– Investidores externos não só não embarcaram na euforia de brasileiros como já retiraram mais de 11 bi da Bovespa desde outubro –

A Bovespa acompanha diariamente o volume das compras e vendas de ações feitas por estrangeiros. Em 2019, o saldo anda positivo (R$ 311 milhões até 26 de fevereiro). Mas, no acumulado desde outubro de 2018, o resultado é uma saída de R$ 11,5 bilhões. Uma dinheirama. A retirada surpreende por ocorrer em momento de forte valorização e quebras de recordes. Nem tudo que sai da Bolsa também sai do Brasil. Mas, ao se desfazer de ações brasileiras em ciclo de alta do mercado, o estrangeiro dá mostra inequívoca de desconfiança em relação à economia do país.

O mercado financeiro disseminou expectativas de que a confiança empresarial subiria e capitais externos viriam em massa com a vitória nas urnas de partidos e políticos de direita ou ultraliberais. Houve, de fato, uma grande euforia na Bolsa nacional, que fechou 2018 com valorização de 18% e já renovou a sua máxima várias vezes neste início de ano. Mas, toda essa movimentação é produzida por investidores nacionais. Os estrangeiros não entraram na onda. Pelo contrário, estão a fugir dela.

Compasso de espera

Segundo o consenso dos analistas de mercado, os estrangeiros aguardam ações concretas do governo para só então acreditar no Brasil ao ponto de arriscar seu dinheiro aqui. Para os mais otimistas, os capitais externos virão em abundância assim que o Congresso aprovar a reforma da previdência, em sinal de compromisso com o ajuste fiscal. Mas, essa avaliação subestima o desgaste da imagem externa do país, que se deteriorou muito a partir de 2014. E continua a piorar, com Bolsonaro e seus tuites.

Mudança de cenário

Não só as confusões internas afastam no momento os investidores externos. O cenário internacional está mudando, e rapidamente, em desfavor de emergentes como o Brasil. Michel Temer governou dois anos, 2017 e 2018, em meio a raro ambiente de bonança internacional. Bolsonaro não terá a mesma sorte. Dos bancos ao FMI, todos estão revendo para baixo as projeções de crescimento para a maior parte do mundo neste ano. Há muitos focos de instabilidade, como o Brexit e a nova bipolaridade entre EUA e China/Rússia. A lista de países em crise ou recessão vai crescer. E tudo isso tende a aumentar a aversão ao risco, levando os donos do capital a serem mais precavidos e rejeitar países que lhes pareçam mais vulneráveis.

 

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