O enredo lembra um pouco a história do caixa virtual do PT com a OAS, ou a planilha italiano, da Odebrecht. Delatores “prometeram” propina, colocaram “à disposição”. Na Lava Jato de Curitiba, o follow the money nunca existiu

Jornal GGN – A grande mídia noticiou na tarde desta quinta (6) o indiciamento de Lula como réu em mais uma ação penal derivada de investigações que começaram na Lava Jato. Sob a batuta do juiz Vallisney de Oliveira, do Distrito Federal, a ação – a 10ª contra Lula – envolve delação premiada de Antonio Palocci e Marcelo Odebrecht. Os jornais e sites de notícias, contudo, são imprecisos quanto à imputação feita ao ex-presidente.

Estadão, que estampou a notícia em seu principal espaço na homepage, escreveu que Lula e Palocci “são acusados de terem acertado o recebimento de R$ 64 milhões”. Neste cenário, a Odebrecht, em troca de uma decisão no âmbito do BNDES, teria “disponibilizado” o dinheiro para campanhas do PT.

Na Folha de S. Paulo, Lula e Palocci “são acusados de terem recebido propina da Odebrecht” em 2010. Porém, o jornal não disponibiliza detalhes da denúncia que possam explicar como o ex-presidente teria recebido essa propina.

Em O Globo, Odebrecht “prometeu R$ 64 milhões a Lula e outros integrantes do PT em 2010 em troca de decisões políticas que beneficiassem a empresa.”

O enredo lembra um pouco a história do caixa virtual do PT com a OAS, ou a planilha italiano, por exemplo. Marcelo Odebrecht narrou que, naquela planilha, constava ao PT e Lula um “crédito” para campanha eleitoral ou despesas pessoais. O “follow the money” referente aos valores indicados como propina pelos delatores da Lava Jato jamais foi feito porque, segundo o ex-juiz Sergio Moro, é muito difícil encontrar rastros de um esquema de corrupção tão bem planejado.

A justificativa manca para a falta de provas nunca foi questionada na grande mídia, mesmo com o histórico de sucesso da Lava Jato em levantar contas pertencentes a diversos ex-executivos da Petrobras.

Paulo Roberto Costa, Pedro Barusco, Renato Duque. Todos foram pegos com milhares de dólares no exterior, com direito a número da conta, nome banco e da offshore e, em alguns casos, até o grau de envolvimento das esposas e outros familiares. Mas até hoje a operação não teve sucesso em demonstrar como e onde o PT teria recebido ou gastado cada propina colocada à sua “disposição”, conforme relatado pelos delatores premiados – estes sim, de fato, com contas em paraísos fiscais.

Além de Lula, Palocci e Marcelo, estão no banco dos réus o ex-ministro Paulo Bernardo e executivos da Odebrecht. As acusações – também não especificadas – contra a deputada Gleisi Hoffmann tramitam em ação separada, pois seu foro é no Supremo Tribunal Federal.

Segundo o que a imprensa narrou até o momento, Lula e Palocci negociaram aumentar o limite da linha de crédito do BNDES para exportações de bens e serviços entre Brasil e Angola a “pedido” de Marcelo. O valor final teria sido de R$ 1 bilhão. Não está claro como a Odebrecht se beneficiou sozinha disso.

Em troca, Marcelo colocou à “disposição” do PT os R$ 64 milhões. Lula e seus ministros teriam cometido o crime de corrupção passivam, e o empresário, o de corrupção ativa.

Lula já foi condenado em Curitiba, por Moro, porque Leo Pinheiro afirmou que colocou à disposição do PT cerca de R$ 16 milhões. O ex-juiz alegou na sentença que era impossível rastrear ou investigar a existência desse “caixa virtual”, e tomou como verdadeira a suposição de que a reforma do triplex no Guarujá teria sido debitada dessa “conta-corrente de propina” – que não é conta de fato.

Se Lula era acusado de receber de fato ou de apenas ter à sua “disposição” uma propina milionária, para Moro tampouco fez diferença, porque a corrupção passiva, para ele, estava alicerçada no simples “concordar” com a oferta. A base dessa ideia? De novo: delação premiada.

A conferir: Moro fez escola?

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