A ex-esposa de Jair Bolsonaro, Ana Cristina Siqueira Valle [fotografo]Reprodução[/fotografo]
O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) apontou que uma empresa aberta em 2007 pela ex-mulher de Jair Bolsonaro, Ana Cristina Siqueira Valle, registrou 1.185 saques que juntos somam o valor total de R$ 1,15 milhão em espécie no período de 2008 a 2014.
Segundo reportagem publicada pelo jornal O Globo, a Valle Ana Consultoria e Serviços de Seguros registrou o maior número de saques depois de seu primeiro ano de funcionamento, em 2008, quando R$ 274 mil foram sacados em 215 operações. No ano seguinte, foram 168 saques totalizando R$ 194,2 mil. Até 2011, houve mais 350 saques, em um total de cerca de R$ 352 mil retirados da conta da empresa em dinheiro vivo.
O MPRJ considera as movimentações atípicas e afirma haver indícios de que empresas vinculadas a Ana Cristina “possam ter sido utilizadas para ocultação de desvio de recursos públicos oriundos do esquema de ‘rachadinha’ na Câmara de Vereadores”.
Ana Cristina teve a quebra de seu sigilo bancário autorizada pela Justiça no âmbito das investigações que apuram a prática de rachadinha no gabinete de seu filho Carlos Bolsonaro, hoje vereador do Rio de Janeiro.
Depoimentos de funcionários de Carlos Bolsonaro foram previamente combinados, diz MP
O militar reformado Edir Barbosa Góes, a esposa dele, Neula Carvalho Góes, e os dois filhos (Rafael e Rodrigo Góes) foram chamados para explicar quais atividades exerceram durante quase 20 anos no gabinete do filho “02”do presidente da República Jair Bolsonaro. Os promotores identificaram contradições nos depoimentos, que estavam marcados para o dia 31 de outubro daquele ano e foram remarcados para a semana seguinte depois que a defesa da família solicitou o adiamento, afirmando precisar de mais tempo para analisar os autos da investigação.
No dia 30, a família compareceu ao gabinete na Câmara Municipal, onde permaneceram por cerca de 3 horas. Na época, somente Edir Barbosa constava como assessor parlamentar. Segundo Rafael, o pai dele entrou no gabinete, onde foi orientado por Jorge Fernandes, chefe do gabinete.
Os procuradores afirmaram que a narrativa “carece de verossimilhança, na medida em que não haveria necessidade de comparecimento pessoal de quatro integrantes da família Góes à Câmara Municipal, nem de sua permanência no local por mais de três horas, apenas para receber a orientação de comparecimento ao MPRJ”.
Outro ponto que chamou a atenção dos investigadores foi o fato de Rodrigo de Carvalho Góes trabalhar simultaneamente em duas farmácias enquanto era funcionário de Carlos Bolsonaro. O MP pontuou que não haveria “disponibilidade de horário” para Rodrigo desempenhar as três funções, o que foi apontando como um indício de provável funcionário fantasma.
As ex-funcionárias Leila Carvalho Lino, cunhada de Edir, e Nadir Barbosa Góes, irmã de Edir, também são investigadas.
No depoimento que prestou ao MP, Leila afirmou que trabalhava com a distribuição de panfletos, ainda que tenha dito à revista Veja em 2019 que raramente ia à Câmara e não saberia detalhar suas funções.
Já Nadir, moradora de Magé, na Baixada Fluminense, disse aos promotores que fazia parte de um núcleo externo do gabinete, ainda que morando a quase 100 quilômetro de distância. Nadir ficou cerca de uma década no cargo, até completar 70 anos, e pegaria semanalmente ônibus, van e trem, segundo o depoimento de Neula Carvalho Góes, para distribuir panfletos, em um trajeto que podia chegar a três horas de duração. De acordo com os depoimentos, Nadir dormia em um colchonete na sala de estar da casa de Edir, que tinha apenas dois quartos — um ocupado pelo casal, e outro por Rafael e Rodrigo.
“Claramente, não parece verossímil que uma senhora sexagenária fizesse semanalmente um percurso superior a três horas até Santa Cruz, para pernoitar durante uma semana em um colchonete, a fim de acompanhar seu irmão, cunhada e seus sobrinhos na distribuição de panfletos”, afirma o MP.