Boca de urna aponta empate técnico entre Netanyahu e Gantz 
Pesquisas indicam igualdade entre a direita e o centro, o que condicionará a governabilidade
Nas eleições mais disputadas de Israel na última década, as pesquisas de boca de urna apontam um empate técnico. Tanto o primeiro-ministro, o conservador Benjamin Netanyahu, quanto seu rival centrista, o ex-general Benny Gantz, obteriam 36 das 120 cadeiras do Parlamento, que ficaria muito fragmentado entre outra dezena de partidos, de acordo com dados do Canal 13 de televisão (privado). Outras emissoras, como o Canal 11 (estatal), atribuíram em suas projeções 37 deputados à aliança Azul e Branco do ex-chefe do Estado-Maior do Exército, e 33 ao atual chefe de Governo. Ambos os candidatos proclamaram a vitória antes da meia-noite, quando os primeiros resultados oficiais ainda não tinham sido divulgados. “Ganhamos. Os cidadãos disseram a última palavra”, proclamou Gantz após a publicação de pesquisas. “Como líder do partido mais votado, reivindico o direito a dirigir a formação de Governo”, anunciou. “O bloco conservador obteve uma vitória clara”, replicou Netanyahu pouco depois, mostrando-se disposto a formar um novo Governo imediatamente.

“Saiam da água e votem em mim”, foi a mensagem lançada pelo primeiro-ministro àqueles que aproveitavam o semiferiado do dia da eleição em uma praia em Netanya, ao norte de Tel Aviv. O líder do Likud continuou incansavelmente sua campanha até o último minuto. “Se vocês querem que o Likud e eu continuemos governando, têm de ir às seções eleitorais antes de vir para a praia”, repreendeu os banhistas “ou amanhã acordarão com um primeiro-ministro de esquerda”.

Com escolas, fábricas e escritórios fechados, muitos israelenses foram para as praias em um dos primeiros dias quentes e ensolarados depois de um inverno anormalmente longo no Oriente Médio. A participação, que às 18h, quatro horas antes do fechamento das seções eleitorais, era de 52% dos 6,3 milhões de eleitores inscritos, foi quase três pontos inferior à das legislativas de 2015, em que a taxa de comparecimento final às urnas ficou perto de 72%.

Netanyahu, de 69 anos, no poder de forma ininterrupta desde 2009, voltou no início da tarde a Jerusalém e reuniu sua equipe de crise eleitoral. Então deu seu habitual tiro de partida à jornada de votação para mobilizar os indecisos da direita. Se em 2015 a voz de alarme foi a mensagem de que os árabes estavam votando “em massa” diante da abstenção dos judeus, desta vez o grito de alerta foi a previsão de uma guinada à esquerda, a favor do principal candidato da oposição .

O ex-chefe do Estado Maior das Forças Armadas, o tenente-general Benny Gantz, de 59 anos, não é o esquerdista que Netanyahu descreveu em suas mensagens de campanha, mas um centrista moderado, partidário de uma negociação com os palestinos que pouco altere o status quo da ocupação e dono de certa consciência econômica e social, diante do neoliberalismo que caracteriza o Likud. Enquanto o primeiro-ministro parece contar, em princípio, com o apoio de mais de 60 deputados para forjar uma coalizão governamental, seu rival centrista não atinge a maioria absoluta.

Num futuro Parlamento fragmentado, com uma dúzia de partidos disputando o poder — a maioria deles com menos de 5% dos votos nacionais — e em que as duas formações majoritárias rondam os 30% dos votos, as combinações possíveis para governar se tornam uma verdadeira cabala. Na terra de tradição mística judaica, esse arcano parece superar todos os institutos de pesquisas, que foram precavidos durante a campanha, com previsões cautelosas.

