O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo Nascimento, o “capetão” do mato,  vai se desfazer de exemplar raro de obra de Câmara Cascudo

Incrédulos, temos presenciado várias agressões ao movimento negro por parte do atual presidente da Fundação Palmares. Depois de excluir lideranças negras da lista de personalidades da fundação, caso da ex-senadora e ex-ministra Marina Silva, da cantora Preta Gil, da deputada federal Benedita da Silva e de dizer que a escravidão no Brasil beneficiou os descendentes de escravos, o presidente da Fundação Palmares vai se desfazer de exemplar raro de obra de Câmara Cascudo e mais 5 mil livros do acervo.

.Quem consultar o clássico ‘”Dicionário do Folclore Brasileiro’ terá em mãos um livro não só gramatical e ortograficamente desatualizado, mas com páginas soltas e exibindo um forte cheiro de mofo”. O trecho, que se refere a uma obra clássica do historiador natalense Câmara Cascudo, foi extraído de relatório divulgado pela Fundação Palmares no último dia  11 deste mês de junho.

No documento, a instituição lista as razões para retirada de pelo menos 5.300 livros do acervo por serem considerados, pela comissão analisadora, de caráter alheio ao escopo do órgão, apresentarem ideologia marxista ou estarem velhos e em desacordo ortográfico de 2009.

Dos 9.565 títulos disponíveis na Fundação, apenas 5% foram considerados adequados para serem mantidos na instituição, o equivalente a 475 obras. De acordo com a comissão, somente estes livros teriam “cunho pedagógico, educacional e cultural dentro da missão institucional”.

Os livros foram divididos em duas nas categorias de “temática negra” (46%, representando 4.400 mil títulos) e “temática alheia à negra” (54%, o equivalente a 5.165 livros).

Nos que pertencem a temática negra, 28% (2678 títulos) foram considerados “de militância política explícita ou divulgação marxista, usando a temática negra como pretexto”. Outros 13 % (1244 títulos) são, de acordo com o relatório, “catálogos, panfletos e folhetos, mesclando material de militância com informativos e descritivos de eventos e exposições”.

Dentre os 54% supostamente alheios à missão da Fundação Palmares, estão reunidas obras que, de acordo com o documento, 8% trazem “temática claramente marxista” ( 765 títulos); 20% de “temática geral com viés marxista” (1.913 livros); e 26% considerados de “temática geral” (2.487 volumes).


Relatório da Fundação Palmares indica a retirada de mais de 5 mil exemplares do acervo por teor “marxista” das obras ou fuga a temática negra. Imagem: Divulgação.
“O Dicionário do Folclore Brasileiro” foi publicada originalmente em 1954 e é a obra mais conhecida de Câmara Cascudo, já tendo sido reeditada 12 vezes. Apesar do título, o livro não se encaixa no formato de um dicionário informal e aborda o folclore como um tema em constante movimento e que deve ser investigado por especialistas.

O exemplar da obra de Cascudo é citado logo após o anúncio de retirada de exemplares de Machado de Assis, removidos do acervo sob acusação de prestar “desserviço” aos estudantes que possam consulta-lo, já que apresenta Português desatualizado.

“Hoje, quem desejar ler na Palmares, por exemplo, “Papéis Avulsos”, de Machado de Assis, encontrará uma edição de 1938, a qual prestará um desserviço ao estudante brasileiro, pois ele aprenderá a escrever “chronica” em vez de crônica; “Hespanha” em vez de “Espanha”; e “annos” em vez de “anos”. É um exemplar que só pode ser utilizado por linguistas ou estudiosos machadianos, mas não pelo público em geral”, indica o relatório.

O documento tem 74 páginas e foi elaborado pela equipe de Marco Frenette, nomeado por Camargo em março deste ano para o cargo de coordenador-chefe do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra.

Frenette é ex-assessor de Roberto Alvim, demitido do cargo de secretário da Cultura, em 2020, por apologia ao nazismo.

A Fundação Palmares foi criada em 1988 e tem como função promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira.

Confira o relatório na íntegra aqui.

O Brasil não tem mais a escravidão negra nem capitães do mato. Mas sempre haverá pessoas que agem de maneira triste, como o atual presidente da Fundação Palmares que é contra as políticas de cotas para os negros, e contra o Dia da Consciência Negra. Ele já chamou Zumbi de “falso herói” – este Zumbi que dá nome à fundação que ele preside. No Brasil Colonial, tínhamos o capitão do mato, que caçava os escravos fugitivos. O capitão do mato era muitas vezes um negro como aqueles a quem caçava.

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