Há 70 anos, Bocaiuva, uma cidadezinha de umas poucas centenas de casas tornou-se o centro das atenções do meio científico mundial, como também da imprensa internacional.

*Por José Henrique (Juca) Brandão
Naquela época, assim como em todas pequenas cidades do interior mineiro, o tempo escorria mansamente e a vida de seu povo ia se consumindo entre súplica, orações e poucas esperanças.
Desde dezembro de 1946, quando foi anunciado que o eclipse teria o seu ponto de maior visibilidade em Bocaiuva, a cidade transformou-se completamente.
Com a construção do aeródromo pelos militares americanos – gostosamente chamado – “Buki Uki” – dezenas de aviões DC3 começaram a chegar diariamente, trazendo homens, material e veículos. O caminhão de dez rodas provocou “frisson” na meninada, nos rapazes e nos adultos, também. Barracas, acampamento, campos de esporte, cozinha, salão de diversões, tudo foi rapidamente construído. E até uma estrada de rodagem com vinte quatro quilômetros de extensão foi aberta no meio do mato, indo-se terminar aonde seria o ponto central do eclipse, a localidade de Extrema.
Depois foi chegando uma legião de cientistas e seus complicados aparelhos. Câmeras fotográficas gigantes, telescópios, termômetros suspensos, pireliômetros, câmera astrográfica, filtros polaróides, espetógrafos, registradores automáticos, células fotoelétricas, e centenas de aparelhos estranhos e misteriosos. Trinta e seis toneladas de equipamentos. Tudo isso ficou fazendo parte de um complexo científico e instalado na localidade de Extrema, onde também foi erguido um pequeno campo de pouso. Aproveitou-se uma várzea, tão comum naquela região e ao sudeste do município de Bocaiuva.
Os cientistas e observadores desciam no aeródromo de Bocaiuva, e eram transportados para lá o pequenino campo de Extrema, nos chamados teco-tecos, pequeninos aviões. Outros iam de jeeps que, àquela época percorriam durante os dias, as ruas estreitas e poeirentas da cidadezinha.
Esses pequenos veículos eram frequentemente estacionados ao lado do histórico Bar Vitória e em frente ao “Cabaret” de “Madame Rolla”, dona do único bordel da cidade. Este prostíbulo famoso ficava na antiga Rua Sete de Setembro, quase esquina com a atual José Brandão Filho. A “Madame”, para atender à demanda, com a extraordinária procura pelo sexo, mandou buscar lindas prostitutas de Montes Claros, Vitória da Conquista e Feira de Santana.
A sua duração foi de exatamente 03h48min minutos e, terminado o fenômeno produzido pelo encobrimento do disco solar pela lua, houve uma grande euforia por parte da comunidade científico presente. Depois dele, aguardava-se a confirmação da Teoria da Relatividade, defendida pelo sábio Alberto Einstein. E ela foi comprovada no mês de agosto daquele mesmo ano.

O Dr. George Van Biesbroeck, considerado sábio, era um belga naturalizado americano. Foi ele quem chefiou a missão científica em Bocaiuva, por ocasião do Eclipse Total do Sol, na qual participava o cientista Lipmam Briggs, o pai do projeto Manhattan Projeto e que deu origem a Bomba Atômica. É descabida e falsa, a informação de certos desavisados, que Einsten teria vindo à cidade de Bocaiuva, no sentido de se observar e estudar o ansiado e aguardado acontecimento provocado pela natureza. Até por que, ele estava enfermo à época. A missão principal de seu assistente, Dr. Biesbroeck teria de comprovar a Teoria da Relatividade, defendida pelo gênio Einstein.

A teoria sustenta que os raios de luz das estrelas distantes, somente visíveis nos rápidos instantes do eclipse do sol, curvam-se ligeiramente a um ângulo muito pequeno, uma fração mínima de segundo de arco, ou uma fração mínima de um grau de uma circunferência. A curvatura das estrelas, conforme já se sabia, é causada pela ação gravitacional do sol, que desvia os raios do caminho reto, enquanto eles passam na medida atual.
No instante exato do eclipse, Dr. Van Biesbroeck, usando um grande telescópio de 20 pés, fotografou certas estrelas e mediu a curvatura de suas luzes ao passar perto do sol. Três meses depois, ou seja, em agosto do ano de 1947, ele voltou ao Brasil, veio até Bocaiuva – Extrema – e com o mesmo instrumento fotografou as estrelas na posição em que elas foram localizadas no dia do eclipse. O resultado do exame dessas fotografias acabou provando o que predisse Einstein, trazendo novas evidências em favor da Teoria da Relatividade. Embora a relatividade não aja no dia-a-dia, é importante conhecer o átomo e o universo, sublinhou o Dr. Harold F. Weaver, do National Geographic Society.
Um avião B-17, da Força Aérea Americana, especialmente equipado, tirou uma série de fotografias do eclipse em uma altitude de 9.000 metros e fotografou também a sombra da lua à medida que essa sombra atravessava velozmente a superfície da terra com a velocidade superior a 3.200 quilômetros por hora.
Assim então, foi neste pedaço do sertão norte-mineiro, que os americanos, europeus e demais povos civilizados aprenderam a conhecer a imensidão existente ao redor do sol e em volta da lua. Foi nesta terra, neste pedaço de vida, que os maiores astrônomos da humanidade de então, puderam colher subsídios científicos e técnicos, dando condições para outras e futuras pesquisas, desnudando os insondáveis enigmas do cosmo, até então uma caixinha de segredos. Até a recente descoberta de que há água em Marte, vegetação em Vênus, outras galáxias e outros planetas, alguns semelhante à terra.
Alguns estudiosos e pesquisadores dizem que, não fora o eclipse de Bocaiuva, a Força Área Americana não tinha evoluído o seu arsenal bélico e a NASA jamais teria colocado um ser humano em órbita e o levado até à lua.
O fato é que hoje, 20 de maio de 2017, se completam 70 anos, a ciência avançou enormemente e não mais se observou no país, com tanta ansiedade e expectativa, a mais “dramática e formidável exibição da natureza, o Eclipse Total do Sol”.

Fontes pesquisadas: Revista O Cruzeiro de junho de 1947, Revista Perfil do Norte de Minas, junho de 1997, revista National Geographic de agosto de 2001 e entrevistas com pessoas da época da ocorrência do Eclipse Total do Sol.

*Advogado, escritor e jornalista

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