Joaquim Álvaro Pereira Leite deve “dar continuidade ao trabalho de Salles”, segundo geógrafo da USP

Nomeado  como novo ministro do Meio Ambiente, o administrador de empresas Joaquim Álvaro Pereira Leite deve manter o legado de seu antecessor, Ricardo Salles, atuando pela continuidade dos interesses do agronegócio. É o que avalia o professor do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (USP), Wagner Ribeiro, em sua coluna na Rádio Brasil Atual.

Até então secretário da Amazônia e Serviços Ambientais, Pereira é próximo de Salles e já ocupou a diretoria do Departamento Florestal da pasta no governo de Jair Bolsonaro. Antes de ser alçado à Esplanada, o agora ministro também foi conselheiro por 23 anos da Sociedade Rural Brasileira.

Ligada à defesa dos interesses do agronegócio no país, a entidade também é autora da nota de apoio a Salles, emitida em abril de 2020, quando veio a público a declaração do ex-ministro sugerindo que o presidente da República aproveitasse do foco na pandemia de covid-19 para “ir passando a boiada” na área ambiental. Era uma referência a alterações nas regras de licenciamento para exploração econômica e para o desmonte do amparo legal à preservação de biomas.

O nome do novo ministro do Meio Ambiente também está envolvido em um processo de disputa por uma pedaço da Terra Indígena Jaraguá, em São Paulo, local onde vivem 534 indígenas dos povos Guarani Mbya e Ñandeva.

Legado de destruição
De acordo com reportagem da BBC News Brasil, Pereira integra uma família tradicional de fazendeiros de café que desde 1986 ameaça o território pertencente aos povos tradicionais. Um documento da Fundação Nacional do Índio (Funai) mostra que a família tentou impedir o processo de demarcação. E, com a negativa do órgão, passou a ameaçar os indígenas. A serviço dos Pereira Leite, capatazes chegaram a destruir a casa de uma família indígena da TI.

Por conta dessa trajetória, a avaliação do geógrafo da USP é que o novo ministro do Meio Ambiente “deva manter o legado triste que o ministro Salles deixou”. De acordo com dados do relatório do MapBiomas Alerta, reportados pela RBA, apenas em 2020 o desmatamento no Brasil cresceu 13,6%. Ao todo, 13.853 quilômetros foram devastados, uma área nove vezes maior do que a cidade de São Paulo. O que equivale ainda a 24 árvores por segundo sendo derrubadas. Além disso, todos os seis biomas do país registraram aumento de alertas de desmatamento.

“O Pantanal passou por um processo de desmatamento jamais visto, os números da Amazônia todo mês quebraram recordes. Foram mais de 300 regulamentações alterando a estrutura do Ministério do Meio Ambiente”, aponta Ribeiro ao jornalista Glauco Faria.

Seguido pelo sucessor
Segundo o professor, o Brasil “vai demorar muito para reconstruir tudo o que Salles conseguiu destruir nesses dois anos e meio”. O mais grave ainda, segundo ele, é a perda da biodiversidade e da sociodiversidade, irreparáveis. “Instituições se recuperam. O problema é a biodiversidade que perdemos, isso não tem jeito ou volta. Nós queimamos a mata, perdemos informações genéticas e emitimos gases do efeito estufa”, contesta.

“E seu sucessor, ao que tudo indica, vem na mesma diretriz. Já que ele (Pereira) também tinha uma função de confiança durante o mandato do ex-ministro Salles”, completa Ribeiro. De acordo com o geógrafo da USP, a escolha do novo ministro do Meio Ambiente marca ainda um momento emblemático do país. Uma troca de comando no mesmo dia em que os povos tradicionais sofreram uma derrota com a aprovação na Comissão de Constituição e de Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara do Projeto de Lei (PL) 490/2007. Uma medida que pode inviabilizar a demarcação de terras indígenas e destruir direitos dos povos originários, conforme aponta.

Via RBA

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