor profissional do ramo. Meu sucesso era comentado em verso e prosa, como se eu ainda estivesse a tocar aquele maldito piano para as visitas. Convenci-me de que teria de ser o melhor em tudo e comecei a sentir inveja do sucesso de meus colegas. Inveja mesmo, da pior que possamos imaginar. O sucesso deles me incomodava e eu tinha de fazer algo para sempre ficar por cima. Habituei-me, assim, a ser presidente de uma porrada de coisas, um líder. Uma menina cujo pai inaugurara um prédio com seu nome, na hora em que o bispo cortou, com uma imensa tesoura, a faixa verde estendida no saguão, exclamou:

— Grandes bostas!

Daí, fui percebendo – e ainda não percebi tudo – que eu era um líder de merda e que fora educado pra ser babaca. Como está sendo difícil desbabacar-me!

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