O bloco de centro-esquerda, agora liderado pela aliança centrista Azul e Branco do ex-general Gantz, agrupa os trabalhistas, uma força que perdeu espaço e deve obter um terço das cadeiras que conquistou em 2015, em uma catástrofe política que deve ser atribuída ao seu último líder, Avi Gabbay. A esquerda pacifista do Meretz, parece ter garantida sua presença no Knesset ao sobreviver, com apenas cinco cadeiras, ao limite da irrelevância.

A oposição sionista de centro-esquerda não aceitará de maneira alguma formar um Governo com os partidos árabes — Haddas-Taal (sete cadeiras) e Balad (que está à beira da exclusão) — que questionam o caráter judaico do Estado, mas pode aceitar seu apoio externo, especialmente depois de terem contribuído para bloquear uma eventual posse de Netanyahu. A taxa de participação nos municípios com maioria de população árabe estava, perto do fechamento das seções eleitorais, em níveis mínimos históricos, de acordo com a imprensa hebraica, depois de ter atingido seu máximo em 2015, com dois terços dos eleitores inscritos.

Na Cisjordânia, o secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Saeb Erekat, disse que as pesquisas mostravam que “os israelenses disseram não à paz e sim à ocupação”, já que “somente 18 dos 120 membros da nova Câmara apoiam a solução dos dois Estados”, isto é, um Estado Palestino independente.

São vários os elementos desestabilizadores que comprometem a formação de Governo depois das eleições. A fragmentação das coalizões possíveis indica que as exigências dos partidos minoritários se tornarão despropositadas, tanto em ministérios quanto em orçamentos, muito acima de sua representação real. A alternativa, da qual ninguém quer falar por enquanto em Israel, é uma grande coalizão segundo o modelo alemão entre Netanyahu e Gantz.

O bloco conservador, liderado pelo Likud de Netanyahu, reúne meia dúzia de partidos de extrema direita, nacionalistas religiosos, colonos defensores intransigentes da ocupação e piedosos ultraortodoxos. A previsão de chantagem política contínua é particularmente credível no campo da direita, no qual os partidos ultraortodoxos — União pela Torá e o Judaísmo (judeu asquenaze, sete cadeiras) e Shas (sefardita ou oriental, sete deputados) — costumam sugar recursos para suas instituições religiosas e centros educacionais. O partido Israel, Nossa Casa também beirava a exclusão. Liderado pelo ex-ministro da Defesa e das Relações Exteriores Avigdor Lieberman, defende somente os interesses da comunidade de origem russa — laica, mas ultraconservadora. Por sua vez, a União de Partidos de Direita (cinco cadeiras), na qual prevalecem os colonos religiosos da Cisjordânia, incorporou o partido Força Judaica, herdeiro do partido racista Kach, proscrito há três décadas e caracterizado pela violência contra os palestinos defendida por seu chefe de fileiras, o rabino Meir Kahane.

O partido Nova Direita — codirigido pelo ministro da Educação Naftali Bennett, e pelo titular da Justiça, Ayelet Shaked, ambos ex-dirigentes do Likud — entrará sem reservas na coalizão governamental se superar o limite de 3,25% dos votos. Este não é o caso dos centristas moderados e reformistas do Kulanu (quatro cadeiras), cujo líder, o ministro das Finanças, Moshe Kahlon, pode oscilar entre o bloco conservador e o de centro-esquerda, dependendo das contrapartidas que obtiver em troca de seu apoio.

Kahlon, também procedente do Likud, se inclinará previsivelmente a repetir sua aliança atual com Netanyahu. A grande incógnita era a do líder do Zehut, Moshe Feiglin, que finalmente foi expulso da corrida por não ter superado o limite mínimo. O dirigente do Zehut aderiu posteriormente a um ultraliberalismo próximo da supressão do Estado. Além da descriminalização do consumo de maconha, durante a campanha havia exigido o ministério das Finanças como condição sine qua non para apoiar a coalizão governamental, o que pode ser decisivo para a formação do Governo. Metade da população admite ter fumado derivados de cannabis ao menos uma vez na vida, apesar de ser proibido e penalizado.

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