Trinta por cento dos alunos da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), notadamente os mais pobres, não têm acesso ao ensino remoto em tempos de pandemia do Covid-19, mesmo com a disponibilização de 1200 bolsas de internet no valor de R$ 80 cada.
Isso porque o tempo de contrato feito pelas operadoras é incompatível com a necessidade dos cursos e não cabe no bolso de grande parte dos estudantes. Há ainda o fato de que em algumas localidades da região não há acesso de qualidade à internet.
Essa é uma das preocupações da Associação dos Docentes da Unimontes (Adunimontes), que detectou essa dificuldade entre a parcela dos estudantes de menor renda. A própria universidade já admitiu sua incapacidade de atender a todos.
Lidar com esse momento é apenas um dos problemas enfrentados no processo didático da instituição durante o período de pandemia. Os professores tiveram que se adaptar, investindo do próprio bolso e se estruturando para poder dar as aulas. Muitos foram obrigados a se capacitar nas novas tecnologias, comprar computadores e adquirir novos planos de internet.
Não houve, de acordo com a categoria, investimento da Unimontes para propiciar ensino remoto de qualidade. Segundo a diretoria da Adunimontes, não há, por exemplo, uma plataforma fixa para que os professores repassem ministrem as aulas. A entidade defende que a universidade teria que oferecer formas de o professor trabalhar, ao invés dele próprio ter que “correr atrás”.
A situação tem incomodado e angustiado a categoria. “Nossa maior angústia é o fato do ensino remoto excluir boa parte dos estudantes, não substituir o ensino presencial e não haver plano concreto nenhum pelo governo de estado para uma volta segura ao presencial”, disse a presidente da entidade, professora Ana Paula Thé. “Não sabemos o orçamento que será disponibilizado e nem se haverá teste, o que é de fundamental importância”, completou.
O professor Rômulo Barbosa, que tomará posse no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepex) nesta semana, entende que, ao se submeter às decisões do governo do Estado, a Unimontes está perdendo sua autonomia como universidade. Ele disse que cobrará uma posição do Conselho em relação a essa situação.
Para Barbosa, a deficiência no ensino remoto, que conta quase que exclusivamente com o esforço e compromisso dos professores, é um exemplo de como a universidade está submissa ao governo. “O resultado é que estamos sem condições de fazer bem feito e o aluno está ficando para trás”, protestou.
A professora Dedora Amaral avalia que não houve nenhum planejamento para o ensino remoto. “Está sendo um salve-se quem puder”, criticou, acrescentando que os professores aceitaram compulsoriamente levar a cabo esse processo usando ferramentas de qualquer forma, por omissão da instituição.
Para Ana Thé, a postura da categoria vem do fato de que muitos colegas temem perder seus contratos caso se rebelem contra essa situação. Ela informou que a entidade foi bombardeada ao se colocar contrária à forma como seria praticado o ensino remoto. O problema, segundo ela, é que hoje a carreira está contaminada por penduricalhos, que tornam os profissionais vulneráveis ás decisões do governo, por mais maléficas que possam ser.
Ela citou a Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) como exemplo de instituição que soube lidar melhor com o advento do ensino remoto, adotando critérios para se adaptar ao momento de pandemia. Segundo a dirigente, foram feitas, por exemplo, opções de plataformas mais adequadas de acesso ao ensino dos alunos com dificuldades financeiras.