– DITADURA MILITAR – 55 anos depois –

 Ex-jogadores, ídolos, jornalistas e historiadores relembram como os anos de chumbo influenciaram o principal esporte de Minas Gerais entre 1964 e 1985

Há exatos 55 anos, em 31 de março de 1964, o Brasil começou a viver sob o regime militar com o general Castelo Branco assumindo o comando depois da deposição de João Goulart. Foi um período de forte repressão e limitação de liberdades que durou até 1985, com a eleição indireta de Tancredo Neves à presidência da República. Nesse cenário, o futebol nacional se tornou uma das plataformas utilizadas como propaganda da ditadura. Em Minas Gerais, não foi diferente. De forma direta ou indireta, envolveram-se e foram envolvidos nesse ambiente grandes ídolos, clubes, Federação Mineira de Futebol (FMF) e o próprio Mineirão.

“A criação da Loteria Esportiva, em 1970, do Campeonato Brasileiro, em 1971, e a nomeação do Marechal Heleno Nunes para a presidência da Confederação Brasileira de Desportos (CBD, antiga CBF), em 1975, são fatos que demonstram que o futebol se tornou um campo de distensão do poder dos militares”, relata o professor Euclides Couto, pós-doutor em história pela Universitat Ramon Llull, de Barcelona.

Segundo o pesquisador, a primeira vez em que a ditadura se fez perceber no futebol de Minas Gerais foi na nomeação do coronel José Guilherme Ferreira, em 1966, para a presidência da FMF. O mandatário recém-empossado era chefe do Gabinete Militar e braço direito do então governador Magalhães Pinto, homem-forte do regime no estado e que até hoje dá nome ao Mineirão.

Reinaldo e a resistência

Reinaldo durante comemoração pelo Atlético com punho cerrado (Foto: Arquivo EM)
O punho cerrado erguido a cada comemoração de gol fazia explodir em alegria milhares de torcedores do Atlético no Mineirão durante os anos 1970 e 1980. Ídolo maior do clube, Reinaldo não era apenas a referência de uma geração. Por meio de um gesto aparentemente simples, o ex-jogador sintetizava a resistência ao golpe militar. “Meu gesto era um alento aos socialistas, um sinal de apoio e unidade perante uma causa”, explicou, em trecho publicado na biografia Punho Cerrado.

O ano de 1978 foi marcante para Reinaldo. As grandes atuações no Atlético o garantiram na lista de convocados pelo capitão do Exército e técnico da Seleção Brasileira, Cláudio Coutinho, para a Copa do Mundo na Argentina. O ativismo político, entretanto, incomodava o poder.

Ainda no Brasil, o jogador relata no livro um encontro com Ernesto Geisel, no qual recebeu um recado bem claro: “O general, com sua farda verde-oliva, disse que eu jogava muito bem, mas que eu não deveria falar de política porque disso eles cuidavam. Tudo isso em um tom imperativo e firme”.

As advertências seguiram quando André Richer, chefe da delegação, pediu o fim da comemoração com o punho cerrado, conta Reinaldo. A tentativa de inibi-lo não funcionou. Na Argentina – que também vivia em regime ditatorial –, o atacante marcou, como de praxe, e não hesitou ao erguer o punho. Nos jogos seguintes, amargou o banco de reservas.

Daí em diante, as perseguições – seja na Seleção, seja por parte da CBD nas campanhas de vice-campeonato brasileiro do Atlético, em 1977 e 1980 – continuaram. De “revolucionário”, Reinaldo passou a ser associado às drogas e ao alcoolismo. A amizade com o radialista Tutti Maravilha, assumidamente homossexual, ainda repercutiu negativamente numa sociedade homofóbica.

“Transar com o Tutti, minha gente, seria o mesmo que cometer um incesto. Se saio à noite com mulheres, sou boêmio. Se não saio, sou viado. O que fazer?”, ironizou o ex-jogador, em entrevista à Revista Placar, em 1981. Em 1982, Reinaldo ficou fora da Copa do Mundo da Espanha após atritos com o técnico Telê Santana.

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